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jazz.pt | Wayne Shorter Quartet

Texto escrito por João Martins. Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.

Wayne Shorter Quartet

Sala Suggia, Casa da Música, Porto | 11 de Março de 2009

Wayne Shorter (Sax Tenor e Soprano), Danilo Perez (Piano), John Patitucci (Contrabaixo), Brian Blade (Bateria)

A actual fase da carreira de Wayne Shorter, com o regresso à forma do quarteto acústico e com os cúmplices de elevadíssimo nível que escolheu para o acompanharem, é marcada, claramente pela afirmação do próprio Shorter que diz “com a idade que tenho, não tenho nada a perder“. Não é claramente por uma questão de idade, mas sim pela vastíssima experiência e pela quantidade de distinções e reconhecimento generalizado da sua importância na história do jazz que Shorter se encontra num patamar em que, não tendo nada a provar, pode assumir um caminho de risco que, nem sempre trilhou com o mesmo à vontade. Tendo ao seu lado músicos com tanta qualidade e mérito reconhecido nas várias áreas musicais em que se movem, o quarteto cumpre essa condição de se poder apresentar sem medos, sem sentimentos de cumprimento obrigatório destas ou daquelas expectativas. Apresentam-se com e pela música, conscientes de que o caminho que percorrerem, seja ele qual for, está de tal forma bem alicerçado na extraordinária capacidade técnica individual e na vastidão do repertório que se dedicam a desconstruir, que a viagem os levará sempre a bom porto, ainda que desconhecido.
De facto, a estratégia empregue pelo quarteto para o set contínuo de quase 1 hora com que brindou a vasta audiência que se dirigiu à Sala Suggia, consitiu na exploração sucessiva de frases e/ou temas, uns mais reconhecíveis do que outros, das várias fases da ecléctica carreira de Shorter. Num fluxo constante de ideias musicais partilhadas, apontamentos pontuais, ora de Shorter, ora de Danilo Perez, ora de Patitucci, realimentavam os ouvidos do público com material familiar e, quase sempre rapidamente, iniciava-se um processo de desmembramento ou escalpelização, passando pelas várias estratégias instrumentais disponíveis. A formação clássica erudita de Danilo Perez e John Patitucci, revelaram “cadenzas” escondidas, encaixadas nas formas mais ou menos jazzísticas ou mais pop(ulares); o virtuosismo técnico de Brian Blade, oferece ao quarteto, a bateria como instrumento solista, livre das hierarquias tradicionais e a veia de Wayne Shorter, que “aqueceu” com o decorrer do concerto, navegava sobre todo o material.
Mas mais do que a capacidade interpretativa ou técnica, o quarteto demonstrou uma imensa capacidade auditiva e colaborativa, trabalhando de forma notável as trocas de material, os processos de pergunta-resposta e mantendo, apesar da inexistência duma base rítmica ou harmónica convencional, uma coesão estrutural assinalável ao longo do (longo) set.
A execução do exercício proposto só aparece prejudicado pela fraca qualidade da amplificação utilizada neste formato acústico, onde a excessiva amplificação do piano de Danilo Perez, cria uma base dinâmica muito comprimida e retira ao quarteto algum do seu potencial expressivo.

O público menos adepto da estratégia inicial terá sido amplamente recompensado pelos 3 encores, onde o quarteto (a)cedeu à apresentação mais convencional de cada tema, com Brian Blade e John Patitucci a assumirem de forma mais clara a posição de secção rítmica e Wayne Shorter a ter mais espaço para “solar”, quer no soprano, quer no tenor.

Para um quarteto que subia ao palco sem nada a perder e se lançou convictamente numa exploração partilhada, podemos dizer que, com os encores, o concerto é uma aposta completamente ganha.

Texto escrito por João Martins. Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
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