Começou neste dia 15 e prolonga-se até dia 25 o ciclo Silêncio, promovido pelas Oficinas sem Mestre, aqui em Aveiro, com iniciativas a decorrer no Teatro Aveirense, no PerFormas e no Mercado Negro. A iniciativa é de peso, com manifestações diversas (workshops, conferências, exposições, concertos, teatro, filmes comentados, etc) e agitando, de facto, quase todo o tecido cultural da cidade. No dia 23, modero um painel dedicado ao Declínio da Era da Palavra, mas aconselho vivamente uma consulta atenta e profunda a toda a programação:
SILÊNCIO
Toda a palavra ou enunciado são precedidos por uma voz silenciosa, por um sonho acordado repleto de imagens e de pensamentos difusos sempre actuantes no nosso íntimo. As formulações que daí emergem podem depois ser esmagadas logo à nascença. As ditaduras, na essência ou nas margens dos regimes políticos, ou como doença viral em relacionamentos pessoais, tendem a calar o indivíduo. A modernidade, por outro lado, leva a mal o silêncio.
A palavra sem fim e sem réplica prolifera em detrimento da palavra renascente da comunicação quotidiana com os nossos próximos. Falamos da palavra que muda de estatuto antropológico: sai da ordem da conversa, entra no domínio dos mass media, das redes, dos telemóveis. Invasora, vã e tranquilizante. Philippe Breton falava do paradoxo de uma sociedade “altamente comunicante e fracamente coincidente”.
Mas não devemos avaliar o silêncio apenas por antifrase. No início dos anos 60, George Steiner já proclamava o “declínio do primado da palavra”, por um lado devido a factores sociais (tendência para crescente iliteracia, incluindo as elites económicas e políticas) e por outro, devido à evolução técnico-científica (que leva à valorização de outras linguagens, nomeadamente a linguagem matemática). Se alargarmos a geografia das nossas reflexões, veremos também que Ocidente e Oriente assumem estratégias distintas de significação do silêncio e da palavra. Falemos então de silêncios – os que crescem connosco, os que conservamos, os que estranhamos, os que quebramos.
PROGRAMAÇÃO
15 de Abril | Quinta-feira
PERFORMAS | O SILÊNCIO NO CINEMA – I
22H00 | Exibição do filme «The Bow» («O Arco») de Kim Ki-duc (Coreia do Sul, 2005, 90’) seguido de debate
23H45 | Filme escolhido pelo público de entre uma pré-seleccão de filmes feita pelas OSM
16 de Abril | Sexta-feira
PERFORMAS
21h30 | Painel I – OLHAR O SILÊNCIO: IMAGEM E COMUNICAÇÃO
- Adriana Baptista, docente da ESE e da ESMAE, apresenta «Nas imagens, o silêncio diz tudo ao mesmo tempo»
- Paula Soares, docente da UA/DeCA, apresenta «Uma retórica do silêncio, João César Monteiro»
Moderação: Rui Baptista, jornalista (Lusa)
17 Abril | Sábado
MERCADO NEGRO
17h00 | Inauguração de Exposições
- «Sobre Perder Tempo», Envelopes Anónimos, autor anónimo
- «Personagens imaginárias ou imaginários de uma personagem», fotografia, mariana de almeida
- No exercício constante do fazer de conta, faz de conta que é actriz. Significa, exprime, divaga estados de (in)consciência, gestos, silêncios, sentimentos, máscaras. O retrato do imaginário, transparece uma multiplicidade de reflexões, como que numa casa de espelhos, sabendo-se que neles as imagens são intocáveis.
“ (…) a máscara é o sentido quando é absolutamente pura…”, Roland Barthes - «Silêncio», colectiva de pintura (listagem definitiva de artistas a anunciar)
- Projecção (contínua) do filme «La Maison des Petits Cubes» de Kunio Katõ (Japão, 2008, 12’3’’)
- Intervenção cénica, «Larilalá», Larissa Latif
18h00 | COMUNIDADE DE LEITORES ALMA AZUL
- A partir da obra «Amigo e Amiga – Curso de Silêncio de 2004» de Maria Gabriela Llansol.
- Projecção do filme «Curso de Silêncio» de Vera Mantero (Portugal, 2007).
17 Abril | Sábado
PERFORMAS
21h30 | Painel II – SILÊNCIO NA LITERATURA
- Isabel Cristina Pires, psiquiatra, poetisa
- Paulo Pereira, docente da UA/DLC, apresenta «Alguns afluentes do silêncio na poesia contemporânea portuguesa»
- Lurdes Maria Costa, mestranda na UA/DLC, apresenta «O silêncio é o sítio onde se grita – a poesia de Ary dos Santos»
“O silêncio não é apenas a subtracção da palavra. O grito, o riso, a palavrosidade excessiva, a afronta, o insulto e a obscenidade, a exuberância … também são formas de silêncio.” - Irene Alexandre, mestranda na UA/DLC, apresenta «Silêncio na obra de Gonçalo M. Tavares»
O painel conta ainda com a participação de Rui Pedro cantando Ary dos Santos
Moderação: Maria do Rosário Fardilha (socióloga)
23h30 | Recital de Poesia de Alberto Serra com participação especial dos músicos Marco Oliveira e Rui Pedro
“O Silêncio é de todos os rumores o mais próximo da nascente” – Eugénio de Andrade
18 de Abril | Domingo
Sala-estúdio TEATRO AVEIRENSE
11h00-12h00 | Workshop NO SILÊNCIO ACONTECE, orientado por Luísa Vidal (docente de artes visuais e artista plástica) e Tânia Sardinha (docente de artes visuais e formadora na área da criatividade)
Por meio de actividades lúdicas e de carácter plástico, estimular a criatividade, desenvolver a capacidade de expressão e comunicação, e potenciar a partilha na experiência entre pares e em grupo.
Pretende-se também promover a relação e o vínculo afectivo entre avós e netos, através da construção de um espaço e de um tempo onde a criatividade de gerações distintas possa fluir lado a lado.
Destinatários do workshop: avós e netos dos 3 aos 55 anos
17h30-19h30 | Workshop SILÊNCIO, INTERIORIDADE E EXPRESSÃO, com Maria João Regala (psicoterapeuta)
O corpo atravessa o silêncio em novas linguagens. Usa o movimento, a improvisação, a acção. No olhar do outro encontra, decifrada, a sua imagem. Muitas perguntas, respostas transitórias, estranheza, empatia, inquietação e espanto. Do encontro nasce o novo – não sei ainda se um casulo, uma planície ou um castelo.
Destinatários: a partir dos 18 anos
18 de Abril | Domingo
PERFORMAS
21h30 | O NADA, peça da autoria do Ceta – Círculo Experimental de Teatro de Aveiro
21h45 | Painel III – SILÊNCIO E (DES)ORDEM
- José Tolentino Mendonça, poeta e teólogo (sujeito a confirmação)
- Ricardo Ribeiro, compositor, apresenta «Silêncio e transversalidade nas artes»
“É na sua íntima ligação ao vazio, que o silêncio alcança a sua imperecível dimensão de transversalidade artística…
Do silêncio ao vazio, do vazio à fragilidade: a fragrância do pequeno e do mínimo, é o pouco que sugere o muito, o finito que engendra o infinito…” - António Morais, presidente da Direcção do Ceta, apresenta «O duplo silêncio e o absurdo»
“A origem do teatro acontece depois do silêncio, depois da noite, depois da escuridão… então o homem acorda e descobre o absurdo da sua própria existência… e regressa ao silêncio, à noite, à escuridão, ao nada… O espelho teatral reflecte o absurdo da vida, amenizando-o… Há dois silêncios que envolvem as palavras. Um silêncio que as precede e um outro silêncio que as sucede…” - Ana Cruz, mestre em Direito, apresenta «O sagrado direito ao silêncio ou o silêncio no direito?»
“Em sede de Direito Penal, o direito ao silêncio aparece relacionado com os direitos fundamentais e garantias individuais consagradas na Constituição da República Portuguesa e é considerado como uma garantia fundamental na ordem juridíco-constitucional. (…)”
Moderação: Carlos Picassinos (jornalista)
22 de Abril | Quinta-feira
PERFORMAS | O SILÊNCIO NO CINEMA – II
21h30 | Exibição do filme «Há lodo no cais» de Elia Kazan (EUA, 1954), 108’ seguido de debate com Maria do Rosário Fardilha
23H45 | Filme escolhido pelo público de entre uma pré-seleccão de filmes feita pelas OSM
23 de Abril | Sexta-feira
PERFORMAS
21h15 a 22h45 | Performance de levitação/imobilismo de Toino de Lírio, The Static Man
21h30 | Painel IV – O DECLÍNIO DA ERA DA PALAVRA
- Isabel Cristina Rodrigues, docente da UA/ DLC, apresenta «Silêncio na Literatura»
- Fernando Almeida, geofísico, docente da UA/ Depto Geociências e Jorge Hamilton, mestre em Geociências, apresentam «A verdade e o declínio da era da palavra»
“(…) a nossa verdade é também uma homenagem ao grandioso mestre [Professor Frederico Machado]. Porque este viveu a erupção dos Capelinhos, vamos tentar recriar o momento numa projecção de um filme de 5 minutos ao qual sobrepusemos som virtual. Deste modo, esta verdade também é uma mistura de várias realidades que permite despertar sentimentos.” - David Vieira, docente apos. da UA/Depto Matemática, apresenta «Linguagem matemática: pontes quebradas – força e fraqueza»
Moderação: João Martins (sonoplasta)
23h30 | Performance de levitação/imobilismo de Tonio de Lírio, The Static Man
Seguido de actuação de Toino de Lírio como DJ
24 de Abril | Sábado
PERFORMAS
18h30 | Painel V – SILÊNCIO NA MEMÓRIA COLECTIVA
Exibição da curta metragem A Cela Branca (Portugal, 2006, 6’13’’) de Ivar Corceiro
Exibição do filme Dundo Memória Colonial (Portugal, 2009, 60’) de Diana Andringa
Seguidos de debate com:
- Diana Andringa, jornalista e realizadora.
- Isabela Figueiredo, escritora, autora de “Caderno de Memórias Coloniais” (2009)
- Celina Pereira, cantora e contadora de histórias cabo-verdiana, autora de “Estória, Estória… Do Tambor a Blimundo”
Moderação: Catarina Gomes (antropóloga)
22h30| Auditório PERFORMAS – Concerto Celina Pereira
24h00 | DJ set Couscous Prosjekt (Bagaço Amarelo e Moabird): «Depois do silêncio, uma alvorada em Abril»
25 de Abril | Domingo
MERCADO NEGRO
16h00 | Atelier Cartazes Políticos – exploração didáctica e criativa de uma amostra da colecção cedida por Francisco Madeira Luís ao Núcleo Museológico da UA.
Criação: Oficinas Sem Mestre e docentes do 3º Ciclo e Secundário.
18h00 | Exibição do filme «Cruzeiro Seixas: O Vício da Liberdade» da autoria de Alberto Serra, realizado por Ricardo Espírito Santo (Portugal, 2010) 54’ seguido de debate com Alberto Serra.
22h00 | “OTRA VEZ MARCHAR”
Espectáculo musical a definir.
Leitura de poesia e prosas de liberdade, por Oficinas Sem Mestre
PROGRAMAÇÃO PARALELA
PERFORMAS | Mercado do livro do Silêncio – selecção Livraria Langue D’OC
+ info: silencioemaveiro.blogspot.com