O exercício de adormecer uma criança ou a simples assistência a esse acto é, na minha humilde opinião, um remédio infalível para a insónia. Já experimentaram?
Categoria: puericultura
Como é que conseguem?
A Cláudia está a frequentar um Curso de Mestrado em Guimarães. Tem aulas à sexta e ao sábado, pelo que eu e a Maria ficamos entregues um ao outro durante um dia e meio por semana. É óptimo pelas razões óbvias da exclusividade de mimos e brincadeiras, mas também é muito difícil e trabalhoso, às vezes. Muitas vezes, nas coisas mais elementares e em que pensamos menos, é incrível a falta que faz mais um par de braços ou pernas, para segurar aqui, enquanto se pega nisto e “aproveita e chega-me aí o creme, que ela já está a fugir”… ufa! São principalmente estas rotinas “funcionais” do início e do fim do dia, com mudanças de roupa e higienes, que me fazem ter um respeito enorme por quem consegue exercer este papel de pai ou mãe a solo e de forma permanente. Imagino que esta minha condição “intermitente” seja uma das razões para tanta nabice e eventual frustração, mas é verdadeiramente notável, para mim, o trabalho que os pais e mães sozinhos conseguem fazer. Autênticas proezas quotidianas.
Por isso, daqui vai uma grande vénia de respeito para todos vós.
Maravilhas da Maria
Estou a olhar para a Maria, sentada na sua cadeira, garfo na mão, a comer alegremente grandes pedaços de melão, depois de ter despachado um belo prato de massa e, claro, a sopinha da praxe. Esta habilidade de comer sozinha tudo o que se possa espetar com um garfito tem umas semanas e é espantosa, como são espantosas tantas outras coisas que ela faz e é e que não se percebem no finzinho redentor do último artigo que escrevi sobre ela.
Por isso, com a ajuda da Cláudia, para ser mais imparcial 😉 , decidi listar 7 Maravilhas da Maria, sem nenhuma ordem em particular e que são apenas a ponta do icebergue.
A Maria diz muito bem “olá” desde muito pequenina
O simpático “olá” que é dirigido a desconhecidos que lhe chamam a atenção, mas não “a pedido”, antecedeu o “mãmã” e “papá”, o “anda”, o “qué”, que pode querer dizer muitas coisas e uma série de sons quase-palavras que usa de forma consistente para se dirigir ou referir coisas muito significativas: bolachas, saídas à rua, encontros com animais, que despertam um “au-au”, independentemente das nossas tentativas de lhe explicar que nem tudo são cães.
A Maria identifica com facilidade crianças e animais
Seja na vida real, seja em representações (fotografias, vídeos e mesmo desenhos), as crianças despertam-lhe uma atenção muito particular e distingue mesmo entre bébés e outras crianças, aparentemente. Assim como os animais, que identifica com o tal “au-au”. Quer num caso, quer noutro, há sempre dedos apontados e uma vontade enorme de aproximação.
A Maria gosta de laréu
Há poucas coisas que a entusiasmem tanto como a ideia de sair de casa. De qualquer casa. Sair, em geral é motivo de grande entusiasmo. E identifica sinais de que isso está para acontecer: se alguém veste um casaco ou pega numa mala ou carteira, a Maria dirige-se à porta ou ao carrinho e deixa claro que, se alguém vai sair, ela também vai. Às vezes é embaraçoso, porque ela está pronta para sair com quem quer que seja e, mesmo que a alternativa seja um colo de pai ou mãe, ela prefere dirigir-nos um xau com a mãozita e insiste na saída. E se não há sinais de saída e ela tem vontade, vai até à porta e faz-nos saber que são horas de sair. Não faz birras nem tantras como já vimos noutras crianças: deixa apenas claro que gostaria de sair e fica incrivelmente satisfeita se a levamos a passear nem que seja para uma volta de 20 metros, no passeio em frente a casa. Reconhece, além disso, várias palavras relacionadas com as saídas: ir à rua, sair, ir ao laréu, dar uma volta, passear… tudo são expressões que o “radar” dela reconhece.
A Maria brinca com quase tudo
Sozinha e acompanhada, a Maria encontra formas de brincar e testar as suas capacidades em muitos contextos e com os mais variados objectos. Gosta dos seus brinquedos, incluindo os Legos que ainda não consegue montar muito bem, mas com os quais dá instruções precisas ao montador de serviço, mas brinca igualmete com gosto com um telemóvel, vários tupperwares, sapatos, panos, garrafas vazias nas quais possa tentar enroscar as tampas e o que mais houver. E a cada brincadeira, descobre possibilidades novas e surpreende-nos com a sua perícia manual. Além disso tem um óptimo sentido de humor e ri-se com umas gargalhadas luminosas quando encontra um divertimento mesmo giro.
A Maria adora música e dança que é uma maravilha
Ouve-se muita música cá em casa e não se ouve música para bébés. A Maria, parece que gosta que assim seja: gosta de muitas músicas, de músicas variadas e reage aos estímulos com várias danças, parecidas entre si (ora abana o rabiote, ora abana a cabeça, ora põe as mãos no ar), mas que denunciam uma percepção muito clara das diferenças entre um disco dos Gaiteiros de Lisboa e do Anthony Braxton, por exemplo. Ritmos bem marcados ajudam-na a perceber como dançar, músicas curtas e com finais claros garantem palminhas no fim, mas a variedade de reacções é estonteante. Ainda hoje, a ouvir Hermeto Pascoal fazer um dos seus solos cantando com água, a Maria desatou a cantar passando os dedos pela boca (numa habilidade vocal que já tinha aprendido), conjugando admiravelmente o “glu-glu-glu” do Hermeto com o seu “brle-brle-brle”.
De resto, a quantidade incrível de sons que já faz deve-se tanto à capacidade de imitação dos tontinhos dos pais e dos avós, como à panóplia de músicas e sons que se ouvem cá em casa e a que ela presta muita atenção.
A Maria gosta de livros
A Maria escolhe livros que nos traz para nós contarmos as histórias. Fica radiante quando recebe um livro novo e alterna entre querer ver, querer ouvir e querer morder os livros. Aponta para as figuras, vira as páginas e gosta muito de chegar ao fim e dizer “tá-tá”, para recomeçar tudo do princípio. Durante algum tempo, todos os livros mereciam um “olá” sonoro, porque um dos seus primeiros livros tinha uma girafa na capa que dizia “olá”, mas agora já nem todos os livros têm o mesmo título.
A Maria dá beijinhos
Uma habilidade extraordinária, que muita inveja tem causado entre outros pais e adultos em geral. Não só dá beijinhos, como decide quando os dar e a quem, dirigindo um beicinho muito evidente. Os pais são os destinatários mais comuns destas ternuras, mas também já assim dirigiu beijos aos avós e outros familiares e mesmo a amigos da família. E, mais do que isso não o faz só a pedido e nem sempre reage aos pedidos. Há alturas em que é ela que se lembra de dar beijinhos, já oportunisticamente, por vezes, quando fez um disparate ou nos quer pedir alguma coisa, e há alturas em que simplesmente não lhe apetece dar beijinhos.
Mas é ternurenta e sabe dirigir essa ternura, a bem da paz familiar.
Volta e meia, sai-me uma barbaridade destas pela boca fora. Quando a Maria está muito irrequieta, durante uma muda de fralda mais complicada, ou quando me escapa pela enésima vez para ir fazer de conta que brinca com uma tomada1, dou mostras da minha falta de paciência com uma destas afirmações absurdas de se dirigir a uma filha com quase 15 meses. Porque é absurdo dizer que já me estou passar, considerando tudo o que ainda aí vem: se me estiver a passar por ela insistir em coçar o rabiote ou passear quando lhe mudo a fralda ou por gatinhar a alta velocidade até um ponto proibido2 e fazer uma das fitinhas dela, o que é que faço quando ela chegar à idade das perguntas repetitivas ou quando for, simplesmente autónoma a caminhar, ou nessa maratona de esforço parental que há-de ser a adolescência?
Ainda assim, às vezes sai-me um “já me estou a passar contigo, Maria!“, com mais ou menos colorido3 e, logo a seguir a dizê-lo, tenho vontade de rir. É que é verdade que me estou a passar com a Maria, mas precisamente por todas as outras coisas: pela autonomia, pelo sentido de humor, pela ternura, pela inteligência, pela perspicácia, pela rapidez, pela curiosidade, pela beleza4… por tudo.
Não me lembro de ter feito nada para merecer tão boa experiência enquanto pai. A não ser “encontrar” uma mãe estupenda. Seja o que for, obrigado a quem de direito.
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1 estão todas protegidas, mas é importante educar para o perigo como se não estivessem
2 ela já conhece bem os “pontos proibidos” da casa e uma forma de o demonstrar é ir muito depressa até eles, estender uma mãozita e fazer um olhar maroto como quem diz “é aqui que eu não posso mexer, não é?”
3 recuperei o “caramba” para o meu vocabulário desde que sou pai
4 deixem-me ser vaidoso
O melhor de 2008
Não tinha ainda escrito aqui sobre isto, por ser demais evidente que o melhor de 2008 foram os 223 dias e 5 horas em que a Maria nos acompanhou.
Há dúvidas?
Filmes da Terra do Pai Natal é um projecto do Space Ensemble em parceria com Finnish Film Contact e conta com o apoio da Embaixada da Finlândia em Lisboa.
O programa, foi especialmente criado para as crianças do ensino pré-primário e primário, e é composto por curtas metragens de animação, contemporâneas, do realizador Heikki Prepula e de episódios da série Turilas & Jäärä, dos realizadores Ismo Virtanen e Mariko Härkönen.
Neste projecto o Space Ensemble apresenta-se com Ana Veloso (guitarra), Eleonor Picas (harpa), Henrique Fernandes (contrabaixo e acordeão), João Martins (saxofones, melódica, flauta e berbequim), João Tiago Fernandes (bateria e marimba), José Miguel Pinto (guitarra e theremin), Nuno Ferros (electrónicas) e Sérgio Bastos (piano).
As sessões na Casa da Música, segundo nos informaram, já estão esgotadas, mas temos datas confirmadas ainda antes do Natal, em Viseu, Aveiro e no Alandroal.
A lista total em 2008 (para já) é esta:
Casa da Música, Porto
20 e 21 de Novembro 2008 | 11h00 e 14h30 (Sessões reservadas para Escolas)
13 de Dezembro de 2008 | 16h00
Teatro Viriato, Viseu
5 de Dezembro 2008 | 10h30 e 15h30 (Sessões reservadas para Escolas)
6 de Dezembro 2008 | 16h00
Teatro Aveirense, Aveiro
10 de Dezembro 2008 | 10h30
Fórum Cultural Transfronteiriço do Alandroal
12 de Dezembro 2008 | 10h30
Nós estamos a gostar imenso desta experiência e esperamos ansiosamente que as crianças adiram.
Eu, pessoalmente, ando a tentar encontrar uma boa estratégia para a Maria poder assistir, apesar de não ser uma coisa pensada para bebés.
Desabafo
Estou plenamente convencido que a capacidade dum pai se sentir confortável afastado dum filho é inversamente directamente proporcional à idade deste último.
Quero com isto dizer que este afastamento forçado por pouco mais duma semana da minha Maria, que ainda só tem 4 meses, está-me a pôr com os nervos em franja. Chamem-me frágil, papá-galinha, mariquinhas ou outra coisa qualquer, mas cada dia que passa é um dia arrancado a ferros. Felizmente recebo fotografias novas todos os dias e tenho novidades frescas à distância dum telefonema. Mas nada (nem a generosidade da Cláudia), me convence que não estou a perder, dia-a-dia, momentos irrepetíveis.
E sei que, com o passar do tempo, a tolerância a este afastamento vai melhorar. Faz parte do crescimento dela, enquanto criança e do nosso, enquanto pais. Mas agora (e até domingo) tudo me faz falta.
Quem sai aos seus…
O pai: 31 anos, 1,56m de altura, 55Kg de peso
A mãe: 30 anos, 1,55m de altura, 55Kg de peso
A filha: 2 meses, 0,59m de altura, 5,95Kg de peso
Para quem nunca olhou para as curvas de percentis de crescimento nos boletins de saúde infantil ou não está familiarizado com o ritmo de crescimento dos bebés e crianças, saibam que isto quer dizer que, apesar dos pais da criança serem mais pequenos do que 95% dos jovens de 20 anos (nestas tabelas), a criança é maior do que 90% a 95% das crianças da sua idade:
É caso para dizer que, às vezes, quem sai aos seus não só não degenera, como parece regenerar. 🙂
E o comentário mais frequente continua a ser: “que bebé tão grande!” 😉
Coisa mais linda!
DSC00007.JPG, colocada no Flickr por joaomartins.
Já há muito tempo que sabia que os pés dos bébés são um exagero de “ternura”. Agora, que o bébé é “meu” e que posso passar horas a olhar para os pézitos, posso afirmar, sem dúvida nenhuma, que têm um efeito hipnótico que desencadeia, além do ocasional suspiro, pequenas e breves exclamações. “Coisa mais linda!”
A Farmácia Universal
Continuo a ser pouco experiente, mas posso afirmar, por experiência própria, que um bébé pode ser:
- ansiolítico
- anti-depressivo
- relaxante
- soporífero
- anestésico
- revigorante
- estimulante
- …
É fascinante constatar que todos estes estados (e mais), que muitas vezes são induzidos por intoxicação farmacológica, podem resultar simplesmente do contacto com um bébé. O problema é que não sabemos nem podemos controlar ou programar o efeito. Mas, genericamente, considerando a totalidade de efeitos combinados à escala “universal”, é um dos únicos remédios do mundo em que podemos mesmo confiar.