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Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Estou confuso. Acabei de ler a entrevista declarações do Pedro Jordão ao no Diário de Aveiro e fiquei a saber que, ao contrário do que estava escrito no comunicado original que republiquei aqui no blog, ele assume as funções de Director Artístico e também Director Geral. E percebo, face ao anúncio duma nova imagem e dum novo site a ser lançado já na próxima semana, que o trabalho da equipa de Pedro Jordão começou bastante tempo antes da nomeação referida. Ou fazem milagres, coisa que um ateu, como eu, tem dificuldade em compreender e aceitar.

Continuo a desejar que tudo corra bem, porque a cidade de Aveiro precisa dum Teatro Municipal capaz. Mas se há coisa que falta a este processo é transparência e esse, para mim, é um valor fundamental na gestão da coisa pública. Que é pública, a coisa, caso alguém se esteja a esquecer.
E como não sou adepto da velha máxima de que os fins justificam os meios, começo a ficar sinceramente preocupado.

Além disso, não posso deixar de repetir uma coisa que o próprio Pedro Jordão me disse pouco tempo depois da sua nomeação: “é perigoso embarcar no discurso de que é possível fazer mais com menos recursos, principalmente quando estamos a falar com políticos“. Concordamos nisso, como concordamos que isso não impede que se possa fazer uma melhor gestão dos recursos existentes. Por isso é que o anúncio de que o Teatro funcionará com metade do orçamento do ano passado, deveria ser alvo duma reacção mais cuidada por parte do seu novo Director Geral e Artístico: nada o impedia (espero eu) de afirmar a vontade de fazer um bom trabalho ao mesmo tempo que avisa relativamente aos perigos do desinvestimento num equipamento desta natureza. Deixar passar esta oportunidade é (também) legitimar uma decisão política (a definição e gestão do orçamento municipal é uma decisão política) que deve ser alvo duma reflexão aprofundada e crítica por parte de todos os agentes culturais.

Dia 10, no Porto, no Teatro Carlos Alberto, talvez surja a oportunidade de voltar a estes assuntos, no contexto desta iniciativa.

Um comentário a “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”

Haverá com certeza tempo para debater publicamente todas as questões sobre o Teatro Aveirense e sobre o meu desempenho, algo a que nunca me furtarei, mas não podia deixar de esclarecer dois pontos.

Um, que eu não deveria ter que lembrar de tão óbvio, é que aquilo que eu disse ou não disse na conferência de imprensa dificilmente se pode aferir pelo seu resumo, naturalmente truncado, num pequeno artigo em que a maioria dos jornalistas nem sequer se deu ao trabalho de gravar as declarações que iam sendo feitas, limitando-se a tirar algumas notas escritas. Muito mais (e, em muitos casos, muito mais importante) foi dito, sem que disso os leitores tenham noção. Por isso, algumas questões que levantas, quanto a supostas incoerências ou explicações por dar, são precipitadas.

(Quanto a isto, posso até acrescentar que, por motivos demasiados óbvios, o enorme corte por parte da CMA foi mal citado. A vereadora disse “cerca de metade” e, previsivelmente, no próprio dia já estava publicado “metade”, até com um suposto valor exacto, que nunca foi dito e dista consideravelmente do valor real. Não é que estas subtilezas coloquem em causa a assumidamente difícil situação financeira que o TA atravessa, mas aqui se demonstra a ligeireza com que tantas vezes se cortam e cosem declarações para se imputar aos intervenientes um discurso alternativo. E isto vale para este ponto como para outros.)

O segundo ponto prende-se com uma compreensível falta de fé, ao qual respondo com uma verdade facilmente comprovada por todos os envolvidos directos e indirectos nesta história. A decisão final foi tomada a 18 de Dezembro e até à véspera eu era apenas uma de várias hipóteses que foram ponderadas durante algum tempo e era essa a informação que eu tinha. Naturalmente não me compete dar mais informações sobre o processo, mas estes são detalhes pacíficos. Por isso, o meu trabalho iniciou-se a todos os níveis nessa altura. Penso que só abona a meu favor dizer que, assim que surgiu a hipótese, por muito vaga que fosse, não deixei de reflectir sobre o TA e a sua missão e o seu funcionamento. Mas não houve qualquer decisão ou movimento prévio à minha entrada em funções. O “milagre”, como lhe chamas, foi ter ao meu dispor colaboradores com qualidade que corresponderam com empenho e espírito de sacrifício ao objectivo de na primeira semana de Janeiro estarmos em condições de ter uma programação, uma nova imagem e uma nova postura para apresentar publicamente. A nova imagem, por exemplo, é criação de uma jovem dupla de designers que desde dia 21 trabalharam incansavelmente e o site engloba ainda o esforço do Director Técnico do TA. Bem sei que neste país as pessoas estão habituadas a que a coisa pública decorra entre as 9h e as 17h, mas quem neste momento te responde de um computador do TA, tem estado aí a trabalhar desde o primeiro dia sem qualquer dia de intervalo precisamente para que, com a colaboração de uma equipa com motivação renovada, possa apresentar o tal “milagre” que o cepticismo geral se encarregará de diminuir com suspeitas várias. Se eu não tivesse passado os últimos 4 anos a trabalhar completamente à borla umas boas 40 horas semanais para a cultura em Aveiro enquanto tentava levar para a frente a minha vida profissional, até podia admirar-me ou ficar incomodado com as desvalorizações que sempre surgem. Assim, é apenas um episódio habitual.

E, como decorre do comunicado que citaste, a designação do meu cargo é Director Artístico mas com funções alargadas à gestão financeira e de recursos humanos, à produção e à comunicação. Ou seja, para além das funções próprias do Conselho de Administração, todas as funções da anterior Direcção (bicéfala) do TA, como de certo modo acontece na generalidade dos teatros, independentemente da designação escolhida.

De resto, João, comigo os fins nunca justificarão os meios e parto para esta missão de consciência absolutamente tranquila e sempre disponível para ser interrogado e confrontado com quaisquer pontos de vistas.

Um abraço,

Pedro Jordão

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