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jazz.pt | Marty Ehrlich Rites Quartet: Things Have Got To Change

Thinhs Have Got To Change, capa do disco
THINGS HAVE GOT TO CHANGE
Marty Ehrlich Rites Quartet

CLASSIFICAÇÃO: 4.5/5

“Rites Rhythms”, a primeira faixa do álbum e a que dá nome a este quarteto liderado por Marty Ehrlich apresenta-nos um disco singularmente luminoso e as faixas que se seguem, ora da autoria de Marty Ehrlich, ora de Julius Hemphill, confirmam uma construção rigorosa e extraordinariamente bem executada dum disco que não tem receio de ser quase “ligeiro” no carácter festivo e na efervescência dos riffs rítmicamente muito eficazes e melodicamente atractivos, mas que não é em momento algum superficial.
O funcionamento da dupla Erik Friedlander/Pheeroan Aklaff afirma-se como estruturante na construção de vários temas com um swing elegante e inteligente, mas a complementaridade das abordagens de Zollar e Ehrlich é igualmente decisiva para assegurar a eficácia do quarteto. E, em temas como “Some Kind of Prayer”, mais meditativo, podemos escutar o funcionamento dum trio com os 2 sopros e Friedlander, menos “rítmico”, no arco e em pizzicatto, com Pheeroan ritmicamente livre para pontuar e enriquecer algumas explorações mais nostálgicas num ambiente que vagueia entre reflexões líricas, encontros e desencontros num jogo que permite compreender melhor os papéis relativos dos 4 músicos na construção quer da diversidade, quer da coerência do quarteto.
A beleza do disco reside, de facto, na conjugação destes factores: se por um lado o álbum se apresenta como um todo muito consistente, coerente e lógico, a verdade é que os diferentes registos, como por exemplo, a introdução de Erik Friedlander em “On The One”, alternando entre o estudo clássico e a canção popular, e a forma como se sobrepõem e conjugam ao longo do disco, seguindo critérios de elevada musicalidade, garantem uma identidade forte em cada tema, mas criam ligações, pelo tratamento nos solos e pela própria sequência de apresentação em disco.
Os temas de Ehrlich e de Hemphill apresentam algumas semelhanças na lógica de construção, e garantem a afirmação bastante clara de cada tema, mas criam largos espaços para a improvisação, que é muitas vezes colectiva e que, apesar das características e léxicos individuais reconhecíveis de cada músico, se refere a espaços-ambientes relativamente nítidos em cada tema, apesar da sua amplitude.
A capacidade de Ehrlich e Zollar alternarem entre um registo mais límpido, na afirmação dos temas em uníssono, com ou sem Friedlander, e de recorrerem a outros timbres e  registos ao longo dos solos, complementa na perfeição a alternância de Friedlander entre o papel de “contrabaixo” e o papel de “solista” melódico e a flexibilidade de Pheeroan entre a afirmação de pulsações com swing e registos mais ilustrativos, em escolhas que procuram servir os temas e demonstram um elevado grau de cumplicidade entre todos os músicos.
“Dogon A.D.”, de Julius Hemphill, com a pulsação clara e a estrutura simples, ainda que curiosamente desequilibrada, encerra o disco num ambiente que recorda a luminosidade inicial, mas reafirma a diversidade e riqueza do disco.

THINGS HAVE GOT TO CHANGE, de Marty Ehrlich Rites Quartet

Clean Feed (ed. 2009)
Gravado em Lisboa, 2008

  • Marty Ehrlich sax alto
  • James Zollar trompete
  • Erik Friedlander violoncelo
  • Pheeroan Aklaff bateria e percussão
Texto escrito por João Martins. Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 27 da revista jazz.pt. A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.

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