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Vida inteligente

Estamos a descer no elevador. A Maria, 4 anos, está sentada no carrinho e a olhar para as luzes, em cima.

“Pai, ali é o tecto do elevador?”
“Sim. É.”

(pausa)

“O elevador não devia ter tecto, para nós podermos subir.”

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Maria e Valentim

Pediram-me para pôr alguma coisa numa caixa para que a Maria a receba, como carinho, amanhã.

Para mim, as caixas são de música.

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Frère Jacques / Frei João – letra alternativa para escolas

Pergunta/Voz 1
Onde vais?
Onde vais?
Fazer o quê?
Fazer o quê?
Quem vai estar contigo?
Quem vai estar contigo?
Para quê?
Para quê?

Resposta/Voz 2
Vou pr’à escola.
Vou pr’à escola.
Vou brincar.
Vou brincar.
Com os meus amigos.
Com os meus amigos.
P’raprender.
P’raprender.

Este é um dos cânones mais convencionais, mais conhecido e, eventualmente, mais fácil de ensinar.
Amanhã a Maria regressa à escola e esta letra, em forma de pergunta/resposta para aproveitar o cânone mais a sério, ocorreu-me agora, na insónia.

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O percibo

Toda a gente sabe que os umbigos são grandes apreciadores de cotão. O que nem toda a gente sabe é que, às vezes, nem os mais gulosos dos umbigos conseguem comer todo o cotão que encontram.
Foi precisamente numa altura em que um umbigo com mais olhos que barriga se deparou com uma montanha de cotão— tão grande que o deixou em sérios apuros—, que um bando de percibos apareceu em seu auxílio.
Agora estamos habituados a ver percibos e umbigos sempre juntos, os primeiros a alimentarem-se calmamente das sobras dos primeiros, mas até esse episódio inaugural, os bandos de percibos eram conhecidos apenas por andarem assim, em bando, e estarem sempre disponíveis para ajudar criaturas maiores: umbigos, tornigos, comigos…
Desde esse dia, de grande aflição para o umbigo em causa, a preciosa ajuda dos percibos passou a ser habitual. Tão habitual como a impaciência dos tornigos, a sonolência dos comigos e, claro está, a gula dos umbigos.

A história dos percibos e da sua relação com umbigos, tornigos e comigos está em construção entre mim e a Maria. Além do primeiro encontro de percibos e comigos, já testámos uma história de um percibo que estava sozinho e triste. Fica para a próxima.

Percibo, a palavra, é uma forma possível de conjugar o verbo perceber. Eu, pelo menos, consigo perceber a lógica. Percebido?

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Escarlatina?

Escarlatina?, colocada no Flickr por joaomartins.

Via Flickr:
A Maria com escarlatina. Não parece, pois não?

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Navegar através da crise


IMG126, colocada no Flickr por joaomartins.

Fomos à Feira de Março porque “faz parte”. A grande e boa surpresa foi a reacção da Maria a estes divertimentos em família: sorrisos genuínos pela novidade, pela descoberta e pela companhia. Nos carroceis, mas também no algodão doce e no pão quente… neste monumento à cultura popular que é a “feira”.
São momentos destes, sorrisos destes, que temos que saborear e guardar para navegar através da crise, diz a minha costela lírica e ingénua.

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Remorsos

Chego ao fim deste mês de Agosto com a certeza de ter feito quase tudo mal. Quase tudo o que interessava, bem visto. Pela simples razão de saber que, quando a Maria voltar ao infantário e os meninos partilharem memórias das suas férias, é bem provável que eu não faça partes dessas memórias.

Pensando nisso, fico triste e penso “que se lixe o trabalho…”.

Ainda vamos ter as nossas férias, Maria. Desculpa.

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Do papel social da paternidade

Hoje fui buscar a minha filha ao infantário e, seguindo a rotina habitual, fui com ela à padaria mais próxima, onde ela pede e come, entusiasmada, um pão simples, para grande alegria dos funcionários, e eu aproveito para lanchar. No caminho e na padaria— que é um daqueles estabelecimentos típicos de Aveiro, padaria/confeitaria aberta e mantida por famílias de emigrantes na Venezuela que voltaram—, a boa disposição da Maria, que me vai apresentando a quem passa— “papá, papá”, com o dedito apontado—, enquanto distribui sorrisos e olhares carinhosos tem o estranho efeito de iluminar a cara das pessoas, aliviando-lhes, aparentemente, a carga dos dias e fazendo-as sorrir o que, comprovadamente, é bom para a sua saúde. O efeito é particularmente visível entre as pessoas de mais idade que, eventualmente, estão mais necessitadas desse tónico reconfortante, mas também se nota entre pessoas mais jovens, como são as funcionárias da padaria, para quem estes sorrisos familiares são uma óptima quebra na rotina.

De repente dei por mim a pensar que isto também é um papel social da paternidade que não deve ser menorizado: os pais socialmente responsáveis devem permitir um saudável e necessário contacto de quem os rodeia com a felicidade das suas crianças, que é um remédio natural para tantos males do corpo e do espírito. A bem das crianças, com toda a certeza, mas também como uma espécie de serviço público com recompensa imediata.

Dependendo dos pais, a parte mais difícil será garantir a felicidade das suas crianças ou a generosidade de partilhar publicamente a sua manifestação, mas vale bem a pena.

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fim de tarde / fim de semana

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Depois do ar do mar e da ria, frio, que é como sabe bem em Janeiro e dum pastel de nata na Atlântida, a olhar para o sorriso estafado e satisfeito da Maria, percebe-se melhor o significado dum fim de tarde, num fim de semana.

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O primeiro domingo de 2010

Acordei não muito tarde. Desde manhã que estou a dedicar grande parte do meu tempo à Maria, com gosto e sem pressões. De manhã aproveitou-se uma aberta no tempo para ir à rua, comprar coisas para a sopa e tomar o café da praxe. Ouvimos música e brincámos com uma das prendas de Natal que mais atenção tem recebido por agora: um conjunto de pratos, chávenas, uma torradeira, um bule de chá e quejandos, para festas de bonecas, presumo, onde nós ocupamos o lugar das bonecas e vamos alternando entre a brincadeira convencional e a exploração dos barulhos que se conseguem fazer com aquelas “percussões”. Também tivemos um balão, cheio por pouco tempo que a Maria é bastante eficiente na arte de rebentar balões sem se assustar, que como “pele” deu para perceber quais são os recipientes que dão melhores caixas de ressonância. Almoçámos e fui eu que a pus a dormir a sesta, o que não é muito comum, porque nenhum de nós os três costuma ter pachorra para as birras que ela acha que tem que fazer se for eu a acompanhá-la para o quarto na hora da sesta. Não sei o que fiz (ou sei?), mas ela hoje percebeu que não ia haver problema e que não era preciso fazer a birra e adormeceu a agarrar a minha mão. Eu, sentado no sofázito que pusemos ao lado da cama dela, adormeci um bocadinho antes dela, logo que senti a cadência segura da respiração dela a dirigir-se rapidamente para o sono. O meu foi um daqueles sonos de 1 minuto, ao fim do qual ela dormia profundamente e eu acordei com calma e recomposto. Deixei ficar a mão um bocadinho, só para ter a certeza que tudo tinha corrido bem e depois arranjei os lençóis e saí do quarto.

Agora, não estou exactamente à espera que ela acorde, mas quase. Com a Cláudia a precisar de tempo para acabar um trabalho importante para amanhã, tenho este bocadinho da sesta para me organizar e pensar num “programinha” para o resto da tarde.

Não fiz grandes resoluções de ano novo, mas as pequenas que fiz e que, pela sua natureza se manterão privadas, pretendem alterar o meu quotidiano, especialmente na disciplina necessária para estar mais e melhor com a minha filha e com a minha mulher. Este primeiro domingo de 2010 ajusta-se bem a essas resoluções.