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Portugal 2010- Ideias Para a Década

Hoje, a SIC transmitiu uma Grande Reportagem em que 10 portugueses foram convidados a partilhar desejos ou propostas para a década, com comentários do filósofo José Gil. O meu pai, Arsélio Martins, foi um dos participantes, partilhando alguma da sua visão acerca do papel central da educação e da escola na construção dum país melhor, mais equilibrado e capaz de progredir. E também reforçou a ideia de que isso se consegue não necessariamente através de investimento em infraestruturas, mas, e principalmente, através do reconhecimento dos valores humanos em causa: a importância dos pais na construção de perspectivas de futuro para os seus filhos que passam pela valorização (social e económica) do conhecimento e o reforço da dignidade dos professores e da escola enquanto instituição central no desenvolvimento do país. Para mim e para quem o conhece, nada de novo, a não ser a frequência com que lhe sai um “totó!” da boca, enquanto interage com os alunos mais novos, pelos corredores da José Estêvão, por onde continua a circular com o assobio como companheiro inseparável.

Felizmente, a opinião do meu pai, assim como alguns dos desejos e propostas que ele sempre foi formulando, estão à minha disposição, pelo que vi o programa mais para perceber como é que a ideia de articular os desejos e propostas de 10 portugueses e concretizava (ou não) numa qualquer ideia dum país, passado, presente ou futuro. Foi, obviamente, apenas um programa de televisão, mas, além da participação do meu pai, interessaram-me, em mais detalhe, a do António Câmara (Ydreams) e da Né Barros (Balleteatro), por razões diferentes, e não dei o tempo por perdido, apesar de achar que os comentários e a espécie de conclusão, a cargo do José Gil, tenham deixado um bocado a desejar.

O que me surpreendeu mais foi, além do taxista que citou Alvin Toffler (músico, emigrante regressado), o estado de degradação do Shopping dos Clérigos e a clareza de pensamento do polícia do Porto que percebe que é pela prevenção da exclusão e pelos apoios sociais que se resolvem os problemas de marginalidade e segurança. Tivesse o edil da cidade a mesma clareza de espírito…

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jazz.pt | Jazz Ao Norte, uma pedrada no charco

Texto escrito por João Martins.
Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.

Jazz ao Norte: Pedrada no Charco

Não é apenas mais uma escola de Jazz. O modelo de exigência e rigor que todos os dias esta instituição do Porto aplica tem como sério objectivo a profissionalização dos músicos de Jazz que dela saírem e apresenta-se como um claro convite à replicação por todo o país.

Lançada em 2006, a Jazz ao Norte assume-se como uma “pedrada no charco” no panorama do ensino do Jazz em Portugal, e pode mesmo dizer-se, no ensino privado da música. Ao contrário de muitos outros projectos, construídos à volta de uma personalidade- músico, pedagogo ou divulgador- ou resultado da evolução orgânica e intuitiva de estruturas pré-existentes (academias de música, escolas de bandas, órfeãos ou outro tipo de associações), esta instituição logo desde o início com objectivos muito claros, usando metodologias claramente relacionadas com a prática profissional como engenheiro do seu fundador e director, Pedro Ferreira. Ao pensar neste projecto, e ao definir objectivos, se foi também a sua costela musical a impeli-lo nesta mudança de percurso (Pedro Ferreira toca saxofone tenor e sempre esteve ligado ao mundo do jazz), foi claramente a sua experiência de planificação e gestão na área da engenharia que conduziu o processo sistemático e rigoroso de definir um modelo de escola profissional que pudesse implementar no nosso panorama experiências de formação certificada e certificável, à semelhança do que se verifica em outros países.
Não há, por isso, espaço para grandes devaneios líricos quando se fala da história da Jazz ao Norte: em 2006, a visão, missão e objectivos definidos no projecto, incluíam a certificação do Curso Profissional que a escola ministra (processo concluído recentemente), a definição clara de estruturas programáticas que permitissem a construção de um percurso estruturado e organizado, rejeitando-se, por sistema, processos pedagógicos individualizados e subjectivos e exigindo-se planificações muito claras aos docentes. A Jazz ao Norte assumia-se já como uma escola dedicada à formação profissional de instrumentistas de jazz, organizando a sua oferta formativa em função da construção de um perfil profissional, comum a outras experiências internacionais (os exemplos norte-americanos, holandeses, franceses ou belgas são recorrentes na conversa que tivemos com Pedro Ferreira), mas que em Portugal se tem evitado, devido à pouca dignificação das profissões ligadas à arte e à criação.
O grau fornecido pela Jazz ao Norte, no fim do seu exigente Curso Profissional de 3 anos, pretende ser, tal como formalizado pelo próprio processo de reconhecimento e acreditação pela Direcção Geral de Emprego e Relações de Trabalho (antigo IQF), um grau profissional, correspondente à formação teórico-prática necessária para um instrumentista de jazz. E, com a conclusão do 4º ano (Curso Propedêutico), considera-se que o aluno está preparado para a prossecução de estudos superiores.
A conversa mantida com Pedro Ferreira tornou evidente que este tipo de aposta estruturada na formação de tipo básico e profissional era o que se esperava dos poderes públicos, num esforço articulado e prévio visando a criação de cursos superiores nesta área. «Em Portugal, gostamos de estar sempre “à frente”, mas esquecemo-nos muitas vezes de fazer os investimentos mais básicos. E isto é verdade no ensino do jazz, mas também na programação dos festivais, por exemplo», disse aquele responsável à jazz.pt. A aposta da Jazz ao Norte é, por isso, uma aposta também na formação básica de públicos e promotores/programadores, dirigindo-se, de forma generalizada à enorme lacuna de formação existente: disciplinas opcionais, das quais se destacam a História do Jazz (dada por José Duarte), os Cursos Livres, frequentáveis exclusivamente na vertente instrumento, mas que podem incluir cadeiras teóricas e/ou Classe de Conjunto, complementam a oferta estruturada dos cursos Profissional e Propedêutico, oferecendo aos mais interessados, a possibilidade de aumentarem os seus conhecimentos musicais.
O Curso Infantil (dos 3 aos 10 anos) assume-se como uma oferta de formação musical e cívica e o resto das actividades promovidas pela empresa (dos “workshops” às lojas, passando pelo agenciamento ou programação de concertos no Auditório José Duarte – Clube Jazz ao Norte) constitui um todo que pretende fortalecer o significado e importância da música em geral e do jazz em particular na saúde cultural da comunidade e propagar uma visão profissionalizada do fenómeno da produção musical jazzística.
Para implementar um projecto tão audacioso e distinto, a Jazz ao Norte apostou em não “reinventar a roda”: recrutou docentes com extensos currículos e formação no estrangeiro que partilham desta visão estruturada e profissional, pedindo a cada um deles a elaboração de planos pedagógicos completos para o Curso Profissional e Propedêutico. As diferentes propostas, resultado das experiências de docentes que passaram por instituições como o Conservatório de Música de Amesterdão ou de Paris ou o Berklee College of Music, foram depois analisadas e reorganizadas por forma a assegurar coesão horizontal (entre disciplinas) e vertical (ao longo dos anos) num trabalho que cabe ao director pedagógico, Hélder Martins, prestigiado académico e autor de “O Jazz em Portugal (1920-1956)”.
O modelo não é pacífico, como o próprio Pedro Ferreira admite, repetindo várias vezes «a malta do Jazz mata-me por dizer isto», mas a lógica é praticamente inabalável e a honestidade da proposta inquestionável: a quantidade de informação colocada à disposição dos potenciais alunos e a clareza das regras para todos (modelos e momentos de avaliação dos alunos e processo de recrutamento dos docentes) são filtros suficientes para garantir a construção saudável de uma comunidade coesa. A apresentação pública, estruturada e regular dos resultados, por outro lado, permite a verificação do cumprimento dos objectivos da escola. E, como pudemos comprovar na Audição da Páscoa, é um momento de consolidação da comunidade educativa mais alargada (professores, alunos, pais e amigos). Esses resultados são, em alguns casos, bastante significativos e animadores.
Mas o projecto não se deixa iludir: «não existem sucessos imediatos», considera Pedro Ferreira. E não perde a perspectiva da sua real dimensão, apesar do significativo investimento nas excelentes instalações e no quadro docente, poder “autorizar” algum entusiasmo. Ferreira assume não só que em menos de 10 anos será difícil avaliar a real eficácia das opções tomadas, como duvida do impacto isolado da Jazz ao Norte, desejando, pelo contrário, que o modelo se possa replicar e distribuir um pouco por todo o país. Também nesse asecto, a mentalidade de rigor e exigência se faz sentir.

+ info: www.jazzaonorte.com

Texto escrito por João Martins.
Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.
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Abandono

Eu abandono Roma
As andorinhas abandonam a minha aldeia
Os camponeses abandonam as terras
Os fiéis abandonam as igrejas
Os moleiros abandonam os moinhos
Os montanheses abandonam os montes
A graça de Deus abandona os homens
Alguém abandona tudo

Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

Os novos episódios passados em salas de aula que chegaram hoje aos obscenos noticiários (1, 2) só me fazem pensar no abandono a que está votada a escola portuguesa.

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O conforto, a tranquilidade e a sedução dum mundo a preto e branco

Aldo Naouri, em entrevista ao Público, fala dum mundo que eu desconheço. Um mundo a preto e branco, rigorosamente binário, em que os “Os maus pais são os que acham que a criança tem direito a tudo“, em que “As crianças de famílias monoparentais são crianças sós” e “Quanto aos casais homossexuais, a criança é como que um produto“. Este respeitável pediatra, já reformado, debita estas verdades absolutas com o á-vontade e a experiência de quem atende crianças e seus pais, cujos principais problemas são “Falta de disciplina, mau comportamento, desobediência nas horas de comer, tomar banho ou de dormir“, tratados em 48 línguas no seu consultório parisiense, de onde se vê que “São poucas as [crianças europeias] que vivem essas situações [miséria, vítimas de abusos e de maus tratos]”. Eu talvez gostasse de viver nesse mundo mais simples e, aparentemente, onde a vida e a educação das crianças é mais simples. Um mundo onde a forma e o tom das instruções dadas pelos pais é mais importante e significativo que o conteúdo dessas instruções. Um mundo onde uma educação autoritária dá origem a democratas convictos e uma educação democrática expele fascistas empedernidos…

Mas, a sério: “Os pais nunca pedem desculpa. Devem falar com firmeza e ternura. Nunca temos de nos justificar, nem de dar argumentos à criança. Podemos explicar, mas não justificar. O limite entre ambas é ténue, por isso defendo que na maior parte das vezes nem se explique.” ?? Até que idade é que se faz isso? Quando é a que a construção da identidade e autonomia da criança passa a ser assunto? É suposto que os pais se isentem da participação nesse processo? E se se sugere uma correlação entre a frequência dos divórcios e o estado divorciado dos progenitores, ou um estado particular de solidão nos filhos de pais sozinhos… porque não se concretiza uma relação entre uma educação autoritária e um indicador de convicção democrática ou o contrário? E porque é que me parece que este discurso absolutista, absolutamente anacrónico e desfasado da realidade é usado de forma oportunista, por ter um enorme potencial mediático?

Resumidamente, por muito que me reveja em algumas afirmações sobre a necessidade de estabelecer relações mais verticalizadas entre pais e filhos ou sobre a necessidade de perceber que, com o desmantelamento de relações tradicionalmente autoritárias e, mais do que isso, com a falta de confiança dos pais, poderemos estar a criar “tiranos”, não me passa pela cabeça que a demonstração de confiança por parte dos pais tenha que passar pela construção duma relação autoritária e opaca. Instruções estúpidas dadas com plena confiança e autoridade são instruções estúpidas que prejudicam a criança. Instruções inteligentes explicadas e até discutidas, continuam a ser instruções inteligentes. E nada em nenhum processo tão complexo, completo e total como a educação duma criança é assim tão simples. Nem tão congelado no tempo.

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O melhor da Escola

Como é que o professor Arsélio mudava e melhorava a relação dos alunos com o ensino da Matemática?
Só tenho uma hipótese. Continuar a fazer o meu trabalho. ABraçar os alunos quando é caso disso, ralhar com eles quando é necessário. E tentar com todos os exemplos à minha disposição mostrar que a Matemática é uma coisa de importância vital. A minha posição é esta: quando uma pessoa pensa que uma coisa é importante, tenta aprendê-la e fazê-la bem. Todos os alunos que são maus a Matemática fazem muitas coisas bem. Porquê? Porque para eles são coisas importantes. A Matemática é que não é uma delas. O problema é de cultura. Os pais não entendem isto e desculpam a falta de cultura científica. QUnado perceberem que é vital, vão aprendê-la. Não pode ser feito doutra maneira.

O professor Arsélio Martins responde a perguntas do aluno Tomás Fidélis, na Pública de 28.09.08

Arsélio e Tomás são o melhor da escola (Pública 28.09.08)

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“Magalhães”, o portátil “português” para crianças já tem site

A procura pelo site oficial do “Magalhães“, o portátil do e-escolinhas, deve ser elevada após o seu anúncio, mas não é fácil. Nem nos sites de notícias, nem nos fabricantes, nem nos promotores se encontra muita informação, mas a verdade é que o “Magalhães” tem site e bastante completo: www.classmatepc.com

Para já, só tem informação em inglês e ainda não leva o logotipo novo na capa. Isso terão que ser os senhores da JP Sá Couto a fazer, presumo. Mas, no geral, o Magalhães é aquilo mesmo. Basta que, onde se lê Classmate PC, se leia Magalhães e se ponha um “porreiro, pá!” no fim das frases e é isso. Ah! e deve ser preciso adaptar uns conteúdos e pô-los lá dentro até Setembro.

E agora a sério, não é normal que um anúncio deste tipo tenha algum tipo de acompanhamento em termos de presença on-line? Não seria de esperar um site para o lançamento, destaques no site dos fabricantes e dos promotores (o Portal da Educação, por exemplo, limita-se a isto)?
Não é normal satisfazer parte da curiosidade acerca das reais adaptações da máquina à realidade portuguesa e, por exemplo, sobre qual o papel da Prológica?

Vão esperar que o “buzz” aumente? Não vão participar directamente na guerra propagandística? Qual é a lógica?

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Magalhães e o Feiticeiro de Oz

O nosso Primeiro Ministro lembra-me muitas vezes o Feiticeiro de Oz. Hoje fez isso mesmo durante o anúncio com pompa e circunstância do “Magalhães”, o primeiro netbook made in Portugal  para o mercado da Educação. Quem tiver ouvido a notícia que eu ouvi, sem conhecer o projecto OLPC deve ter pensado “uau! que revolução! que grande avanço! que maravilha! que…!”

Como em Oz, temos que ir espreitar por trás da cortina, para ver o triste espectáculo de marionetas em que a gestão da coisa pública se vai transformando: se a perspectiva do projecto OLPC for demasiado parcial, podem ler no IOLDiário um artigo sobre a “guerra dos computadores portáteis para crianças”.

Infelizmente, nem sequer posso dizer que estou surpreendido. Já há muito tempo que andamos a hipotecar o nosso futuro, tecnologicamente, falando.

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Ensinamento fundamental

Na Vida, ninguém é um exemplo acabado nem de Vício, nem de Virtude. Por isso, para crescermos e aprendermos, devemos procurar o máximo de figuras exemplares que, apesar dos seus melhores esforços, nos ensinarão, dos Vícios, as Virtudes e, das Virtudes, os Vícios.

Ocorreu-me no banho. Coisas de pai.

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Estado da Nação: nota de rodapé #1

Hoje começaram as candidaturas ao Ensino Superior. Os candidatos, jovens finalistas do ensino secundário, podiam optar entre um processo online ou um processo presencial, com filas que começaram à porta de escolas em capitais de distrito durante a madrugada.

Segundo os testemunhos recolhidos por alguns canais de televisão, junto dos jovens que optaram pelas filas e por manipular papelada, uma parte significativa destes candidatos optou mesmo por evitar a Internet, por desconfianças várias e dificuldades umas mais óbvias do que outras.

Este é um preocupante, ainda que superficial, indicador do Estado da Nação, que se discute hoje na AR: esta geração de jovens que não confia na Internet para fazer as suas candidaturas ao Ensino Superior é a mesma a quem o Estado financia a aquisição de portáteis e banda larga móvel, num país em que um vasto conjunto de procedimentos na relação com esse mesmo Estado passa obrigatoriamente pela Internet.

Será tudo uma piada de mau gosto, um enviesamento de informação pela comunicação social? Ou estamos mesmo perdidos num pântano?

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Comentador de serviço

Às vezes não me contenho e dou por mim a fazer o papel de comentador em blogs alheios, quando os assuntos me tocam particularmente. Não faço muitos amigos, suponho.

Vem isto a propósito dos comentários que fiz hoje, a propósito da natureza da Praxe, em dois blogs:

  • no falta de tempo, a explicar porque é que acho que a parte mais acertada da intervenção do Mariano Gago foi a referência do fascismo ligado à Praxe
  • no Strone’s Blog, a defender o direito a ser contra a Praxe sem nela ter participado, por razões óbvias (1) e a tentar distinguir entre o papel dos dirigentes estudantis democraticamente eleitos e os representantes da estrutura bolorenta da Praxe, que, em algumas cabeças, parecem confundir-se (2)

Confesso que é um assunto que me apaixona. Desde sempre. E não canso de me espantar com os argumentos que surgem, as construções lógicas absurdas, as falhas de memória, a estreiteza de vistas…