Nos últimos dias tenho andado de olhos postos no céu. Infantilmente atraído pelas formas das nuvens e pela cor da luz que as atravessa. Hoje consegui tirar umas fotografias, mas não à hora do crepúsculo, quando a maior magia acontece. Prometi-me a mim mesmo que o faria em breve.
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Fusível
Hoje passei 2 horas à espera, às escuras, que um piquete da EDP viesse trazer de volta ao presente a nossa casa. Fiquei a saber que a instalação eléctrica da casa, quadro incluído, que foi renovada recentemente e sofreu uma alteração na potência contratada para 30 amperes, está muito bem e que o fusível principal até tem uma margem que permite chegar aos 40 amperes antes do corte.
Em eletrônica e em engenharia elétrica fusível é um dispositivo de proteção contra sobrecorrente em circuitos. Consiste de um filamento ou lâmina de um metal ou liga metálica de baixo ponto de fusão que se intercala em um ponto determinado de uma instalação elétrica para que se funda, por efeito Joule, quando a intensidade de corrente elétrica superar, devido a um curto-circuito ou sobrecarga, um determinado valor que poderia danificar a integridade dos condutores com o risco de incêndio ou destruição de outros elementos do circuito.
Fusíveis e outros dispositivos de proteção contra sobrecorrente são uma parte essencial de um sistema de distribuição de energia para prevenir incêndios ou danos a outros elementos do circuito.
No “nosso” quadro, com contador bi-horário, maravilha da técnica, com led a piscar e um mostrador em ciclo constante com mais informação do que consigo compreender, está tudo em grande forma e a tal margem sobre a potência contratada é normal, mas, de facto, não é sempre a mesma. “Varia, que eles não podem andar a verificar um a um“, que é uma coisa que não se gosta muito de ouvir dizer a um técnico da EDP. Menos mal: em casa, tudo em ordem.
À porta, no átrio do prédio, uma caixinha misteriosa, esconde a razão do nosso “blackout” particular: uma caixa de ligações e fusíveis, que regula a ligação de cada apartamento. “É uma instalação antiga” e os fusíveis são umas tranças de filamentos a ligar dois pinos duma espécie de grande ficha eléctrica. Os 5 filamentos que constituíam o fusível da nossa ligação não aguentavam a margem acima dos 30 amperes que o “nosso” fusível aguenta e, assim, puf!
O técnico, diligente, fez novo fusível. Sim, fez, com as mãozinhas, uma trancinha de 5 filamentos a partir dum cabo que descarnou— numa cena que me fez recordar antigas montagens de peças de teatro em que se faziam os cabos que faltavam, à medida— e passou a trancinha à volta dos pinos, recolocou a tal ficha e fez-se luz. Pediu-me para ligar tudo e, a frágil trança voltou a desfazer-se. “Vamos ter que medir, então“. Nova trança, desta feita com 6 filamentos, fiquei a saber depois, e “ligue tudo menos as duas últimas coisas“, enquanto um aparelho avançado se ligava às entranhas do nosso quadro. “25 amperes, está a ver? Ligue o resto“. Mais dois aparelhos e “30, 35, 40…“, mas antes da trança, desta vez, ouvimos o clique do quadro. “Está a ver? A sua instalação está óptima. Lá fora, não podemos fazer melhor. É uma instalação antiga“. Do pouco que percebo de física, percebi que a nova trança de 6 filamentos tem mais resistência que a anterior e, assim, aguenta a margem de manobra que o nosso quadro nos dá a nós, face à potência contratada. Mas sei também que não é nada de tecnicamente rigoroso ou garantido que essa resistência da trancinha feita à mão se mantenha acima da do fusível industrial que temos no quadro e, por isso, “têm que gerir as coisas que ligam“. Pois… mas era mais confortável saber que, em caso de distração ou acidente, o nosso quadro nos protegesse, antes de se comprometer a “trancinha” a que não temos acesso. Mas as instalações antigas é assim.
Portugal parece que é isto, também.