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Recebi por e-mail, e com boas intenções da parte do emissor, uma mensagem que, de forward em forward— e aproveito para reforçar delicadamente a importância de se protegerem os endereços dos destinatários num simples BCC quando nos dirigimos a uma vasta audiência—, já deve ter corrido muitas caixas de correio.

Desta vez tratava-se de uma mensagem sobre um “escandaloso” caso de favorecimento no Gabinete de Imprensa do Ministério da Justiça, passado em 2005.
Não vale a pena repetir o conteúdo por razões que perceberão, mas, para quem não recebeu ainda, trata-se de um anúncio, publicado em Outubro de 2005 em Diário da República, acerca da nomeação para funções de “assessoria na manutenção dos conteúdos da página oficial do Ministério da Justiça” de uma licenciada de seu nome Susana Isabel Costa Dutra, cuja remuneração mensal ascenderia aos 3.254€. Acrescenta-se na mensagem, além de umas considerações algo ofensivas para profissionais como eu acerca da natureza das funções— “trata-se de actualizar conteúdos, um trabalho que provavelmente muitos dos v/filhos fazem lá na escola ou em casa «com uma perna às costas»”— o pormenor “verdadeiramente escandaloso” de que Susana Dutra seria, de facto, filha do Ministro Alberto Costa!

Não me lembro se já teria recebido ou não, sinceramente, mas o conteúdo da mensagem, de facto, é chocante e, para mim, que desempenho funções similares às da nomeada em mais do que uma instituição, sem com isso me aproximar de uma fracção dos rendimentos dela, é ainda mais chocante. Tão mais chocante que precisei de saber mais e presumi que seria fácil, já que a nomeação data de 2005.
Soube 2 coisas, que pode ser que interessem a todos aqueles que tenham recebido esta mesma mensagem:

  1. Susana Dutra ainda trabalha no Gabinete de Imprensa do Ministério da Justiça como se pode ver no Portal da Justiça
  2. aparentemente, se decidirmos acreditar numa Nota de Imprensa do Ministério da Justiça , a que fui ter por sugestão dum post encontrado num blog a que acedi depois de “googlar” pelo nome da assessora, a referida Susana Isabel Costa Dutra não tem qualquer relação de parentesco com o ministro Alberto Costa, pelo que a publicação e circulação desta informação em e-mails e blogs teria como único objectivo “sujar” a imagem do ministro

Nenhum destes dados diminui o carácter “obsceno” da remuneração desta assessora, mas ao clarificar as intenções de quem iniciou a divulgação da informação, percebemos melhor, mais uma vez, como a Internet pode ser “perigosa”, se não formos críticos na forma como recebemos, interpretamos e fazemos circular a informação.
Cada vez mais se torna óbvio para mim, que há muito trabalho a fazer na educação para a cidadania no contexto dos novos meios de comunicação, para que nos possamos armar com “filtros” melhores, equiparáveis, pelo menos, àqueles que usamos quando manipulamos informação escrita. A facilidade com que se propaga informação com um simples clique de “forward” ou com um “copy-paste” para um blog, devia-nos obrigar a estar mais atentos, mas vivemos em tempos muito acelerados.

Dito isto, se conhecerem algum Ministro que precise dum assessor para a gestão de conteúdos dum site, saibam que eu já tenho uns anos de experiência… no trabalho, porque para gastar aquela pipa de massa por mês acho que precisaria de ajuda. 😉

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