Não tenho tempo para grandes reflexões escritas, mas tenho acompanhado com interesse uma parte significativa da reflexão que se vai fazendo e sublinho os apelos à necessidade de reflectir sobre as causas mais profundas da derrota da esquerda, em geral, e do Bloco de Esquerda, em particular— Bloco de Esquerda, no qual não milito, mas que merece o meu voto convicto desde que existe e pelo qual sofri, na noite das eleições, ao constatar a perda de vozes importantes na Assembleia da República.
Numa nota breve, diria que tenho dificuldade em compreender algumas vozes de militantes do Bloco que criticam os “ziguezagues” estratégicos dos últimos tempos. Não que não compreenda do que falam, mas porque me parece que os que criticam os “zigs” não são os mesmos que criticam os “zags” e estão mesmo na origem destes últimos. E vice-versa. E, sendo a diversidade enérgica de opiniões no interior do Bloco a sua principal riqueza, custa-me constatar que, até certo ponto, os bons resultados eleitorais tenham servido os interesses de todos os seus sectores, que se apresentam muitas vezes como portadores da legitimidade eleitoral “toda” do Bloco, enquanto que os maus resultados parecem ser usados como arma de arremesso interno, dizendo uns que o espaço natural do Bloco é mais ao centro (culpando os zags), outros que o Bloco tem que clarificar e radicalizar o discurso à esquerda (culpando os zigs).
A mim parece-me evidente que o Bloco tem que reflectir e tem que fazer muita coisa. Parece-me também evidente que, nesse exercício, não pode deixar de ser um espaço de liberdade e convergência da(s) esquerda(s) divergente(s), mas tem que encontrar formas mais claras e eficazes de comunicar interna e externamente, porque há um desfasamento entre as convicções do(s) eleitorado(s) e da(s) militância(s), natural e presente em quase todos os partidos, que no Bloco se articula de forma difícil com a energia da discussão interna e com a sua desequilibrada visibilidade pública.
Mas como sei muito pouco sobre estes processos internos e pela importância que os próximos tempos vão ter para a expressão social e política da esquerda em que acredito e confio, estou a ponderar aderir ao Bloco, para poder fazer parte dessa reflexão e ficar implicado com o seu resultado. Sem perder liberdade e autonomia, mas assumindo um outro tipo de compromisso com esta (minha) esquerda.
Reflicto, neste momento, sobre as próprias formas de reflectir. A democracia é lixada.