Hoje, no PÚBLICO, Catarina Martins (Presidente da direcção da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas) e Graça Passos (Presidente da direcção da REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea), tornam pública a indignação da “classe” face à desinformação que, a propósito do financiamento das Artes do Espectáculo, se tem feito.
Dizem coisas importantes. Coisas que, por serem óbvias, parece que são facilmente esquecidas ou manipuladas:
O Estado português financia a cultura e a criação artística, não sujeitando às leis de mercado o direito à fruição de bens culturais dos cidadãos. Como também não sujeita o direito à saúde, à justiça ou à educação e a necessidade de defesa do Estado. É uma opção política. Para financiar a cultura o Estado cria e sustenta museus, teatros, bibliotecas, etc., e lança concursos para apoio financeiro a entidades profissionais no domínio das artes do espectáculo. Este apoio tem particular importância pela própria natureza destas disciplinas artísticas. O público só tem acesso às artes do espectáculo através das apresentações ao vivo, falemos de património ou de criação contemporânea. Não é possível ir a um museu ver o património do teatro ou ler num livro o património da dança.
E terminam com um “desafio” à Ministra da Cultura:
É urgente uma avaliação cuidada de todo o processo para melhorar a legislação e criar estabilidade num sector que está no limite da sobrevivência há demasiados anos. O diálogo com a comunidade artística, a criação de uma política cultural integrada, que não se reduza apenas à atribuição de apoios financeiros, mas que passe pela implementação de medidas estruturantes, fomentando o interesse e a sensibilização da sociedade para as questões da arte e da criação contemporâneas, são os grandes desafios para o mandato da ministra Isabel Pires de Lima.
Vale a pena ler na íntegra. Em papel, ou, para quem alinhou com o esquema de subscrições do PÚBLICO on-line, aqui.
3 comentários a “O financiamento às Artes do Espectáculo”
e é um assunto urgente.
o sector da cultura está em ruptura total
não há dinheiro para a realização de espectáculos e companhias com subsídios bianuais estão com os pagamentos em atraso.
há dezenas de actores sem trabalho e muitos a trabalhar sem receber
um abraço
João
Quando o Guterres ganhou as eleições em 95 e o Mário Barradas foi director do IPAE, eu estive em duas reuniões que discutiram os financiamentos às artes do espectáculo. Ouvi as coisas mais estranhas que se pode imaginar (e.g. estou a lembrar-me de uma intervenção do João Lourenço acerca da “descentralização”) e ficou tudo na mesma.
Não fiquei com ideia de que os artistas pensassem para além de si próprios. Para te falar sinceramente, estou cansado de pensares (hiper)corporativos que se afirmam sem uma ponta de senso.
Não sei como lhe dizer, mas tu saberás com certeza: quando a Catarina diz que devem ser implementadas medidas estruturantes, tem dizer como. Em tempos, houve até uma discussão nacional sobre este assunto, com pareceres enviados ao IPAE, mas os resultados foram nulos. E a culpa não é só das estruturas governamentais. É da mentalidade dos artistas que só não se comem uns aos outros porque… talvez por causa das tíbias (que não passam na garganta).