Questão Prévia
Porque é que as pessoas não lêem?
A quantidade de pedidos de informação sobre o portátil português Magalhães e o programa e-escolinhas que me veio parar a esta caixa de comentários é indicativo de que as pessoas, cada vez mais, simplesmente não lêem o que está escrito nos artigos. Pesquisam no Google ou noutro motor de pesquisa, clicam num resultado mais ou menos promissor, passam os olhos na diagonal, e perguntam o que precisam de saber. Esta é a verdadeira definição de lazy web. Que me irrita.
Para que conste: escrevi sobre a inexistência de informação online oficial sobre o portátil Magalhães ou sobre o programa e-escolinhas. Não tenho informação a dar e só sei (porque alguém escreveu na caixa de comentários) que há um site não oficial, da autoria dum astuto blogger profissional português, a quem poderão colocar questões, que está a aproveitar bem a falta de informação oficial sobre este projecto. Veremos quando é que a falta de informação se transforma em falta de transparência. Por isso, se estiverem à procura de informação sobre o Portátil Magalhães, o melhor é irem mesmo ao blog: www.portatilmagalhaes.com.
Questão de Fundo
Onde estão as escolas no e-escolas?
Há muitas coisas que me irritam no programa e-escolas ou na sua variante e-escolinhas. Irrita-me a falta de transparência dos processos, irrita-me a falta de diversidade na oferta e a constante promoção de soluções baseadas no binómio Intel + Microsoft, irrita-me a associação estranha entre aquisição subsidiada pelo estado e contratos de fidelização com empresas privadas de telecomunicações… e a lista continua. Até a publicidade dos operadores de telecomunicações me faz desconfiar ainda mais do programa e dos seus efeitos, já que a lógica de promoção passa sempre muito ao largo da lógica da utilização dos computadores e/ou da internet no contexto educativo.
Já viram bem os anúncios do e-escolas, promovidos pela Optimus ou TMN? São claramente campanhas de promoção da utilização de computadores portáteis e da internet de banda larga móvel, mas onde é que entra a parte da escola, da formação ou do conhecimento?
Pode parecer cruel usar a publicidade produzida pelos privados para julgar este programa, mas parece-me que isto ilustra bem problema de base de que o programa sofre, na minha perspectiva: com estas campanhas de promoção da aquisição pessoal de computadores portáteis e planos de internet móvel não se opera nada de significativo sobre a escola, enquanto tal. Nem sobre o tecido de produção de conhecimento, informação ou comunicação. Facilitar a aquisição de computadores, sem intervir na base do sistema, é um desperdício. E, na base, o que é que está?
- equipar escolas, bibliotecas e diferentes espaços públicos com computadores acessíveis e boas ligações à internet, de utilização gratuita, com possibilidade de acompanhamento por parte de formadores-monitores experientes não só na utilização das ferramentas, mas na pesquisa e utilização de conteúdos relevantes
- apostar de forma séria e decisiva na produção de conteúdos e na sua promoção, assim como na indexação e interligação dos conteúdos existentes (nas escolas, nos centros de formação, etc)
- preparar professores e formadores para usarem, de facto, as tecnologias e encontrarem usos relevantes nos seus espaços e comunidades educativas, divulgando conteúdos e ferramentas e promovendo a troca de experiências
- concentrar esforços na promoção de soluções livres e abertas ao nível da produção e divulgação de conteúdos, para garantir interoperabilidade, acessibilidade a todos e optimização dos resultados, através de sinergias entre as diversas comunidades educativas
- procurar uma mudança de mentalidades que permita que cada vez mais pessoas olhem para os computadores e para a internet como meios de comunicação e acesso a conteúdos relevantes (informação e conhecimento), assim como ferramentas de produção e divulgação de novos conteúdos e não apenas como plataformas de entretenimento ou fonte de distracções
- …
É que, sem medidas que garantam a utilização relevante das ferramentas, de que adianta facilitar a sua aquisição? Aumentamos o nosso parque informático e o número de acessos de banda larga dispara (e isso deve ficar bem nas estatísticas e deve ser um dos indicadores na execução dos objectivos do Plano Tecnológico), mas e daí? Aumenta o conhecimento? Aumenta a utilização relevante das ferramentas? Aumentam as qualificações tecnológicas da população?