Eu não sou propriamente agarrado a uma qualquer ideia de “raízes” e tenho até dificuldade— devido a uma certa inveja, talvez— em perceber as pessoas que são muito ligadas ao sítio onde nasceram ou do qual se sentem parte por uma razão ou por outra.
As circunstâncias de ter nascido numa altura em que os meus pais ainda não tinham “assentado” e de, nos primeiros 4 anos de vida, ter vivido em várias cidades e vários países, talvez seja responsável pela ideia que tenho de que o período mais longo e, teoricamente, mais formativo passado em Aveiro, entre os 5 e os 18 anos, não terá sido (estranhamente) suficiente para me sentir confortável com a ideia de “ser” desta cidade. O período posteriormente passado no Porto, apesar de mais curto e eventualmente menos significativo na formação da minha personalidade contribuiu também para esse sentimento de “desenraizado”, que sempre vi como uma coisa positiva. Mas a mudança regular de escola (as obrigatórias), associadas à mudança regular de grupos de colegas de turma (que não é tão comum assim, na minha geração) talvez seja responsável por uma parte muito significativa deste sentimento: um certo desprendimento em relação à ideia de ter “amigos de e para sempre” desprende-me de sentimentos de pertença social que, para quem sente as suas raízes, são tão ou mais importantes do que os sentimentos de pertença geográfica.
E foi no Porto, aliás, que encontrei mais pessoas que sentiam as suas raízes como algo de “fundamental”, umas por serem e se alimentarem do Porto, outras por sentirem o peso que esta cidade exerce e, assim reagirem pela afirmação de “raízes” que talvez nem sentissem, não fosse o caso de estarem na “inbicta“.
Estas sensações e reflexões, articuladas desta forma, devem-se, em grande parte, aos processos de criação de vários espectáculos do Visões Úteis, com ênfase particular nos projectos Visíveis na Estrada Através da Orla do Bosque, Coma Profundo, Errare, Cidade dos Diários e O Resto do Mundo, em que os conceitos de Memória, Lugar e Fronteira foram matéria-prima e combustível. Aliás, o Visões é precisamente um desses sítios onde se juntam pessoas “desenraizadas” com pessoas que se mantêm perto das suas raízes e pessoas que mantêm as suas raízes perto de si.
Tudo isto a propósito de pequenos momentos que vou saboreando demoradamente e que me fazem pensar que, apesar de tudo, tenho raízes:
- comer uma francesinha ao balcão duma cervejaria em Gaia e ser tratado como um cliente habitual, mesmo que não vá lá mais do que duas vezes por ano;
assistir à confecção da francesinha, ouvir as conversas dos empregados que, do outro lado do balcão estão no seu território, assistir às velhas cumplicidades com e entre os verdadeiros clientes habituais, perceber que o verdadeiro apreciador da francesinha é o que sabe que há dias para as tripas, para a tripa enfarinhada, para os rojões… - entrar no Conservatório de Música de Aveiro e ser tratado como “Joãozinho”, pelas mesmas funcionárias que lá trabalhavam quando era aluno;
olhar para a sucessão de muros de pedra e canteiros onde nos sentávamos na conversa entre aulas ou em vez delas, por vezes com os professores… - estar sentado na areia da praia da Costa Nova ou da Barra, a olhar para o mar e, sem fazer o mínimo esforço para manter uma conversa, observar como ela flui;
- …
Sem raízes, nem sequer conseguimos andar à deriva, não é?
A sério, a sério, vale a pena ler as entradas recentes do blog da minha irmã, com recolhas de testemunhos de moradores da zona oriental da cidade do Porto. Material para O Resto do Mundo.
5 comentários a “Raízes”
E que maravilha de francesinhas essas!
É lá! Esta caixa de comentários está toda cheia de AJAX! Catita.
Aff’s
mô besteira meoo
o povo num tem nad’s pra faze
e melhor fazer uma treta ae doque fazer essa porcaria
Que tipo de treta, Mohammed? Um comentário incompreensível num blog qualquer? Esse tipo de treta?
eu odiei esse saite