“Não sou grande adepto deste tipo de coisas” parece ser a fórmula standard para iniciar estes artigos, apontando depois o dedo a quem nos “enrolou” na teia. De facto, dependendo do tema e das motivações da parte de quem passa a bola, estas cadeias de artigos não me fazem demasiada impressão. É o caso.
Quem me pôs nesta cadeia foi, simultaneamente, a Maria João Valente e o Marcos Marado e a ideia é destacar cinco filmes. Não exactamente os cinco filmes preferidos ou cinco filmes que se aconselham: apenas cinco filmes de que gostei.
Sendo assim, a responsabilidade não é grande. Para facilitar a minha escolha decidi concentrar-me em filmes de animação, que é um género que aprecio bastante e que fica muitas vezes fora das escolhas das pessoas sérias.
Além disso, é quase Natal (que é um argumento tonto que serve quase para tudo, certo?).
Então cá estão cinco filmes de animação de que gostei particularmente:
A Suspeita, de José Miguel Ribeiro (Portugal, 1999)
É um filme de animação com bonecos de plasticina, português, passado num comboio. Excepcional a vários níveis.
Vi os bonecos e parte dos décors em exposição na estação de comboios de S. Bento, no Porto (creio que o projecto teve um apoio da CP) e não descansei enquanto não vi o filme. Muito bom e muito recomendável. E bastante premiado. Não faço ideia se se encontra em algum circuito comercial, mas devia.
Quando soube que alguém estava a tentar trazer o personagem maior de Hugo Pratt ao cinema, tive arrepios: a probabilidade de ser um desastre era enorme. Mas a verdade é que o projecto da ELLIPSANIME, dirigido pelo Pascal Morelli e muito apoiado em todas as vertentes, desde a realização plástica, à banda sonora, passando pela fotografia e o casting de vozes, é extraordinariamente bem conseguido. Não é perfeito, mas para isso é que existem os álbuns e a nossa imaginação. 😉
Este é um clássico instantâneo. Um daqueles que dá vontade de dizer “dispensa apresentações”. Tudo funciona neste filme que, além do mais, tem uma banda sonora excepcional.
Outro clássico instantâneo, da dupla Tim Burton / Danny Elfman. Poderia igualmente ter destacado o igualmente excepcional A Noiva Cadáver (dentro da lógica dos filmes de animação), mas este é anterior e mais natalício.
Para mim, este é um filme da dupla Burton/Elfman porque o papel desempenhado pela música nestes filmes é avassalador e porque sou um fã quase incondicional do trabalho do Danny Elfman. O requinte gráfico é, como nos restantes filmes escolhidos, delicioso.
E é mesmo natalício. 😉
Uma escolha japonesa, para equilibrar os universos da animação europeia e americana e para reconhecer o papel fundamental da produção asiática no progresso da animação como forma avançada e popular de arte. Além disso, o universo criado por Masamune Shirow nas suas variadas encarnações (livros, filmes, jogos) teve repercussões visíveis em objectos tão populares como a saga Matrix e é uma referência, ainda que muitas vezes encoberta, em muitas outras explorações do universo “cyberpunk”.
Fora tudo isso, é uma obra graficamente ao nível do melhor que se faz no género e a profundidade do guião é considerável, se estivermos disponíveis para embarcar em devaneios pseudo-existencialistas nos limites da definição do que pode ser uma Inteligência Artificial.
A minha escolha, pouco ponderada e centrada na animação, é esta. Tentei, mas duvido que tenha surpreendido alguém.
Passo a bola à minha irmã e ao meu pai, que são família e não devem levar a mal. E ao dactilógrafo, que gosta muito de cinema e já me fez responder a uns questionários cinéfilos do facebook. E, para acabar, ao Nuno Rebelo, que tem uma relação especial com o meio audiovisual e de quem me lembrei ao assistir a uma conferência do Christian Marclay na Tate Modern, nesta viagem recente.
Não levo a mal a ninguém se quebrarem a cadeia, como é óbvio. Nem pus este artigo com essa preocupação.
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