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O problema do significado

Novo logotipo do Banif Já muito se disse acerca da nova imagem do Banif, imagino eu.

A mim, o que mais me espantou nesta mudança foi a adopção duma figura mitológica cujo significado não é imediato e com o qual se terá (suponho eu) que criar uma ligação a três: símbolo, empresa e clientes.

Mas esta será uma boa oportunidade para perceber se alguém se importa com os significados que se escondem ou revelam por trás das imagens.

Centauros

O Tessaliano Ixíon, filho de Ares, o rei dos Lápitas, apaixonou-se por Hera e procurou levá-la para o seu leito. Mas Zeus enviou-lhe uma nuvem com a aparência de sua esposa, com a qual Ixíon se deitou. Desta união nasceram criaturas híbridas, cavalos com busto humano, munidos de braços: os centauros.

Os centauros viviam nos bosques dos montes Pélion e Ossa e os seus costumes eram considerados selvagens. Vêmo-los figurar nos cortejos de Dioniso. A lenda atribui-lhes numerosos delitos.

Quando Pirítoo, filho de Ixíon, se casou, convidou os seus monstruosos parentes para o banquete. Estes embebedaram-se e tentaram violentar a noiva. Este acontecimento provocou uma luta entre centauros e Lápitas, que se traduziu numa batalha muito sangrenta. Os Lápitas acabaram por vencer, graças à coragem de Pirítoo e do seu amigo Teseu, e expulsaram os centauros da Tessália.

Curiosamente, a tradição costuma destacar deste conjunto dois centauros, a quem atribui uma origem bem diferente e que são recordados pela sua bondade e pela sua sabedoria: Folo, filho de Sileno, cuja hospitalidade Héracles apreciou, e sobretudo Quíron, filho de Cronos, benevolente e omnisciente.

A palavra Centauro (que significa: picador de touros) permite, sem dúvida, discernir a origem do mito: os vaqueiros a cavalo (que recordam os guardião de Camarga) intrigavam verosimilmente os viajantes que percorriam a Tessália. E foram estes que criaram a lenda destes seres, misto de homens e de cavalos.

in Dicionário de Mitologia Grega e Romana, de Georges Hacquard (Edições ASA)

Para mim, é uma curiosa associação, esta dum banco a uma criatura de origem duvidosa e maldita, entregue a excessos e comportamentos selvagens… curiosa por ser honesta. 😉
Mas estariam os responsáveis do Banif e/ou da agência responsável por esta nova imagem a pensar nesta associação de significados? Ou isso não interessa nada?

9 comentários a “O problema do significado”

concordo inteiramente com o dizes e não faço a minima ideia de qual é a mensagem que um centauro transmite aos potenciais clientes/investidores.
o que é que um centauro nos diz em relação a termos o nosso dinheiro no Banif?

A meu ver é tudo muito mais simples do que parece… num mundo em que estamos habituados a significados escondidos é difícil perceber o mais óbvio.

Ainda hoje em me conversa me alertaram para o facto do anúncio começar com um homem em cima dum cavalo… e acabar com um centauro = homem cavalo.

Logo… a leitura será a seguinte: o homem _ambiciona_ correr/ser como o cavalo.. e consegue-o! Daí a utilização da “ambição” no slogan.

No entanto, continuo a achar que é uma mensagem demasiado genérica para um banco.

Mas o que é que é mais importante: o significado real da imagem/símbolo do Centauro, explicada na Mitologia, ou um outro significado qualquer, atribuído por uma equipa de “criativos” que, se calhar, só associam o Centauro a um personagem fantástico, poderoso mas benevolente, que aparece nos livros do Harry Potter? Somos todos crianças?
Ou aceitamos que cada coisa, independentemente do seu significado historicamente construído, possa ser reinventada por “criativos” com pouca cultura geral e menos curiosidade ainda?

Não seria importante que alguém envolvidos neste processo fizesse o papel de “advogado do diabo” e encontrasse as “falhas” do ícone escolhido? Alguém terá feito isso? Alguém terá apresentado isso ao Banif, com um mínimo de seriedade?
Se isso aconteceu, parabéns aos “criativos” por terem conseguido levar a sua avante e parabéns ao Banco por arriscar esta “associação”.

Ou então eu é que sou um chato do caraças e a esmagadora maioria das pessoas está-se nas tintas para o que as coisas significam ou podem significar.
Mas e se aparece alguém mal intencionado, mas bem informado, que queira criar uma campanha (a sério ou em jeito de paródia) contra o Banif? Assim, é muito fácil, não é? Eu até a consigo imaginar…

@m42: de Centauro para Astrologia, há uma passagem obrigatória por Quíron, o Centauro imortalizado por Zeus na constelação Sagitário. Esse Centauro, de facto, é uma das excepções à raça dos Centauros e poderá ser uma boa referência, mas mais ligada à Medicina do que às Finanças…
Mas a questão fundamental permanece: alguém pensou nestas coisas antes de propôr a mudança ao Banif? Como é que se chega a estas soluções no seio das equipas “criativas”?

joaomartins:

Quanto à questão fundamental: não me parece… Penso que os “criativos” são mais do género “é fixe, porque ninguém tem… sei lá… pode ser que cole”…

Sou publicitário (copywriter) e em relação à campanha do Banif quero apenas dizer 3 coisas:

1 – Não acredito que os criativos tenhas criado a campanha “porque é giro meter lá 1 centauro e pronto”.
2 – Contudo, acho que a campanha é uma grande viagem (e eu, como criativo gosto de ideias arrojadas), quase uma masturbação, na qual todos deram uma mãozinha (o banco e agência). Até posso entender que no limite a união faz a força (a união do homem com o cavalo) mas isso pode levar-nos a outras interpretações, mais ou menos maliciosas. Vislumbro um conceito na campanha mas, confesso, não a aprecio.
3 – Os significados são sempre importantes na publicidade e por isso acho estranho a escolha de 1 centauro. Contudo, esta campanha tem um grande trunfo: toda a gente anda a falar nela! Agora se isso se irá traduzir em resultados concretos já é outra história…

Muito obrigado.

A força de assustar…

«E acha que o público vai perceber a lógica disto?», perguntou o director do BANIF aos criativos da agência. Se não perguntou, deveria ter perguntado. Porque lógica, o anúncio de apresentação da nova imagem do BANIF não tem nenhuma. Abrimos….

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