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Para memória futura

O clímax da Operação Stop aconteceu no Clubbing, na Casa da Música, com a actuação da STOPESTRA!., dirigida por Tim Steiner.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=e9Y2712xliA[/youtube]

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=KNXfDcCDFpM[/youtube]

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=htjNzH-QZJU[/youtube]

Só vendo e ouvindo é que se pode acreditar. Mas mesmo assim, é difícil compreender a real dimensão do que se conseguiu com esta operação. A ver vamos o que o futuro reserva a esta extraordinária comunidade de músicos.

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Férias marcadas

Na próxima segunda-feira, dia 20, parto de férias em família. Férias bem merecidas e necessárias num sítio que não nos podia ter recebido melhor: “precisamos de vos avisar que, uma vez que só temos energia por recurso a painéis solares, há algumas restrições na utilização de aparelhos eléctricos”.

Para gente como nós, isto sim, são férias.

Depois, poderei partilhar convosco o destino e algumas impressões pertinentes. Mas também pode acontecer que o sítio seja um daqueles bom demais para partilhar. Se assim for, azar. Quem precisar mesmo, mesmo muito e me conheça suficientemente bem, sabe sempre o que tem a fazer para aceder a esta informação.

Mesmo no fim destas férias, no dia 25, encontro-me com o Henrique, o Gustavo e o Luís em Lisboa, para um concerto de Lost Gorbachevs na ZDB, em Lisboa. Para voltar ao mundo real com um “estrondo”. 😉 E volto ao Porto para as comemorações do Dia Mundial da Música (1) (2) que, este ano, envolvem a Casa da Música e esse mega centro de produção musical portuense que é o Centro Comercial Stop.

Mas sobre isso e outros projectos próximos, ainda vou dizer mais qualquer coisa.

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jazz.pt #31 já nas bancas

jazz.pt #31

Na capa: Evan Parker no Jazz em Agosto e Danilo Perez na Lisbon Jazz Summer School.

Lá dentro, muita leitura interessante, incluindo as minhas modestas contribuições:

  • Chicago Tentet de Peter Brötzmann na Casa da Música
  • “Violino Escravo – A True Story of a Slave Violinist”, de Jon Rose na Fundação de Serralves
  • 4 lançamentos Clean Feed:
    • “West”, Lawnmower (2/5)
    • “Seeing you see”, Keefe Jackson Quartet (3/5)
    • “Deluxe”, Chris Lightcap’s Bigmouth (3,5/5)
    • “Dual Identity”, Rudresh Mahanthappa / Steve Lehman (4/5)

Em breve, disponíveis aqui no blog.

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Plataforma Geral da Cultura

Não será fácil contrariar a demagogia e o populismo que este ataque aos “subsídio-dependentes” representa para a opinião pública. Não será fácil esclarecer sobre a ineficácia destas medidas do ponto de vista das contas públicas, inversamente proporcional ao esmagador impacto que têm no tecido criativo. Mas, unidos, temos algumas hipóteses de, pelo menos, tentar.

Por isso, eu assinei a Petição da Plataforma Geral da Cultura, saída do encontro no Teatro Maria Matos (Lisboa), de 5 de Julho de 2010. Por isso, eu aconselho a leitura deste artigo recente da Catarina Martins ou da Carta Aberta à Ministra da Cultura, enviada pela Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas.

E por achar que esta questão é uma questão elementar de cidadania, liberdade e democracia (o acesso ao conhecimento e à cultura são condições essenciais para a definição de qualquer destes conceitos fundamentais), espero que a mobilização do sector cultural possa contar com a solidariedade de o maior número possível de pessoas. Para isso, precisamos de informação e acção consequente. Em causa também estão as novas formas de obscurantismo que o “infotainment” facilita.

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A trama está montada

Estreia hoje, n’A Moagem, no Fundão, o projecto trama³. Já não há muito mais a dizer. Estamos à vossa espera.

trama³, trama ao cubo

trama³, trama ao cubo (vista do concerto)

trama³

um projecto de João Martins, com Gustavo Costa e Henrique Fernandes

+ info: http://joaomartins.entropiadesign.org/2010/06/08/trama-3-trama-ao-cubo/
podcast: http://joaomartins.entropiadesign.org/2010/06/23/trama%c2%b3-uma-amostra/

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trama³ | uma amostra

trama³, trama ao cubo

Com a aproximação da estreia do projecto trama³ (dia 26 de Junho no Fundão e apresentação no dia 2 de Julho em Aveiro), haverá quem se interrogue sobre o que verdadeiramente interessa: a que soa este novo instrumento.

Pode soar a muita coisas e esta gravação que partilho é um exemplo. É a primeira improvisação que gravámos durante o processo de construção e creio que é um bom cartão de visita para o projecto. Adequado, pelo menos.

trama³

um projecto de João Martins, com Gustavo Costa e Henrique Fernandes

Neste projecto, um tear artesanal transforma-se num hiper-instrumento musical, com diversos registos tímbricos em configurações interligadas que permitem aos 3 músicos abordá-lo ora como um instrumento único, ora como um ensemble quase orquestral. Sobre a estrutura do tear, em intervenções que procuram compreender o seu funcionamento primário, enquanto exploram um vasto conjunto de possibilidades sónicas— sugeridas, na sua maior parte, pela observação de teares nos seus contextos originais—, fixam-se cordas, molas, caixas e vários objectos comuns, distribuindo pelas várias “faces visitáveis” da máquina, modos de produção de som interligados.

E, do mesmo modo que a concepção e construção do próprio instrumento procura compreender e valorizar os aspectos funcionais pré-existentes, a concepção global do projecto procura estabelecer pontes tangíveis entre os modos e os conteúdos da nova produção musical e as técnicas artesanais, as pessoas e os locais que compõem a memória do objecto. Gestos da tecelagem e das actividades relacionadas são recuperados como gestos de produção sonora no novo instrumento; recolhas de sons quer dos teares, quer das paisagens sonoras em que os descobrimos integram, como texturas e como motivos, o reportório concebido.
Estes teares— os seus “corpos”, o seu universo e identidade particular— são por isso, física e conceptualmente, o material de base para mais dois músicos— cúmplices de longa data—, artesãos, inventores e construtores de instrumentos que interpretam com as suas próprias ferramentas o desafio original.
Uma intrincada teia que cruza Música e Arte Sonora, aborda várias definições possíveis de instrumento musical e estende uma ponte audível, atenta e crítica entre práticas artísticas e práticas artesanais, enquanto reconhece o valor primordial das paisagens naturais e humanas genuínas.

Uma encomenda do Município do Fundão
Co-produção: Câmara Municipal do FundãoA Moagem – Cidade do Engenho e das Artes / Granular Associação
Produção executiva e acolhimento: A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes

História do Projecto

Em 2005, como parte do processo de concepção dum espectáculo de teatro, concebi e construí um instrumento musical reutilizando a estrutura dum tear manual de mesa, que tinha utilizado em trabalhos oficinais como aluno do ensino secundário. O instrumento, a que chamei Contratear– a partir do nome da peça, “O Contrabaixo” (Visões Úteis, 2005)-, foi usado posteriormente em vários concertos e performances e passou a integrar o meu instrumentário regular. Em 2009, A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, propõe à Granular o desenvolvimento dum projecto musical centrado nos esforços de dinamização da actividade artesanal de grupos de tecedeiras nas Aldeias do Xisto e a Granular contacta-me, por causa do Contratear. E, assim, em Maio de 2009, estive em residência artística nas Aldeias do Xisto (Janeiro de Cima e Bogas do Meio), tendo como objectivo de curto prazo a concepção duma performance a apresentar na LX Factory, em Junho de 2009 e, como objectivo final a concepção e construção dum novo instrumento musical construído a partir dum tear. Essa primeira fase, a solo, mudou consideravelmente a minha relação com o Contratear, não tanto pela performance que realizei na Arthobler / Ler Devagar (LX Factory), mas pela imersão no universo dos teares artesanais e pela descoberta de imensos pontos de contacto entre os objectos da tecelagem e diversos instrumentos musicais, mas também entre os processos de concepção e registo dos padrões em uso nas práticas artesanais e técnicas de composição e escrita musical. A compreensão, também nessa altura, do carácter primordial do tear, enquanto máquina-ferramenta universal e a reflexão sobre o seu desenvolvimento mecânico e técnico, especialmente a partir da Revolução Industrial, e sobre o significado que a manutenção das práticas artesanais tem, face a esse desenvolvimento, influenciaram de forma decisiva, ainda que menos visível, a orientação conceptual do projecto para o qual, desde o início, contava com a colaboração do Gustavo Costa e do Henrique Fernandes, parceiros em variadíssimos projectos e, eles próprios, inventores e construtores de instrumentos. A estratégia usada na performance a solo de 2009, recorrendo a uma base audiovisual construída pela selecção, edição e manipulação de recolhas áudio e vídeo feitas durante a residência provou a sua eficácia quer como mecanismo de referenciação, quer como partitura estrutural e com base nessa primeira experiência, a segunda fase do projecto avançou para a concepção e construção dum novo instrumento sobre a estrutura pré-existente dum daqueles teares. Nesta segunda fase, trabalhámos já em conjunto, no Fundão, procurando transferir todas estas preocupações para o próprio processo de construção, a que acrescia a vontade e necessidade de diversificar os modos de produção de som, por forma a aproveitar ao máximo a área disponível na estrutura e alcançar o objectivo de, em vez de sobrepôr vários pequenos instrumentos à estrutura, usá-la como base dum instrumento único, polivalente, com o máximo de módulos interligados. A interpretação do desafio original, concretizou-se e expandiu-se no encontro das 3 personalidades e experiências específicas e com o contributo crítico de quem acompanhou este processo e, especialmente, de Albrecht Loops. Além da concepção e construção deste novo instrumento, realizámos novas recolhas sonoras e testámos novas formas de utilização e manipulação e desenvolvemos estratégias composicionais baseadas em regras simples e padrões que referenciam, de alguma forma, o universo das práticas artesanais e estudámos e estruturámos vários modos performativos. Um processo desta natureza evolui constantemente e não tem um fim natural; apenas
pontos de paragem e reflexão que sugerem novos desenvolvimentos. O ponto onde nos encontramos é particularmente rico: não só possuímos um instrumento poderoso e flexível, como dominamos formas performativas coerentes e consequentes. A documentação e enquadramento da globalidade do projecto permitirão uma leitura mais completa e rica do objecto em si mesmo, mas as suas actuais possibilidades performativas são inegáveis.

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trama³, trama ao cubo

trama³, trama ao cubo

trama³

um projecto de João Martins, com Gustavo Costa e Henrique Fernandes

Neste projecto, um tear artesanal transforma-se num hiper-instrumento musical, com diversos registos tímbricos em configurações interligadas que permitem aos 3 músicos abordá-lo ora como um instrumento único, ora como um ensemble quase orquestral. Sobre a estrutura do tear, em intervenções que procuram compreender o seu funcionamento primário, enquanto exploram um vasto conjunto de possibilidades sónicas— sugeridas, na sua maior parte, pela observação de teares nos seus contextos originais—, fixam-se cordas, molas, caixas e vários objectos comuns, distribuindo pelas várias “faces visitáveis” da máquina, modos de produção de som interligados.

E, do mesmo modo que a concepção e construção do próprio instrumento procura compreender e valorizar os aspectos funcionais pré-existentes, a concepção global do projecto procura estabelecer pontes tangíveis entre os modos e os conteúdos da nova produção musical e as técnicas artesanais, as pessoas e os locais que compõem a memória do objecto. Gestos da tecelagem e das actividades relacionadas são recuperados como gestos de produção sonora no novo instrumento; recolhas de sons quer dos teares, quer das paisagens sonoras em que os descobrimos integram, como texturas e como motivos, o reportório concebido.
Estes teares— os seus “corpos”, o seu universo e identidade particular— são por isso, física e conceptualmente, o material de base para mais dois músicos— cúmplices de longa data—, artesãos, inventores e construtores de instrumentos que interpretam com as suas próprias ferramentas o desafio original.
Uma intrincada teia que cruza Música e Arte Sonora, aborda várias definições possíveis de instrumento musical e estende uma ponte audível, atenta e crítica entre práticas artísticas e práticas artesanais, enquanto reconhece o valor primordial das paisagens naturais e humanas genuínas.

Uma encomenda do Município do Fundão
Co-produção: Câmara Municipal do FundãoA Moagem – Cidade do Engenho e das Artes / Granular Associação
Produção executiva e acolhimento: A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes

História do Projecto

Em 2005, como parte do processo de concepção dum espectáculo de teatro, concebi e construí um instrumento musical reutilizando a estrutura dum tear manual de mesa, que tinha utilizado em trabalhos oficinais como aluno do ensino secundário. O instrumento, a que chamei Contratear– a partir do nome da peça, “O Contrabaixo” (Visões Úteis, 2005)-, foi usado posteriormente em vários concertos e performances e passou a integrar o meu instrumentário regular. Em 2009, A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, propõe à Granular o desenvolvimento dum projecto musical centrado nos esforços de dinamização da actividade artesanal de grupos de tecedeiras nas Aldeias do Xisto e a Granular contacta-me, por causa do Contratear. E, assim, em Maio de 2009, estive em residência artística nas Aldeias do Xisto (Janeiro de Cima e Bogas do Meio), tendo como objectivo de curto prazo a concepção duma performance a apresentar na LX Factory, em Junho de 2009 e, como objectivo final a concepção e construção dum novo instrumento musical construído a partir dum tear. Essa primeira fase, a solo, mudou consideravelmente a minha relação com o Contratear, não tanto pela performance que realizei na Arthobler / Ler Devagar (LX Factory), mas pela imersão no universo dos teares artesanais e pela descoberta de imensos pontos de contacto entre os objectos da tecelagem e diversos instrumentos musicais, mas também entre os processos de concepção e registo dos padrões em uso nas práticas artesanais e técnicas de composição e escrita musical. A compreensão, também nessa altura, do carácter primordial do tear, enquanto máquina-ferramenta universal e a reflexão sobre o seu desenvolvimento mecânico e técnico, especialmente a partir da Revolução Industrial, e sobre o significado que a manutenção das práticas artesanais tem, face a esse desenvolvimento, influenciaram de forma decisiva, ainda que menos visível, a orientação conceptual do projecto para o qual, desde o início, contava com a colaboração do Gustavo Costa e do Henrique Fernandes, parceiros em variadíssimos projectos e, eles próprios, inventores e construtores de instrumentos. A estratégia usada na performance a solo de 2009, recorrendo a uma base audiovisual construída pela selecção, edição e manipulação de recolhas áudio e vídeo feitas durante a residência provou a sua eficácia quer como mecanismo de referenciação, quer como partitura estrutural e com base nessa primeira experiência, a segunda fase do projecto avançou para a concepção e construção dum novo instrumento sobre a estrutura pré-existente dum daqueles teares. Nesta segunda fase, trabalhámos já em conjunto, no Fundão, procurando transferir todas estas preocupações para o próprio processo de construção, a que acrescia a vontade e necessidade de diversificar os modos de produção de som, por forma a aproveitar ao máximo a área disponível na estrutura e alcançar o objectivo de, em vez de sobrepôr vários pequenos instrumentos à estrutura, usá-la como base dum instrumento único, polivalente, com o máximo de módulos interligados. A interpretação do desafio original, concretizou-se e expandiu-se no encontro das 3 personalidades e experiências específicas e com o contributo crítico de quem acompanhou este processo e, especialmente, de Albrecht Loops. Além da concepção e construção deste novo instrumento, realizámos novas recolhas sonoras e testámos novas formas de utilização e manipulação e desenvolvemos estratégias composicionais baseadas em regras simples e padrões que referenciam, de alguma forma, o universo das práticas artesanais e estudámos e estruturámos vários modos performativos. Um processo desta natureza evolui constantemente e não tem um fim natural; apenas
pontos de paragem e reflexão que sugerem novos desenvolvimentos. O ponto onde nos encontramos é particularmente rico: não só possuímos um instrumento poderoso e flexível, como dominamos formas performativas coerentes e consequentes. A documentação e enquadramento da globalidade do projecto permitirão uma leitura mais completa e rica do objecto em si mesmo, mas as suas actuais possibilidades performativas são inegáveis.

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Serralves em Festa 2010

O Serralves em Festa é já este fim de semana. São 40 horas non-stop de actividade cultural num evento que não tem paralelo, pelo menos no norte do país. Este ano, lá estarei, a participar e a assistir e não posso deixar de aconselhar esta experiência. Quem lá esteve em anos anteriores sabe que é qualquer coisa de muito especial. Quem nunca experimentou, tem mesmo que experimentar. Pelos eventos, mas também pela atmosfera de festa verdadeira à volta da criação e da fruição artística, coisa rara em Portugal.

Nas centenas de actividades programadas em todas as áreas e formatos imagináveis, há, de certeza, alguma coisa que vos interessa. Consultem o programa no site.

E porque não custa nada puxar a brasa à minha sardinha, recordo:

E chamo a atenção para o facto de, na Casa de Serralves, se poder assistir à apresentação de dois trios especiais: Martin Brandlmayr, Steve Heather e Gustavo Costa (sábado às 15h00) e B. Fleischmann, João Pais Filipe e Jorge Queijo (domingo, às 16h30).

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jazz.pt | João Paulo Esteves da Silva & Dennis González

João Paulo Esteves da Silva & Dennis González

Casa da Música, Sala 2 | 16 de Janeiro

Depois da muito bem sucedida edição de “ScapeGrace” (CleanFeed, 2009)— considerado pela jazz.pt o melhor disco nacional do ano— João Paulo Esteves da Silva e Dennis González apresentaram-se na Sala 2 da Casa da Música para um concerto que, para ser fiel ao disco, teria que reflectir a situação/estratégia de improvisação usada que, como João Paulo referiu em jeito de apresentação, haverá gente que não acredite (porque é de fé que se trata) e outros considerarão despudorada.
Mas, acredite-se ou não, é através da improvisação, sem ensaios nem temas escritos, que se constrói o disco e os concertos desta dupla, que até à proposta da editora lisboeta nem sequer se conheciam ou ao trabalho respectivo.
Sem ensaios, nem temas escritos, mas não sem referências: a ampla bagagem musical de cada um dos músicos e a partilha que originou “ScapeGrace” permitem aos músicos e aos ouvintes ancorar esta experiência musical em motivos melódicos e rítmicos que cruzam, no território do jazz contemporâneo, as fortes referências às músicas populares tradicionais que dão corpo a uma parte significativa dos percursos individuais de João Paulo (o pianista que mantém um projecto de exploração da herança da música sefardita em Portugal e que colaborou com Fausto, Vitorino, José Mário Branco, Sérgio Godinho, entre tantos outros) e Dennis González, cuja procura constante de derrubar barreiras passa por integrar no seu discurso linguagens enraizadas nos locais que percorre.
Assim, apesar da estratégia de improvisação e da construção de música completamente nova, ouviram-se na Casa da Música vários dos motivos presentes em “ScapeGrace” e outros motivos familiares, introduzidos ora por João Paulo, ora por Dennis González, que se sucederam no lançamento de introduções a solo para a posterior exploração do duo.
Nesse contexto, a facilidade com que João Paulo acompanha, complementa, cita e desenvolve qualquer motivo, por mais simples que seja, associada a uma eventual retracção por parte de Dennis González, concedeu ao piano um protagonismo desproporcionado, com cadências a solo em cada um dos 7 temas. Era, de resto, aparente a dificuldade do trompetista em acompanhar as rápidas inflexões harmónicas do piano que, muitíssimo inspirado, rápido e eventualmente mais complexo (ou pelo menos mais denso) do que em encontros anteriores, limitava a margem de manobra em termos de fraseado e improvisação, impondo um discurso harmonicamente mais direccionado e fechado. Energia ou “inspiração” a mais de João Paulo que, por vezes, parecia desligar-se da situação de duo, com a anuência do trompetista texano, para regressar, depois de belíssimas (mas por vezes demasiado longas) explorações, onde as raízes populares da lírica de base do duo passava por metamorfoses sucessivas, com recurso a diversas referências e linguagens, desde os nacionalismos nas músicas clássicas eruditas nos séculos XIX e XX, ao jazz técnica e mentalmente exigente de Keith Jarrett ou aos mais próximos Laginha e Sassetti.
Dennis González, por seu turno, parecia dosear cuidadosamente as suas intervenções, estabelecendo motivos simples, pontuando momentos fundamentais e alimentando os processos de João Paulo. Em sentido contrário, apenas ocasionalmente se tornava possível ao trompetista identificar e explorar temas sugeridos pelo piano, mais fechados e enquadrados em contextos harmónicos menos previsíveis. Nesse sentido podemos falar dum duo e duma improvisação “dirigida”, com momentos verdadeiramente fulgurantes, mas com um certo desequilíbrio entre as personalidades musicais em presença.

Texto escrito por João Martins. Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 29 da revista jazz.pt. A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.
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jazz.pt | Dave Burrell na Culturgest Porto

Dave Burrell

Culturgest Porto, 15 de Janeiro

Num contexto muito intimista, com o público disposto em cadeiras à volta do piano, o quase septuagenário e muito empático Dave Burrell, um histórico das vanguardas do jazz, apresentou um recital de piano solo excepcionalmente convencional, quer na forma, quer no conteúdo. Não tanto pela já anunciada revisitação de standards e do songbook norte-americano, processo que faz parte do seu percurso de intérprete, compositor e arranjador— com marcas recentes na colaboração com a cantora Leena Conquest (com quem o vimos no Porto, no grupo de William Parker, em 2009, no concerto dedicado a Curtis Mayfield) e já presente desde 1968, em “High Won, High Two” (Black Lion)—, mas por uma utilização, quer do reportório, quer do piano, muito estrutural e orquestral, e muito pouco “solista”.
As canções de Billy Strayhorn, Hoagy Carmichael, George Gershwin, Duke Ellington, Thelonious Monk, António Jobim e do próprio Dave Burrell foram-nos apresentadas “completas” e sólidas- com as linhas de baixo, os padrões rítmicos, as vozes principais e os riffs, em todas as voltas, coros e codas-, com a expressão ou intenção “solista” de Burrell a infiltrar-se na densidade destas “reduções ao piano”, mais pelas ocasionais derivas harmónicas ou nas suspensões e inversões dos arcos de tensão das canções, do que pela expressão melódica de frases solistas que, sendo de grande qualidade, vigor e virtuosismo, eram, sem grandes excepções, rigorosamente enquadradas numa perspectiva historiográfica da música apresentada.
Solidamente assente no rigor académico e na capacidade de execução que a sua longa formação académica como compositor, arranjador e intérprete parece ter gravado no seu código genético— primeiro na Universidade do Hawaii, depois na Berklee, de onde saiu em 1965 para a cena de vanguarda nova-iorquina, afirmando-se como um dos mais inovadores pianistas do panorama, tendo colaborado com Marion Brown, Pharoah Sanders, Archie Shepp e Albert Ayler, entre tantas outras referências do free e do avant-jazz— Dave Burrell, aparentemente empenhado na redescoberta da capacidade expressiva das grandes canções “clássicas”, nas suas versões “orquestrais” e “intactas”, prestou um tributo às canções, aos seus compositores e arranjadores, numa forma de concerto que, apesar da proximidade física entre o público e o criador, parece ter usado as próprias canções como barreira em substituição do palco, tornando-se o seu solo— normalmente um exercício de grande risco e exposição—, num fluxo organizado e denso, com a solidão e exposição do criador-intérprete a ser completamente “atropelada” pela quantidade de vozes e funções que a sua técnica convocou.
Mas este exercício de enquadramento estrutural das canções operou também, em alguns casos de forma surpreendente, a construção de novas-velhas “imagens” ou “espaços” deste reportório “clássico”: sugeriu imagens de cabaret quase brechtiano para “Embraceable You”, de Gershwin- cuja relação com Kurt Weill é objecto interessante de estudo na definição dum certo “jazz clássico”- e invocou o ambiente das salas de cinema mudo e das suas pianolas mecânicas nos ragtimes originais do próprio Burrell, como “Astoria Rag” ou “Margy Pargy”, mas também em “It don’t mean a thing if it ain’t got that swing”, de Duke Ellington, com uma certa ironia.
Com o (pouco) público que enchia a sala da Culturgest Porto a aderir com algum entusiasmo, mais claro no momento de apresentação dos temas do que nas ocasionais derivas expressivas, Dave Burrell despediu-se com dois temas originais, “The Edge” e “With a Little Time”, que confirmaram a sua capacidade composicional e orquestral na invocação rápida de imagens fortes e no estabelecimento duma narrativa.
De alguma forma, e em resumo, este concerto a solo assemelha-se mais à apresentação de “reduções ao piano” dum reportório que Dave Burrell domina e apresenta com inteligência e vigor, num formato mais comum no universo da música clássica erudita, que pode resultar “estranho” ou pelo menos excessivamente formalizado, académico ou até abstracto, dependendo da experiência pessoal dos ouvintes.

Uma última nota para o piano disponível na Culturgest Porto que, para sermos justos, só disfarçou as suas fragilidades até ao 4º tema, deixando depois no ar uma insinuação permanente de desafinação e fragilidade tímbrica, completamente desnecessária.

Texto escrito por João Martins. Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 29 da revista jazz.pt. A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.