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jazz.pt | Jazz Ao Norte, uma pedrada no charco

Texto escrito por João Martins.
Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.

Jazz ao Norte: Pedrada no Charco

Não é apenas mais uma escola de Jazz. O modelo de exigência e rigor que todos os dias esta instituição do Porto aplica tem como sério objectivo a profissionalização dos músicos de Jazz que dela saírem e apresenta-se como um claro convite à replicação por todo o país.

Lançada em 2006, a Jazz ao Norte assume-se como uma “pedrada no charco” no panorama do ensino do Jazz em Portugal, e pode mesmo dizer-se, no ensino privado da música. Ao contrário de muitos outros projectos, construídos à volta de uma personalidade- músico, pedagogo ou divulgador- ou resultado da evolução orgânica e intuitiva de estruturas pré-existentes (academias de música, escolas de bandas, órfeãos ou outro tipo de associações), esta instituição logo desde o início com objectivos muito claros, usando metodologias claramente relacionadas com a prática profissional como engenheiro do seu fundador e director, Pedro Ferreira. Ao pensar neste projecto, e ao definir objectivos, se foi também a sua costela musical a impeli-lo nesta mudança de percurso (Pedro Ferreira toca saxofone tenor e sempre esteve ligado ao mundo do jazz), foi claramente a sua experiência de planificação e gestão na área da engenharia que conduziu o processo sistemático e rigoroso de definir um modelo de escola profissional que pudesse implementar no nosso panorama experiências de formação certificada e certificável, à semelhança do que se verifica em outros países.
Não há, por isso, espaço para grandes devaneios líricos quando se fala da história da Jazz ao Norte: em 2006, a visão, missão e objectivos definidos no projecto, incluíam a certificação do Curso Profissional que a escola ministra (processo concluído recentemente), a definição clara de estruturas programáticas que permitissem a construção de um percurso estruturado e organizado, rejeitando-se, por sistema, processos pedagógicos individualizados e subjectivos e exigindo-se planificações muito claras aos docentes. A Jazz ao Norte assumia-se já como uma escola dedicada à formação profissional de instrumentistas de jazz, organizando a sua oferta formativa em função da construção de um perfil profissional, comum a outras experiências internacionais (os exemplos norte-americanos, holandeses, franceses ou belgas são recorrentes na conversa que tivemos com Pedro Ferreira), mas que em Portugal se tem evitado, devido à pouca dignificação das profissões ligadas à arte e à criação.
O grau fornecido pela Jazz ao Norte, no fim do seu exigente Curso Profissional de 3 anos, pretende ser, tal como formalizado pelo próprio processo de reconhecimento e acreditação pela Direcção Geral de Emprego e Relações de Trabalho (antigo IQF), um grau profissional, correspondente à formação teórico-prática necessária para um instrumentista de jazz. E, com a conclusão do 4º ano (Curso Propedêutico), considera-se que o aluno está preparado para a prossecução de estudos superiores.
A conversa mantida com Pedro Ferreira tornou evidente que este tipo de aposta estruturada na formação de tipo básico e profissional era o que se esperava dos poderes públicos, num esforço articulado e prévio visando a criação de cursos superiores nesta área. «Em Portugal, gostamos de estar sempre “à frente”, mas esquecemo-nos muitas vezes de fazer os investimentos mais básicos. E isto é verdade no ensino do jazz, mas também na programação dos festivais, por exemplo», disse aquele responsável à jazz.pt. A aposta da Jazz ao Norte é, por isso, uma aposta também na formação básica de públicos e promotores/programadores, dirigindo-se, de forma generalizada à enorme lacuna de formação existente: disciplinas opcionais, das quais se destacam a História do Jazz (dada por José Duarte), os Cursos Livres, frequentáveis exclusivamente na vertente instrumento, mas que podem incluir cadeiras teóricas e/ou Classe de Conjunto, complementam a oferta estruturada dos cursos Profissional e Propedêutico, oferecendo aos mais interessados, a possibilidade de aumentarem os seus conhecimentos musicais.
O Curso Infantil (dos 3 aos 10 anos) assume-se como uma oferta de formação musical e cívica e o resto das actividades promovidas pela empresa (dos “workshops” às lojas, passando pelo agenciamento ou programação de concertos no Auditório José Duarte – Clube Jazz ao Norte) constitui um todo que pretende fortalecer o significado e importância da música em geral e do jazz em particular na saúde cultural da comunidade e propagar uma visão profissionalizada do fenómeno da produção musical jazzística.
Para implementar um projecto tão audacioso e distinto, a Jazz ao Norte apostou em não “reinventar a roda”: recrutou docentes com extensos currículos e formação no estrangeiro que partilham desta visão estruturada e profissional, pedindo a cada um deles a elaboração de planos pedagógicos completos para o Curso Profissional e Propedêutico. As diferentes propostas, resultado das experiências de docentes que passaram por instituições como o Conservatório de Música de Amesterdão ou de Paris ou o Berklee College of Music, foram depois analisadas e reorganizadas por forma a assegurar coesão horizontal (entre disciplinas) e vertical (ao longo dos anos) num trabalho que cabe ao director pedagógico, Hélder Martins, prestigiado académico e autor de “O Jazz em Portugal (1920-1956)”.
O modelo não é pacífico, como o próprio Pedro Ferreira admite, repetindo várias vezes «a malta do Jazz mata-me por dizer isto», mas a lógica é praticamente inabalável e a honestidade da proposta inquestionável: a quantidade de informação colocada à disposição dos potenciais alunos e a clareza das regras para todos (modelos e momentos de avaliação dos alunos e processo de recrutamento dos docentes) são filtros suficientes para garantir a construção saudável de uma comunidade coesa. A apresentação pública, estruturada e regular dos resultados, por outro lado, permite a verificação do cumprimento dos objectivos da escola. E, como pudemos comprovar na Audição da Páscoa, é um momento de consolidação da comunidade educativa mais alargada (professores, alunos, pais e amigos). Esses resultados são, em alguns casos, bastante significativos e animadores.
Mas o projecto não se deixa iludir: «não existem sucessos imediatos», considera Pedro Ferreira. E não perde a perspectiva da sua real dimensão, apesar do significativo investimento nas excelentes instalações e no quadro docente, poder “autorizar” algum entusiasmo. Ferreira assume não só que em menos de 10 anos será difícil avaliar a real eficácia das opções tomadas, como duvida do impacto isolado da Jazz ao Norte, desejando, pelo contrário, que o modelo se possa replicar e distribuir um pouco por todo o país. Também nesse asecto, a mentalidade de rigor e exigência se faz sentir.

+ info: www.jazzaonorte.com

Texto escrito por João Martins.
Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.
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jazz.pt #24 já está nas bancas

Aliás, já está nas bancas há umas semanas, mas ainda não me chegou à caixa de correio, nem houve ainda tempo para actualizar o site, pelo que a capa digital ainda não está disponível.

É mais um bom número da revista. Fica o índice e os meus destaques (egoístas):

jazz.pt #24: Maio/Junho 2009

  • BD (Carlos Zíngaro)
  • Breves
  • Agenda de concertos
  • Estante do Miguel (Miguel Martins)
  • Ciber Jazz (Daniel Sequeira)
  • Jazz Bridges (Rui Miguel Abreu)
  • New York is Now (Kurt Gottschalk)
  • Blues.pt (António Ferro)
  • Perfil: José Pedro Coelho (António Branco)
  • Às Escuras: José Lencastre (Abdul Moimême)
  • Preview: Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra (António Branco)
  • Portugal Jazz
  • Reports:
    • Portalegre Jazzfest (António Branco)
      com referência ao concerto do Spy Quintet:
      «Para o final, noite dentro, o Spy Quintet recuperou o projecto inspirado no álbum “Spy vs Spy”, de John Zorn e Tim Berne, e foi uma agradável surpresa. Do denso muro rítmico erguido pelos dois bateristas (Gustavo Costa e João Tiago Fernandes) e pelo contrabaixista Henrique Fernandes, soltaram-se os dois saxofonistas (João Martins e Rui Teixeira), que sopraram vigorosamente e com alma, dando muito boa conta de si.
      Terminava em alta um festival que continua a crescer a olhos (e ouvidos) vistos.»
    • Braga Jazz (Nuno Catarino)
    • Dose Dupla (António Rubio, Rui Duarte)
    • Wayne Shorter (João Martins)
      o texto virá parar aqui ao blog dentro de dias
    • Off-Road (Alberto Mourão)
    • André Fernandes Imaginário (Nuno Catarino)
  • Entrevistas:
    • Zé Eduardo (Abdul Moimême)
      o Zé Eduardo, “grande timoneiro”, é o tema da capa e é mesmo uma figura central do Jazz e da sua promoção e ensino, em Portugal; eu tive o prazer de verificar isso directamente, frequentando 2 workshops que ele dirigiu em Aveiro, há uns anos
    • Fred Frith (Charity Chan)
      o Fred Frith é uma figura seminal e nesta entrevista fala sobre o seu papel no ensino da improvisação, no Mills College; vale a pena uma leitura atenta
  • Forward:
    • Bay Area (Rui Eduardo Paes)
    • Jazz ao Norte (João Martins)
      o texto virá parar aqui ao blog dentro de dias
  • 33 RPM: New Phonic Art (Abdul Moimême)
  • Ponto de Escuta (Gonçalo Falcão, Paulo Barbosa, Rui Duarte, Rui Eduardo Paes, João Aleluia, Paulo Gonçalves, José Pessoa, João Pedro Viegas, Alberto Mourão, Nuno Catarino, Abdul Moimême, João Martins)
    foi a primeira vez que participei no “Ponto de Escuta” e tive o prazer de, além de me debruçar sobre discos que a revista me propôs— Udentity de Denman Maroney, Prelude de Ambrose Akinmusire e Shakti de David S. Ware (os textos virão cá parar)—, pude divulgar, através da crítica, uma edição de autor que merece atenção: Now Boarding, do Quad Quartet (também virá cá parar o texto)
  • Discos da Minha Vida: Pedro Costa