O Jazz no Parque começou no fim de semana passado e dei por mim a pensar que, de facto, já passou pouco mais de um ano desde que comecei a colaborar na jazz.pt. Momento de balanço? Pode ser…
Foi a convite do Rui Eduardo Paes que iniciei esta colaboração que me tem dado muito a aprender sobre a música, a escrita sobre música, o gosto (meu e dos outros), o(s) público(s) e as dinâmicas entre músicos, lugares, eventos, instituições e públicos. Combinações voláteis e muitas vezes ilusórias que a observação atenta nunca desmonta completamente. Continua a ser o Rui a “marcar” a minha agenda de colaborações e isso é, apesar de tudo, confortável, até porque me sinto suficientemente apoiado e confiante para poder avançar com propostas minhas e “temperar” algumas das dele. Mas não fui eu que avancei com a ideia do artigo sobre a “minha” Fanfarra (#17) nem sobre as escolas de Jazz em Aveiro (#18), apesar de ser nesses casos, mais responsável e não ser, de todo, um trabalho igual aos “reports” sobre concertos que comecei a fazer em Julho de 2007.
Medeski, Scofield, Martin & Wood @ Casa da Música 2007/07/06
O report foi publicado no #15 por falta de espaço no #14. Começar esta nova função com um concerto desta dimensão, na Sala Suggia, com muito público e com várias eminências (umas mais pardas que outras) do Jazz em Portugal nas proximidades foi uma experiência curiosa. A reacção muito simpática do Rui Eduardo Paes ao texto, foi importante para estabelecer a relação de confiança que tem prolongado e aprofundado a colaboração. O facto de ter sido um concerto de (ou com, como preferirem) “consagrados” e de ter ficado abaixo das (minhas) expectativas foi também um desafio, que justificou na altura, e continua a justificar, este meu investimento voluntário. A publicação em diferido, largos meses depois do concerto, habituou-me às contingências duma revista bimestral, que confere aos textos um peso bem diferente do bitaite de circunstância ou do post impressivo/intempestivo. O que eu faço na jazz.pt não se trata (creio) de crítica “pura” ou matéria jornalística (eu sou músico e, por essa via, público especializado, mas não sou nem crítico nem jornalista), mas cumpre parte do papel da crítica e, nesse sentido, reveste-se duma importância que não me passa ao lado. Infelizmente, é (ainda?) um exercício com muito pouco retorno e, por isso, evolui ao meu ritmo.
Jazz no Parque 2007 @ Serralves 2007/07/21 a 2007/08/04
Matt Wilson’s Arts & Crafts
Orquestra de Jazz de Matosinhos com John Hollenbeck, Theo Bleckmann e André Fernandes
Strada, o sexteto de Henri Texier
O primeiro “festival” que cobri, com publicação no Especial Festivais do #14 e, portanto, a primeira colaboração a chegar às bancas. Escrever sobre os 3 concertos em particular, ao mesmo tempo que escrevia sobre o Festival (ou o seu contrário) foi um óptimo complemento às agradáveis tardes de verão e música.
Anthony Braxton @ Casa da Música 2008/01/28
Uma enorme responsabilidade, perante o génio de Anthony Braxton e face à(s) particularidade(s) da(s) sua(s) proposta(s) e da(s) sua(s) relação(ões) com o(s) público(s). O report foi publicado no #17 e é um marco, para mim: um dos melhores (e mais estimulantes) concertos a que assisti nos últimos tempos, deu, felizmente, origem a um texto de que me orgulho.
Marta Hugon | Fieldwork @ Casa da Música 2008/02/03
Uma estranha proposta dupla da Casa da Música: a suavidade (excessiva) de Marta Hugon é verdadeiramente inconciliável com a áspera densidade de Fieldwork. Uma óptima oportunidade para ver como funciona(m) o(s) público(s) de jazz. Report publicado também no #17.
F.R.I.C.S., um ano de estrada
O desafio para escrever sobre a experiência de digressão missionária e contínua da F.R.I.C.S. foi lançado uns meses antes, mas precisou de ser “digerido” até que eu encontrasse um formato adequado. Viu a luz do dia no #17, e é uma peça honesta, algures entre o “diário de guerra” a reportagem objectiva e plena de dados relevantes e a reflexão sobre as nossas particularidades (do projecto, dos músicos portugueses e das pessoas em geral…). Além disso, soberbamente ilustrada com as fotomontagens dos Soopa. Um documento.
Escolas de Jazz em Aveiro: Riff e Oficina de Música de Aveiro
A minha primeira colaboração na série de artigos que a revista dedica aos projectos pedagógicos espalhados pelo país aconteceu no #18. Um panorama que tentei que fosse amplo, honesto e construtivo e que espero possa ajudar os projectos da cidade a crescer. Permanece a dúvida sobre quem lê a revista e que reacção terá, infelizmente. Mesmo localmente.
Bernardo Sassetti e convidados @ Casa da Música 2008/04/28
Jason Moran @ Casa da Música 2008/04/29
Dois concertos unidos pelo piano e pela forma da homenagem a figuras incontornáveis da História do Jazz: Charlie Parker, primeiro e Thelonious Monk., depois. Homenagens reais e com sentido, não simples vénias. Momentos para aprender e comprovar como se constrói o futuro do Jazz aos ombros de gigantes. Grandes concertos. Report neste último #19.
Scorch Trio @ Casa da Música 2008/05/27
Um cruzamento do Ciclo Nórdico com a Programação de Jazz que não foi bem explicado ao(s) público(s) e, por isso mesmo, frustrou muitas expectativas de quem vinha ao engano. O report está neste último #19.
Nos últimos 6 números, “falhei” um, o #16, com o balanço de 2007 e nem tudo tem corrido como devia, mas estou pessoalmente satisfeito com o que já consegui fazer e com o que me parece que já aprendi. E agrada-me estar voluntariamente associado a um projecto desta natureza: corajoso, honesto e exigente, mesmo que fruto do sacrifício pessoal de todos os envolvidos. (mais) Um exercício de militância…
Caso agradem ao editor os textos já submetidos, o próximo número contará com reports sobre a apresentação de Blood on the Floor, de Mark-Anthony Turnage, pelo Remix Ensemble, na Casa da Música (2008/07/05) e sobre o insólito evento protagonizado (involuntariamente) pelo Saxophone Summit na Casa da Música (2008/07/10).
Estou a ponderar a hipótese de pedir autorização à revista para ir publicando online excertos destes reports já publicado, para tentar aumentar a possibilidade de colher comentários e, quem sabe, sensibilizar potenciais leitores para o interesse de apoiar o projecto da revista, comprando-a. A ver vamos.
Mas, para já, este é um possível balanço do primeiro ano de colaboração. Excepção feita à talvez excessiva concentração sobre eventos na Casa da Música, não parece muito mal, pois não?
Nota: para quem não reparou, os links nos eventos da Casa da Música remetem para a Last.fm porque a Casa da Música não tem arquivo de eventos no seu site. Não faz muito sentido pois não?