“Não sou grande adepto deste tipo de coisas” parece ser a fórmula standard para iniciar estes artigos, apontando depois o dedo a quem nos “enrolou” na teia. De facto, dependendo do tema e das motivações da parte de quem passa a bola, estas cadeias de artigos não me fazem demasiada impressão. É o caso.
Quem me pôs nesta cadeia foi, simultaneamente, a Maria João Valente e o Marcos Marado e a ideia é destacar cinco filmes. Não exactamente os cinco filmes preferidos ou cinco filmes que se aconselham: apenas cinco filmes de que gostei.
Sendo assim, a responsabilidade não é grande. Para facilitar a minha escolha decidi concentrar-me em filmes de animação, que é um género que aprecio bastante e que fica muitas vezes fora das escolhas das pessoas sérias.
Além disso, é quase Natal (que é um argumento tonto que serve quase para tudo, certo?).
Então cá estão cinco filmes de animação de que gostei particularmente:
A Suspeita, de José Miguel Ribeiro (Portugal, 1999)
É um filme de animação com bonecos de plasticina, português, passado num comboio. Excepcional a vários níveis.
Vi os bonecos e parte dos décors em exposição na estação de comboios de S. Bento, no Porto (creio que o projecto teve um apoio da CP) e não descansei enquanto não vi o filme. Muito bom e muito recomendável. E bastante premiado. Não faço ideia se se encontra em algum circuito comercial, mas devia.
Corto Maltese na Sibéria, de Pascal Morelli (França, 2002)
Quando soube que alguém estava a tentar trazer o personagem maior de Hugo Pratt ao cinema, tive arrepios: a probabilidade de ser um desastre era enorme. Mas a verdade é que o projecto da ELLIPSANIME, dirigido pelo Pascal Morelli e muito apoiado em todas as vertentes, desde a realização plástica, à banda sonora, passando pela fotografia e o casting de vozes, é extraordinariamente bem conseguido. Não é perfeito, mas para isso é que existem os álbuns e a nossa imaginação. 😉
Belleville Rendez-vous / Les Triplettes de Belleville, de Sylvain Chomet (França, 2003)
Este é um clássico instantâneo. Um daqueles que dá vontade de dizer “dispensa apresentações”. Tudo funciona neste filme que, além do mais, tem uma banda sonora excepcional.
O Estranho Mundo de Jack, de Tim Burton (EUA, 1993)
Outro clássico instantâneo, da dupla Tim Burton / Danny Elfman. Poderia igualmente ter destacado o igualmente excepcional A Noiva Cadáver (dentro da lógica dos filmes de animação), mas este é anterior e mais natalício.
Para mim, este é um filme da dupla Burton/Elfman porque o papel desempenhado pela música nestes filmes é avassalador e porque sou um fã quase incondicional do trabalho do Danny Elfman. O requinte gráfico é, como nos restantes filmes escolhidos, delicioso.
E é mesmo natalício. 😉
Ghost in the Shell, de Mamoru Oshii (Japão, 1996)
Uma escolha japonesa, para equilibrar os universos da animação europeia e americana e para reconhecer o papel fundamental da produção asiática no progresso da animação como forma avançada e popular de arte. Além disso, o universo criado por Masamune Shirow nas suas variadas encarnações (livros, filmes, jogos) teve repercussões visíveis em objectos tão populares como a saga Matrix e é uma referência, ainda que muitas vezes encoberta, em muitas outras explorações do universo “cyberpunk”.
Fora tudo isso, é uma obra graficamente ao nível do melhor que se faz no género e a profundidade do guião é considerável, se estivermos disponíveis para embarcar em devaneios pseudo-existencialistas nos limites da definição do que pode ser uma Inteligência Artificial.
A minha escolha, pouco ponderada e centrada na animação, é esta. Tentei, mas duvido que tenha surpreendido alguém.
Passo a bola à minha irmã e ao meu pai, que são família e não devem levar a mal. E ao dactilógrafo, que gosta muito de cinema e já me fez responder a uns questionários cinéfilos do facebook. E, para acabar, ao Nuno Rebelo, que tem uma relação especial com o meio audiovisual e de quem me lembrei ao assistir a uma conferência do Christian Marclay na Tate Modern, nesta viagem recente.
Não levo a mal a ninguém se quebrarem a cadeia, como é óbvio. Nem pus este artigo com essa preocupação.
Siga a rusga!
5 comentários a “Cinco filmes”
Sim, a Suspeita é delicioso!
Durante muito tempo procurei em DVD. Quando estava em Turku, uma grande amiga enviou-me vários panfletos de Coimbra, nos anos, para matar saudades, mais ou menos há um ano atrás.
Descobri num deles (a newsletter da fnac) que ía passar a Suspeita, procurei no site se haveria para venda e pedi-lhe para mo comprar (juntamente com As coisas lá de casa, outra delícia da animação ainda que para pequeninos)
Procurei agora no site da fnac e não encontrei, mas suponho que não seja difícil eles mandarem vir.
As Triplettes é outro (dvd e cd) a rodarem sem descanso! 🙂
“Amante” dos filmes de animação, muito bem 😀
só não vi a suspeita.. shame on me..
Muito boas escolhas, sim senhor! Desses o único que não me apaixonou foi o Corto Maltese… Mas ainda assim uma boa adaptação.
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Sim senhor, adorei ver aqui o Ghost In The Shell… por todas as razões que referes e mais algumas (por exemplo, adoro a manga de GITS) 😀