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Maria e Valentim

Pediram-me para pôr alguma coisa numa caixa para que a Maria a receba, como carinho, amanhã.

Para mim, as caixas são de música.

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O percibo

Toda a gente sabe que os umbigos são grandes apreciadores de cotão. O que nem toda a gente sabe é que, às vezes, nem os mais gulosos dos umbigos conseguem comer todo o cotão que encontram.
Foi precisamente numa altura em que um umbigo com mais olhos que barriga se deparou com uma montanha de cotão— tão grande que o deixou em sérios apuros—, que um bando de percibos apareceu em seu auxílio.
Agora estamos habituados a ver percibos e umbigos sempre juntos, os primeiros a alimentarem-se calmamente das sobras dos primeiros, mas até esse episódio inaugural, os bandos de percibos eram conhecidos apenas por andarem assim, em bando, e estarem sempre disponíveis para ajudar criaturas maiores: umbigos, tornigos, comigos…
Desde esse dia, de grande aflição para o umbigo em causa, a preciosa ajuda dos percibos passou a ser habitual. Tão habitual como a impaciência dos tornigos, a sonolência dos comigos e, claro está, a gula dos umbigos.

A história dos percibos e da sua relação com umbigos, tornigos e comigos está em construção entre mim e a Maria. Além do primeiro encontro de percibos e comigos, já testámos uma história de um percibo que estava sozinho e triste. Fica para a próxima.

Percibo, a palavra, é uma forma possível de conjugar o verbo perceber. Eu, pelo menos, consigo perceber a lógica. Percebido?

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Dia Tónico

A frequência com que canções de embalar me assaltam o espírito é quase preocupante.

Este “Dia Tónico”, dedicado à minha filha, começou a insinuar-se há uns dias, numa viagem de regresso de Paredes de Coura, onde estive com muitas crianças. Vai por isso para todas elas, para quem partilhou essa experiência comigo e para uma bebé muito simpática, chamada Ana Luísa.

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Sons microscópicos: improvisações

Como disse no artigo inicial sobre este trabalho dos sons microscópicos, “além dos desenhos, que são solos, fizemos improvisações em alguns dos meus “instrumentos” que, depois duma oficina de sonoplastia, já faziam mais sentido.

Cá estão as improvisações (dirigidas): 3 trios e um duo em “MeSA”, “laptop acústico” e “desenho”.

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Sons microscópicos: faz-me um desenho III

continuação dum artigo anterior

[desenho 11 e 12. trios improvisados no próximo artigo]

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Sons microscópicos: faz-me um desenho II

continuação do artigo anterior

[desenhos 6 a 10. continua no próximo artigo]

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Sons microscópicos: faz-me um desenho para eu ouvir

Depois de ter experimentado fazer pequenos “audiowalks” à descoberta de lugares escondidos, voltei ao Programa À Descoberta do CCVF e estivemos a procurar “sons microscópicos”. As actividades com este grupo desenvolveram-se à volta desta ideia, ligando-se à visita que tinham feito no dia anterior à Universidade do Minho e continuei a explorar exercícios de escuta e exploração do som. Chamámos “sons microscópicos” aos sons para os quais precisamos de ajuda técnica na escuta e estivemos a testar várias formas de captar e amplificar os mais diversos sons, desde o bater do coração à textura da pele, passando pelo som dum desenho.

Também partilhei com as crianças um “lugar-acústico escondido” muito especial: o limite superior do espectro audível delas, que os adultos, como eu, não conseguem ouvir. 😉

Além dos desenhos, que são solos, fizemos improvisações em alguns dos meus “instrumentos” que, depois duma oficina de sonoplastia, já faziam mais sentido.

Se quiserem um conselho, experimentem ouvir vários “desenhos” em simultâneo e não ponham o volume muito alto, porque todos eles descobriram a magia dos “pontos” bastante cedo. 😉

[desenhos de 1 a 5. continuação no próximo artigo]

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Coisas com música | Música com coisas

Foi este o mote das actividades que propus durante o Curso de Verão do Balleteatro, em que trabalhei, de 11 a 15 de Julho, com 2 grupos de crianças, divididos por idades.

Curso de Verão Balleteatro

O Curso de Verão estava subordinado ao tema geral dos “objectos” e pedia-se às crianças que trouxessem objectos de casa que seriam usados nas várias oficinas.

A minha abordagem foi mais ou menos esta:

coisas com música

Dado o tema geral proposto e o facto da colecção, criação e manipulação de objectos estar presente de forma permanente, a minha proposta passa por explorar o som dos objectos. Não se tratará duma oficina de construção de instrumentos a partir de objectos, mas sim dum oficina de procura de sons interessantes produzidos pelos objectos disponíveis. Trata-se por isso dum exercício de escuta, criatividade e imaginação, que incorpora formas de captar e amplificar sons a que normalmente não prestamos atenção, mas que podem ser interpretados como matéria musical.
Muito orientado para acções práticas de manipulação, captação e gravação, os momentos de reflexão da oficina serão associados a exercícios de escuta, que promovem a concentração e a promoção duma nova forma de ouvir.

música com coisas

Com a exploração de sons e com os exercícios de escuta, coloca-se naturalmente a questão do que pode ser a música que as “coisas” produzem. Usando como parâmetro fundamental a ideia de organização de eventos sonoros no tempo e conceitos de padrão e jogo, faremos exercícios com os sons descobertos para procurarmos “frases musicais” e usaremos ferramentas simples de edição e sequenciação de som, para desenvolver pequenas ideias musicais.
Conceitos cada vez mais usuais e transversais como os loops (ciclos repetíveis) e os samples (excertos ou amostras) serão manipulados na prática, em suportes simples e intuitivos e as pequenas ideias musicais produzidas ficarão disponíveis quer para os participantes levarem consigo para casa, quer para utilização noutras oficinas.

A implementação do plano exigiu algumas adaptações e o que podem ouvir aqui é o resultado dessas adaptações e uma amostra do tipo de trabalho que se fez.

Com o grupo dos mais novos, explorámos o som dos objectos e padrões rítmicos simples. Em “Baterias de Coisas” o que podem ouvir resulta de padrões rítmicos desenhados por eles no Hydrogen, em que cada “instrumento” é um som descoberto nos seus objectos.
Como nota para quem quiser pensar em actividades similares, devo dizer que fiquei muito satisfeito com a combinação de Audacity e Hydrogen para criar rapidamente “drumkits” a partir de qualquer fonte sonora.

Com os mais velhos, trabalhámos os sons dos objectos e a ideia de padrões em lógicas de sobreposições e montagens um pouco mais complexas, das quais resulta a peça “Coisas com Música“. Num segundo momento, usando um patch de análise e conversão MIDI em PureData, fizemos “Música com Coisas” com todos eles a “tocar piano” manipulando sons elementares: voz, corpo, objectos.

Divirtam-se a ouvir, como nós nos divertimos a fazer. E se ficarem com dúvidas, digam, para aprendermos todos uns com os outros.

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Instrumento descartável – palhinha 01

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=MQbS87qFPak[/youtube]

Há imensas instruções disponíveis online sobre como fazer este “instrumento de palheta dupla” e muitas variações. Mas basta achatar e cortar a ponta duma palhinha de plástico para fazer a palheta dupla e cortar uns furos para os dedos na própria palhinha para ficar com um brinquedo giro que quase parece capaz de tocar uma escala. Um dos sítios onde tudo isto está bem explicado é no site sciencetoymaker.org e há várias actividades propostas ali que funcionam bem com miúdos e graúdos.

O Júlio Vasconcelos também tem uma versão mais elaborada no seu canal do YouTube.

Nota: a Maria, que tem 3 anos, consegue, ocasionalmente fazer um ruído com esta “palheta”, mas uma das amiguinhas dela, com a mesma idade, não consegue. Creio que seja simples fazer coisas com este instrumento com crianças a partir dos 4. Talvez possa experimentar daqui a pouco.

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À Descoberta de Lugares Escondidos

Esta semana começou com uma experiência extraordinária: no contexto das Oficinas À Descoberta, do Centro Cultural Vila Flor, que nesta primeira semana tinham como tema “À Descoberta de Lugares Escondidos“, propus desenvolver com o grupo de crianças/participantes, um conjunto de percursos sonoros por lugares escondidos do próprio CCVF. Uma experiência arriscada, que o Serviço Educativo do CCVF acolheu de braços abertos e que ultrapassou largamente as minhas melhores expectativas.

Sala

Desenhei previamente os percursos, com apoio da equipa técnica do CCVF e, com as 12 crianças divididas em 3 grupos, explorámos e registámos o som dos percursos na segunda-feira à tarde e na terça-feira de manhã. O processo foi rigoroso e o plano impecavelmente cumprido por todos e durante a tarde de terça-feira ouvimos as gravações já montadas na sequência correcta e procurámos outras formas de representar os percursos traçados por este mapa de som.

O objectivo final era muito ambicioso: queria mostrar às crianças alguns dos “lugares escondidos” do CCVF; queria que elas activassem a audição como sentido de reconhecimento espacial e se relacionassem com os sons destes espaços; queria mostrar-lhes formas alternativas de “registar” a experiência de conhecer um lugar; queria produzir um conjunto de objectos sonoros e espaciais interessantes, considerando, desde o início, os percursos individualmente e a possibilidade de os sobrepôr. Creio que todos os objectivos foram atingidos— mesmo os mais irrealistas ou líricos— e esta foi, de longe, a experiência mais intensa e recompensadora que tive de trabalho em contexto de formação/sensibilização, em qualquer área e com qualquer “público”.

Todos os percursos começavam no mesmo local, junto à rua, e terminavam no Grande Auditório (um, na Plateia, um no Palco e outro na Teia). E todos atravessavam zonas públicas e zonas de acesso reservado, cruzando-se, ocasionalmente. Nesse desenho se jogava também a possibilidade de sobreposição.

Diagrama 3 Percursos

O “Grupo 1” (Ana Carolina Pereira, Tiago Martins, Afonso Andrade e Afonso Santos), acabou o seu percurso no palco do Grande Auditório, depois de atravessar grande parte do jardim, entrar nas áreas reservadas junto do Café-Concerto, atravessar o sub-palco e a oficina de luz e usar o monta-cargas para conhecer o cais de carga.

Percurso Grupo 1

O “Grupo 2” (Maria João Teixeira, Helena Pereira, Paulo Cardoso Paolo Cardaso e Rodrigo Silva), acabou o seu percurso na teia do Grande Auditório, depois de entrar nas áreas reservadas através do pátio interior da Sala de Ensaios, atravessar o sub-palco, ir ao palco para ligar luzes de serviço, subir pelas escadas à primeira varanda técnica, percorrendo todo o perímetro da caixa de palco e finalizar a subida até ao ponto mais alto do CCVF.

Percurso Grupo 2

O “Grupo 3” (Carolina Monteiro, Francisco Anjo, Afonso Lemos, Ângelo Martins), acabou o seu percurso na plateia do Grande Auditório, depois de aceder às áreas reservadas através do parque de estacionamento e do acesso de cargas à cozinha do restaurante, que atravessou até à zona pública, regressar à zona reservada junto ao Pequeno Auditório, subir ao piso da produção, cruzar um corredor técnico até à régie de cinema, e chegar ao foyer do GA, através da régie geral.

Percurso Grupo 3

Podem ouvir os 3 percursos individualmente, mas também podem ouvir “A Grande Aventura”, que é a sobreposição destes 3 percursos.