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A Idade da Inocência

Quem não ouve TSF, ou não ouve a horas estranhas, talvez não conheça A Idade da Inocência. Eu, que só ouço rádio no carro, sou por vezes surpreendido por programas deste tipo, naquelas horas em que todas as rádios se parecem juntar na difícil tarefa de combater a insónia nacional. São programas de música para adormecer, essencialmente, pontuados a espaços com umas frases de significado aparentemente profundo, mas, na realidade, completamente vazias. Mas, depois de algumas breves experiências de audição estou convencido que estes programas devem constituir autênticos filões para músicos carenciados, já que, além de toda a música feita originalmente para adormecer, passam versões atrás de versões de músicas, cujo original já era muitas vezes meloso, mas não o suficiente, de tal forma que alguém decidiu fazer uma versão ainda mais melosa. Como se fosse um concurso. Hoje, por exemplo, ouvi um excerto duma versão inacreditavelmente melosa do já insuportavelmente meloso “How Deep Is Your Love“, dos incontornáveis Bee Gees. Para quê?

Mas o que me deixa ainda mais espantado é quando surgem versões melosas de músicas completamente despropositadas, como Eye of the Tiger, o tema dos filmes do Rocky, que ouvi hoje mesmo numa versão de adormecer brutos, em absoluto espanto. Nestes momentos, fico na dúvida sobre se A Idade da Inocência e programas similares não serão intervenções humorísticas ou mega-experiências psicológicas, para descobrir quão alienados do que se passa à nossa volta é que nós andamos.

Se vos interessa saber, eu, pelo menos, noto com espanto, estas agressões surrealistas. Às vezes dá-me para rir, outras para questionar se as pessoas responsáveis por estas coisas serão equilibradas e sãs.