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Há por aí algum liberal que me possa esclarecer esta questão?

Face aos recentes desenvolvimento na gestão do maior banco privado português, acham boa ideia continuar a falar das vantagens da gestão privada face à pública? Não será uma boa altura para assobiar par o ar e ir dar uma volta?

13 comentários a “Há por aí algum liberal que me possa esclarecer esta questão?”

Os liberais escondem-se.

A gestão privada e pública estão sujeitas a factores exógenos, nomeadamente a corrupção e os favores. Uma não está mais ou menos sujeita do que a outra, e o BCP é exemplo disso.

É quase irrelevante se uma gestão de um banco é pública ou privada. Creio que os factores sociológicos, nomeadamente a corrupção, pesam bem mais na hora da verdade.

Uma andorinha não faz a Primavera. Mas sim, cada vez mais penso que as empresas servem para servir a gerência ou administração, independentemente do tamanho e da natureza pública ou privada. Especialmente em empresas com o capital muito disperso ou demasiado concentrado nas mãos de administradores.

O que é grave é a asneirada do Banco de Portugal como regulador. Comprova também a minha opinião que a propalada “administração independente” (e o correspondente “estado regulador”) não são uma panaceia.

A resposta é simples. Competição. O BCP, corrupção ou não corrupção, continua a ser eficiente. Quando não for, o BPI toma-lhe alegremente a liderança. Ou a Caixa, ou o BES, ou o Popular. Há milhentos concorrentes aos clientes do BCP.

Já a câmara de Gaia, ou a câmara de Lx, têm a gestão que têm, e podiam ter pior, que não deixavam de existir.

Sérgio, o argumento da eficiência serve de pretexto para deixar as empresas fazerem o que bem entendem, na esperança, utópica, que alguém as substituirá. Os neoliberais pelo menos assim esperam. Na sequência dos monopólios e dos cartéis vem o “Ai, ui, pois”.

Quanto às Câmaras, tanto quanto sei existem eleições autárquicas onde tu podes votar ou mesmo candidatares-te. Já numa empresa (e excepto caso seja uma empresa pública e sejas um grande accionista) tu não podes fazer absolutamente nada. Mas dizes tu “Ah e tal, o mercado ocupar-se-à disso”. E eu: yah, sure. Keep dreaming.

Mário,

Realmente uma andorinha não faz a primavera, mas simplificando muito, mesmo muito, muito, muito, se tivesses só 2 alternativas, viver num pais onde tudo era do Estado ou viver num outro onde tudo era privado, tinhas que pensar quantas horas para optares? E por curiosidade, nesta simplificação, qual era a tua opção? 🙂

Exemplificando e simplificando muito, novamente muito, muito, muito, achas que a população em geral esta melhor nos EUA (onde simplificando muito, é tudo “privado”) ou do outro lado do planeta na EX-URSS/China (onde simplicando muito, é tudo do Estado)?

Claro que esta “Reduçao ao Absurdo” está longe da realidade, mas ajuda a pensar.

Pedro,

Sinceramente essa “redução ao absurdo” acaba por ser absurda por uma série de motivos. É precisamente por causa disso que coisas como o neoliberalismo e o comunismo não funcionam: porque há muito mais para além das teorias económicas e há muito mais para além das causas humanitárias. Há humanos que distorcem as teorias económicas (corrupção) e há economias que distorcem causas humanas (imperialismo americano).

Não acredito que essa redução seja possível. A política é um “environment” extremamente susceptível a factores exógenos, pelo que a simplificação não apenas adiciona erros grosseiros como a distorce radicalmente.

Eu acho que o Estado tem de existir para equilibrar a balança. Caso contrário, os mais fortes irão sempre imperar sobres os mais fracos e os mais ricos sobre os mais pobres. Da mesma forma, também não acredito numa nacionalização em que todos somos iguais e trabalhamos para o mesmo, que nem marionetas ao serviço dos comandantes.

Enfim, considero ambas as posições, comunismo e neoliberalismo, extremamente distorcidas.

Quanto às Câmaras, tanto quanto sei existem eleições autárquicas onde tu podes votar ou mesmo candidatares-te. Já numa empresa (e excepto caso seja uma empresa pública e sejas um grande accionista) tu não podes fazer absolutamente nada. Mas dizes tu “Ah e tal, o mercado ocupar-se-à disso”. E eu: yah, sure. Keep dreaming.

Eleições autárquicas ? Mas isso muda algo ? O dinheiro continua a não ser deles para se preocuparem… “yah, sure. Keep dreaming”.

Carlos,

E numa empresa? Eles querem que o dinheiro seja todo deles, independente de como ou quando.

Como disse, depende do carácter de cada um. Isto parece frase política, mas se eu estivesse à frente de uma Câmara não haveria um cêntimo que fosse gasto sem uma boa explicação.

E, não esquecer que existem vereadores de outros partidos políticos que estão lá para fiscalizar.

É bom ver que consegui iniciar uma pequena troca de opiniões.
Para lá de discussões de “paradigmas” e evitando as análises das situações-limite, o que eu acho caricato é continuar a assistir a conversas acerca dos vícios e virtudes das gestões públicas e privadas em abstracto e, no “concreto”, ver que não só as pessoas, como os seus vícios e virtudes, transitam entre os dois sectores, sem grandes hesitações. E, em Portugal, de forma muitas vezes escandalosa.
Mas continuamos a ouvir algumas pessoas a dizer: vamos privatizar isto ou aquilo, porque a gestão privada é mais eficiente, menos burocratizada, menos corrupta…
Não acredito, de todo, que a gestão privada seja, em si, uma vantagem, nem acredito que possua virtudes especiais. Já as virtudes do que é público são claras: eu tenho (cada um de nós tem) uma palavra a dizer e, em teoria, o objectivo é o serviço da sociedade, mesmo que isso não seja lucrativo.
Perdoem-me o devaneio socialista…

Mario,

A “Redução ao Absurdo” era para ajudar á reflexão, não defendo nenhum dos extremos como solução ideal, mas se, novamente por absurdo, a opção fosse entre os dois sistemas, não tenho dúvidas que optaria pelo tudo “privado”. Continuo curioso para saber qual seria a tua opção, não chegaste a satisfazer a minha curiosidade.

Referes o exemplo das eleições no caso das Câmaras, mas nas empresas privadas também votas, nas assembleias de accionistas, de certa forma, votas até duas vezes, quando compras as acções e quando votas nas assembleias de accionistas.

Quanto ao “Imperialismo Americano”, acho que está a confundir EUA com Abu-Graib e Guantanamo, não confundas a árvore com a floresta, ou antes, umas ervas daninhas com a Amazónia.

Depois essa teoria que o Estado cuida dos interesses das minorias, dos menos favorecidos, dos mais fracos, já teve mais adeptos, nessa área as ONG são cada vez mais uma alternativa melhor, um bom exemplo é o caso do nosso Banco Alimentar, liderado pela Isabel Jonet, que álias acho que é a personalidade do ano escolhida pelo Expresso.

Vivemos num pais de atrasadinhos mentais. Mário admiro a tua perseverança ao conseguires ter conversas com pessoas assim. Digo atrasadinhos e não atrasados porque estas pessoas até me dão pena.

Os Portugueses – vá, a maioria deles – é desprovido de inteligência e escondem esse facto com meia dúzia de frases feitas e uma teimosia atroz.

Alias a mediocridade não é um problema só nosso. É mundial.
Se calhar começo a perceber porque há pessoas que dedicam a sua vida a procura de vida inteligente no espaço, devem estar fartos de ler estes diálogos pseudo-intelectuais e assim sempre entretem o seu tempo com algo mais divertido (discutível) e menos irritante (certamente).

@Pedro: há outra forma, mais interessante, de colocar a questão que pretendes. Foi a minha irmã que me lembrou e é um postulado filosófico (kantiano?) que serve para avaliar das condições de justiça de determinado sistema económico-social. A questão seria saber onde (sob que sistema) escolheríamos viver, se não pudéssemos escolher a nossa posição na hierarquia económico-social. Ou seja, em termos muito grosseiros, onde é que preferiríamos ser indigentes? Numa sociedade sem uma rede de apoio social mínima, mas com grandes hipóteses de movimentos verticais (ascensões e quedas), ou numa sociedade com uma rede de apoio garantida pelo estado, mesmo que isso significasse abdicar de algumas possibilidades de progressão meteórica.
Uma questão deste tipo permite, de facto, avaliar da eventual justiça dos diferentes sistemas sócio-económicos.

A uma pergunta assim, é fácil responder, para mim: preferiria viver num dos países nórdicos em que o Estado Social se mantém (também por condições excepcionais) e assegura a todos um mínimo considerado justo. E, se me fossem sendo reduzidas as possibilidades de escolher, dificilmente escolheria integrar-me numa sociedade em que o Estado se demitisse do apoio social que para mim é básico: “pão, paz, educação, saúde, habitação”.
Podem cantar, se quiserem. 😉

pão, paz, educação, saúde, habitação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade para mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
pão, paz, educação, saúde, habitação

Sérgio Godinho

Olá João,

Concordo com a tua irmã, é realmente uma forma mais interessante de por a questão, nós todos aqui no “Ocidente” pensamos de barriga cheia o que leva a um enviesamento do raciocínio, curioso seria saber onde vocês prefeririam ser “indigentes”, na China, em Africa, na India, no “Império Americano”, ou na Europa.
Adivinho que responderias na Escandinávia, acho que era uma boa opção, mas já agora sabes de onde é gerada a riqueza que permite a famosa protecção social nórdica? Não é certamente no sector público!

Mas esta discussão começou com a tua pergunta “Haverá por ai algum liberal que me possa esclarecer esta questão?”, questão essa relacionada com as vantagens ou não da gestão privada do maior banco privado português e entretanto evolui para a problemática da protecção social, suponho que a tua preocupação não estivesse inicialmente relacionada com o “pão, paz, educação, saúde, habitação” dos administradores que agora ao que parece vão para o desemprego 🙂

Eu concordo contigo tem que existir uma rede de protecção social mínima, não sei se exclusivamente dada pelo Estado, talvez não, já referi o exemplo das ONG, haveria outros.

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