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Pordata, serviço público

Foi hoje lançado o Pordata, um novo portal apoiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que “prevê disponibilizar os dados estatísticos em três fases principais: para Portugal (1.ª fase), para Portugal e países da UE 27 (2.ª fase) e para as regiões e municípios portugueses (3.ª fase). O vector comum a toda a informação apresentada é o tempo. Publicada sob a forma de séries cronológicas, a informação incide sobre um longo período, que se inicia, sempre que possível, em 1960 e se prolonga até à actualidade.

Ainda não tive tempo para me debruçar em detalhe, mas é evidente que este será um serviço muitíssimo útil, principalmente, a partir do momento em que algumas pessoas começarem a fazer alguma coisa com os dados, como refere (e bem) o Alex Gamela.

Por curiosidade, fui dar uma espreitadela e deixo aqui um exemplo do tipo de informação que agora é fácil de encontrar, graças ao Pordata:

  • entre 1987 e 2005, as despesas totais em Cultura, realizadas pelas Câmaras Municipais cresceram sempre, de pouco menos de 40 mil euros em 87 até mais de 910 mil euros, em 2005; em menos de 20 anos, multiplicou-se por mais de 20 esta verba
  • depois de 2005 (ano de eleições), esta verba decresceu significativamente; 2005 = 913 mil, 2006 = 802 mil, 2007 = 791 mil e 2008 = 863 mil
  • pegando só no ano de 2008, vemos que neste capítulo das despesas correntes das Câmaras Municipais, o desporto (que tem a fatia de leão) representa 10 vezes mais despesa que as artes cénicas (o parente pobre), numa relação de 183 mil para 18 mil euros

São pedacinhos de informação descontextualizados que não têm qualquer tipo de valor. Postos no contexto certo, talvez permitissem perceber que, a partir de determinada altura, a cultura passou a ser de forma mais clara, um instrumento de promoção das cidades e dos seus poderes, vendo o seu financiamento aumentado, mas dependente de ciclos eleitorais. Ou talvez permitissem ajudar a clarificar a (falta de) estratégia e política cultural a nível local, reflexo dum défice nacional e a estabelecer as bases para uma discussão séria sobre quais as áreas de investimento cultural prioritário. Uma coluna de dados com particular interesse, é a que diz respeito à despesa corrente em recintos culturais (única parcela que fica abaixo das despesas em artes cénicas) e o que isso significa na inexistência de redes de circulação e descentralização da fruição cultural.

Como vêem, um acesso superficial e de poucos minutos aos dados já compilados, mostra bem a utilidade desta plataforma. Com o tempo, e com as ferramentas já disponíveis, temos todas as condições para ficar a conhecer melhor o país e discuti-lo com base em alguma realidade.

Obrigado aos promotores do Pordata, portanto.