O voto é uma coisa importante. A participação nas eleições democráticas, em todas e de todos os tipos é uma coisa importante. Não é nem o princípio nem o fim da democracia e não podemos admitir que a intervenção democrática se esgote na cruz que desenhamos (ou não) num boletim de voto e colocamos numa urna. Não podemos admitir que a democracia seja uma realidade discreta e temos que nos empenhar na generalização, na sustentabilidade e continuidade dos esforços de intervenção cívica e política, mas não podemos ignorar a importância do acto eleitoral como momento singular de avaliação da saúde dum estado democrático.
Por isso, é importante votar. E é particularmente importante votar em consciência, sempre que possível, garantindo que o voto expresso é um mecanismo de legitimação real dos eleitos. Por isso é que, salvo situações excepcionais, como algumas eleições presidenciais e/ou processos eleitorais desesperantes, determinantes e fracturantes, não sou adepto da ideia do “voto de protesto”, já que esse voto, que eventualmente desvia eleitores das ideias e propostas que considera importantes, por falta de confiança nos seus protagonistas, não atribui legitimidade real aos outros candidatos em que confiará mais (pelo menos o seu protesto), ainda que não concorde com as suas ideias e projectos. Acho que em democracia, e em situações normais, a expressão do apoio popular em votos nos partidos deve corresponder a uma adesão significativa desses eleitores aos programas e à confiança depositada nos seus protagonistas. Alternativamente, há o voto branco e o voto nulo, que são também formas legítimas de relacionamento com o processo democrático.
É, também, por demais evidente que a adesão completa às propostas deste ou daquele partido, ou uma confiança cega neste ou naquele candidato é um perigoso exercício de ingenuidade, que não aconselho a ninguém. A democracia é um processo que, ao envolver pessoas maduras e conscientes, pressupõe compromissos, cedências, relativizações e avaliações subjectivas das prioridades de cada um.
Votar é importante também porque é suposto que não seja fácil. Não deveria ser fácil para quem promove as suas ideias, apelando ao voto, nem deveria ser fácil para quem toma a decisão de legitimar este ou aquele candidato. O funcionamento actual das campanhas eleitorais e a forma como a comunicação social gere estes processos (de facto), contribui de forma mais ou menos contínua para esta ideia de que há as pessoas que votam e as pessoas que não votam: quem vota já sabe em quem votar, seja por ser eleitor fiel, seja por fazer parte dos pendulares costumeiros e vê-se reduzido a uma estatística qualquer; quem não vota é tratado como indiferente ou alienado, com culpas repartidas entre o sistema partidário e a apatia generalizada e também passa a ser apenas valor estatístico.
Ficamo-nos, por estas alturas, quase sempre a chapinhar na espuma dos acontecimentos e isso parece interessar à maior parte dos intervenientes destes processos, desde políticos a jornalistas e comentadores.
Amanhã, é dia de reflexão. Não se saberá bem sobre o que é que as pessoas irão reflectr, já que, em boa verdade, não se lhes ofereceu nada de significativo ou profundo sobre o qual valesse a pena esse exercício.
Eu, pessoalmente, vou votar no Bloco de Esquerda. Digo-o por razões óbvias de honestidade e porque o meu voto será, ao contrário de muitos votos que o Bloco terá, um voto de adesão às ideias propostas e de confiança nos protagonistas. Adesão crítica e confiança não ilimitada, obviamente. Um voto adulto, validamente expresso e que legitima, simultaneamente, os eleitos e a minha posição como eleitor responsável.
Espero, sinceramente, que um conjunto vasto de eleitores, dos vários quadrantes politicos, tenha atitude semelhante, no domingo.
3 comentários a “Apelo ao voto”
Há quatro anos também votei no Bloco para as europeias. Este ano não o vou fazer. O Bloco para mim perde por estar a fazer campanha só para atrair os descontentes do PS. Um partido deve ter as suas próprias ideias e não apenas dizer só porque as pessoas gostam de ouvir.
A ponderar se voto ou não pelo MMS (um partido recente, já devem ter reparado na campanha deles a imitar o Obama). Gosto das ideias deles, mas considero o site e a campanha deles como demasiado imaturos. Mais um ano ou dois, e pode ser que tenham um maior impacto.
Segundo o EUprofiler, o partido mais adequado para mim é o MEP, seguido do Bloco Esquerda. De facto, que me lembre, das poucas vezes que votei, ou votei em branco, ou sempre pelos partidos da esquerda.
Sinceramente queria desaconselhar o C.G. de votar no MMS que nao passa de uma empresa pessoal encapotada de movimento politico..é preciso ter mt cuidado com oportunismos tais como os do MMS.