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20 anos do Guimarães Jazz

A marcar a 20ª edição do Guimarães Jazz – um festival consolidado no panorama cultural português e já com afirmação além-fronteiras, pela qualidade da programação, pela diversidade e quantidade de propostas que apresenta ao seu público, pelo crescimento sustentado e continuado e pela adaptação a novos desafios e às profundas mudanças que o contexto em que se realiza sofreu, a várias escalas – é merecida uma visão retrospectiva ampla não só do que aconteceu nas diversas edições, mas, principalmente, dos parâmetros, das condições, das opções e dos acasos que lhes deram origem e o sustentam no tempo.
A pensar nisso, o livro “Guimarães Jazz 20 anos” é com certeza uma das melhores formas de assinalar este momento e prestar uma justa homenagem ao Guimarães Jazz e a todos os que o tornaram possível nestes 20 anos. O Café Concerto do CCVF é o espaço reservado para o lançamento desta edição especial.

O Guimarães Jazz neste ano de 20º aniversário, acontece de 8 a 19 de Novembro e o programa merece, mais uma vez, toda a atenção. Foi com enorme prazer e algum receio, dada a enorme responsabilidade, que contribuí para o livro que assinala a efeméride e será uma honra assistir e participar do seu lançamento.

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Tragicomédia clássica, aqui e agora

Saiu de casa para uma corridinha para espairecer, numa terra que lhe era menos familiar do que ele gostaria de admitir. Uma decisão irreflectida no percurso, associada à teimosia que lhe era característica, acrescentou meia hora de sofrimento em subidas e descidas angustiantes em locais que não reconhecia e numa geografia que desafiava as referências que lhe pareciam óbvias. Era só uma corridinha e acabou por reencontrar o caminho para casa, mais cansado e dorido do que alguma vez admitiria e com um sério abalo no ego. O reencontro com a filha curou-lhe algumas feridas, apesar da sua insistência em correr mais um bocadinho com o pai. 30 ou 40 metros, de mão dada com a criança de 3 anos, com as pernas já dormentes, mas em paz. Um pouco depois, regressou a casa a mulher, com quem partilhou uma versão suave da sua aventura e pôs-se no banho.

Nunca se saberá do grau de intencionalidade da escolha da camisola que vestiu depois. Ao jantar, lia-se no seu peito: “Hercules”.

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20 anos do Guimarães Jazz

2011 é ano de celebrações, sendo uma delas, os 20 anos do Guimarães Jazz. Tenho o privilégio de participar nas celebrações com um pequeno artigo retrospectivo, tendo tido a oportunidade de entrevistar alguns dos protagonistas destes 20 anos. Escrevo, a certa altura da introdução:

(…) Era bom que fosse frequente celebrarmos a 20ª edição destes acontecimentos: festivais de músicas várias, de teatro, dança ou artes performativas em geral. Iniciativas culturais descentralizadas, instituições ou espaços dedicados à promoção da arte e da cultura cujos projectos celebrassem esta singela marca das duas décadas seriam bons indicadores da saúde do nosso tecido cultural mas, mais do que isso, da nossa liberdade, da qualidade do nosso desenvolvimento e da maturidade da nossa democracia.
Infelizmente não é o caso: não só não é frequente celebrarmos 20 edições consecutivas e sustentadas de festivais ou 20 anos de programação consequente de instituições culturais, especialmente, se pensarmos em termos de descentralização cultural, como não chega sequer a ser assunto de debate aprofundado as razões que dificultam a sua realização ou continuidade.
E, enquanto a tão debatida questão da “cultura dos mega-eventos” consome demasiado espaço na opinião pública, não aparecem com a frequência necessária os exemplos que contrariam essa tendência.
Pensar, por isso, nas 20 edições do Guimarães Jazz e tentar fornecer uma visão retrospectiva ampla não só do que aconteceu nas diversas edições, mas, principalmente, dos parâmetros, das condições, das opções e dos acasos que lhe deram origem e o sustentam no tempo é um desafio de importância extrema.

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13 de Maio

Estamos numa rua tipicamente suburbana, num fim de tarde calmo dum dia que quase parece feriado ou fim de semana, mas não é. Um casal jovem, seguido duma criança que podia ser uma irmã mais nova, mas parece ser a filha e, uns passos atrás, com dificuldades a aguentar o ritmo, uma senhora de meia idade que se vem a perceber que será a avó materna da criança. O rapaz não abre a boca, mas sorri ocasionalmente. Um sorriso cruel, que a sogra não pode ver, mas que, provavelmente sente. A discussão vem de trás. “Olha que não pode ser, porque depois deste sábado só há mais dois sábados e depois acaba a catequese!”, dispara a avó. “O quê?” Não digas disparates”, responde a mãe, aparentemente tão incomodada com a ideia de ter que levar a filha à catequese no dia seguinte, como com a ideia de que a filha só teria mais 3 sábados ocupados daquela forma. “É, é!”, confirma a filha. “É o que eu te digo: a catequese acaba no dia… agora já não sei ao certo… mas ela depois deste sábado só tem mais duas vezes.” A criança volta a confirmar o aviso da avó. A mãe, sempre sem olhar para trás, para a criança, ou para a sua própria mãe, cada vez mais incomodada, repete “Porque é que a catequese havia de acabar agora mais cedo que as outras coisas? Isso tem algum jeito?”. “Ouve o que te estou a dizer: é assim!”. “É, é, mãe!”. Não se percebe se a criança está mais entusiasmada com a ideia daquela discussão, se com a possibilidade de ir (ou não ir) à catequese. Parece apostada em chatear a mãe. “Olha agora… por ordem divina, a catequese acaba mais cedo, não?”, diz a mãe, sem ironia intencional na construção da frase.
A conversa continua animada, enquanto se afastam descendo a rua.
A qualquer momento, num close-up acidental, podemos ler o que está escrito, em letras garrafais, na mala desportiva da jovem mãe: “Sex, Ale-Hop & Rock’n’Roll”.

Podia ser tudo ficção. Podia ser ficção a data do episódio. Mas não.

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Por mais que tente, não consigo ser curto

Hoje foi dia de escrita. Textos em atraso.

Começa a ser regular esta necessidade de estabelecer “dias de escrita” e, por mais que me esforce e treine no Twitter, por exemplo, não consigo ser curto. Pensava eu que isso se devia a falta de disciplina, por ter, normalmente, um editor capaz e generoso, a jusante, mas hoje percebi que não é só isso, confrontado com a necessidade de encurtar um texto bem para lá daquilo que me parece possível. Em boa verdade, há um nível de poder de síntese (ou mais do que um?) que me escapa completamente e, se não começo a exercitar esse misterioso músculo, desconfio que terei vários dissabores num futuro muito mais próximo do que gostaria.

Sendo assim, prolixo e preguiçoso me confesso, apelando à ajuda de todos quantos possam ter sugestões de exercícios, rotinas ou referências bibliográficas para exercitar o poder de síntese até ao nível telegráfico. Preciso mesmo da vossa ajuda.

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2009 em números, um balanço deste blog

Segundo o Google Analytics, em 2009, este blog teve 44.172 visitas (-20,35% que 2008) e foram vistas 56.417 páginas (-22,37% do que 2008). Foram identificados 38.578 visitantes exclusivos absolutos (-17,05% que 2008), o Google continua a ser o maior gerador de tráfego (75,95% das visitas) e o nome do blog, “diário de bordo”, continua a ser a expressão que mais visitantes traz, via mecanismos de pesquisa, mas não excede os 4% de visitas e a miríade de termos pesquisados por quem cá chegou não permite identificar tendências ou traçar um perfil de quem lê. Nem eu estaria muito interessado nisso. Só através dos comentários (que são raríssimos) é que poderia realmente interagir com os “leitores” e deixar-me influenciar (ou não) pelas suas opiniões.

A quantidade de dados estatísticos que um serviço como o Google Analytics nos oferece é tal que a sua utilidade depende exclusivamente dos nossos objectivos e da nossa capacidade de os seleccionar, analisar e interpretar. O facto do Internet Explorer ser o browser mais usado nas visitas (+ de 60%) e do Windows ser o Sistema Operativo mais comum entre os leitores (quase 90%) mostra-me que, ao contrário do que se passava há uns anos, quando este era um espaço muito “pessoal”, os meus leitores são uma eventual amostra da “maioria” dos internautas portugueses, distorcida como todas as amostras, mas cada vez menos.

O decréscimo de visitas reflecte, creio eu, considerando a tendência acentuada nos últimos meses do ano e observando o crescimento significativo e sustentado de subscritores do feed, uma maior interacção com os mesmos conteúdos por parte dum número crescente de leitores-utilizadores noutras plataformas (FriendFeed, Facebook, Twitter, etc).

Seja como for, os números indicam que, em média, diariamente, qualquer coisa como 105 visitantes, que realizaram cerca de 121 visitas, visualizaram cerca de 154 páginas do blog. Eu, excluindo anomalias (como esta ou esta), quase não dou pela presença de ninguém. E, por mim, as coisas podem manter-se assim, do ponto de vista da “manifestação” dos leitores, se bem que também não me importo de receber críticas, sugestões e comentários ocasionais. Mas além de repensar a secção de podcast do blog, farei, para me impôr alguma disciplina de escrita, algumas alterações que, se tudo correr bem, serão óbvias. 😉

E, nesse sentido, passo a aceitar sugestão de temas para artigos mais aprofundados.

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O grau zero da crítica

Até agora, a minha colaboração com a jazz.pt passava por assistir a concertos, pontualmente, e escrever sobre eles, num registo que se situa algures entre a crónica e a crítica. Não sou crítico nem de Jazz, nem de outros tipos de música, porque não sei e não quero saber fazer esse papel. Mas não quero, nem sei e nem poderia fazer o papel do repórter, trabalho que, além do mais, não interessaria a ninguém. Faço, por isso, um papel que tenho dificuldade em descrever, que é o papel do músico relativamente informado e disponível, tentando apresentar uma visão relativamente objectiva, ainda que parcial, sobre as propostas e suas concretizações, reduzindo ao mínimo o inevitável juízo subjectivo, que uso em jeito de tempero, cruzado com a percepção (também subjectiva) do que terá sido a reacção do público.
A maior parte das vezes, de resto, basta uma observação cuidada de como as propostas musicais se confrontam com as suas concretizações para conseguir construir um discurso que aspira a ser útil. Porque foi só por causa da “utilidade” que aceitei o convite para escrever. E este exercício, relativamente ingénuo, de retirar da equação os egos em confronto— o meu, o dos artistas em palco, o dos promotores, os dos públicos mais ou menos especializados— e procurar esclarecer alguns dos termos da proposta (os que são para mim compreensíveis) e a eficácia relativa da sua concretização, faz(-me) falta em grande parte do discurso que se produz sobre o Jazz em particular e sobre a(s) Música(s) e a Arte, em geral.

Chamemos-lhe o grau zero da crítica. O patamar a partir do qual se pode construir o discurso crítico e, sem o qual, o discurso crítico é vácuo.

Vem isto a propósito de estar a acabar (daqui a umas horas é o “meu” último concerto) a cobertura da primeira semana do Guimarães Jazz 2008 e de como seria fácil “disparar” críticas positivas ou negativas em (quase) todas as direcções, sem sair do meu “lugar”. E que difícil que é acompanhar as mudanças de perspectiva sobre o fenómeno “Jazz” que o programa do festival sugere. E que bom que é fazê-lo, sentindo que se estão a apresentar desafios importantes ao(s) público(s).

Não tenho a certeza de estar certo nesta minha forma de encarar o desafio que a revista me coloca. Mas tenho a certeza que não estou errado. Faz sentido?