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jazz.pt | F.R.I.C.S.: balanço do 1º ano de actividade

Porque vem a propósito da comemoração do 2º aniversário da Fanfarra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa – F.R.I.C.S., que será eficazmente assinalado com o concerto de amanhã, e porque estou diligentemente a fazer crescer o número de artigos do blog originalmente publicados na Jazz.pt, republico na íntegra o ensaio/reportagem que escrevi para o número 17 da revista, por encomenda do Rui Eduardo Paes, responsável pelo seguinte prólogo:

O crescendo de popularidade em apenas 15 meses de vida desta invulgar mini-”big band” está a torná-la num dos mais curiosos fenómenos musicais da actualidade do nosso país.

Muita água correu debaixo das pontes, mas o que escrevi em Janeiro de 2008 continua, na minha modesta opinião, a valer o espaço que ocupa.

FANFARRA RECREATIVA E IMPROVISADA COLHER DE SOPA – F.R.I.C.S.

Balanço do primeiro aniversário

A 14 de Dezembro de 2006, em jeito de “mashup” celebrativo- juntando o Natal ao Solstício de Inverno e ao Ano Novo-, o colectivo portuense Soopa, no cumprimento duma quase “tradição”, levou a um espaço habitual (o palco dos Maus Hábitos) alguns dos suspeitos do costume- anunciados como “algumas das mais obscuras celebridades do underground nortenho”-, numa configuração e sob um pretexto inesperado: “Uma Fanfarra Para o Século XXI!“.
A promessa, como é aliás comum nas propostas deste prolixo colectivo elevava a fasquia bem alto:

“Este grupo de 7 músicos irá levar o público numa viagem psicadélica que tem como ponto de partida o princípio comunitário, festivo e ruidoso das fanfarras populares, estando o ponto de chegada situado algures entre o desconhecido e a madrugada do dia 15.”

Não é nunca fácil a tarefa de compreender a real profundidade ou o real compromisso de quem se envolve neste tipo de propostas, ou neste tipo de formulações (nem quando se é parte do evento), pelo que, quanto ao nascimento do projecto, por elementar justiça, poder-se-á apenas afirmar que o investimento feito a priori na definição dum modus operandii e na selecção dos intervenientes e instrumentação disponível, provou ser determinante na definição da anatomia do concerto em causa e, consequentemente, de todo o projecto, a longo prazo: a estratégia de improvisação dirigida, por recurso à figura do “tele-maestro”, com imensa eficácia conceptual e pragmática e a opção pela prevalência de instrumentos de sopro transformaram uma promessa que poderia não passar disso mesmo, num daqueles raros momentos em que, no reino da experimentação mais radical (na perspectiva de alguns), o prometido é cumprido.

Não é claro, nem será a curto prazo, quanto do resto desta história depende directamente do eventual sucesso dessa primeira abordagem deste universo. E o panorama onde circulam estes projectos está cheio de histórias que se encerram com um primeiro capítulo deste género, independentemente do grau de realização ou das repercussões geradas.
O que é claro é que essa primeira experiência não só deixou marcas nos participantes directos, como terá criado necessidades imprevistas no público: não só a recepção foi entusiasta e incrédula quanto seu ao carácter inaugural, como nos deparámos com incentivos e convites para a sua repetição em diversos contextos e receptividade face ao possível lançamento de um disco.
Para um projecto recém-nascido, em que parte substancial dos músicos se encontrava pela primeira vez, a natureza dessas reacções não era vulgar. Mas era verosímil e parecia fazer sentido.
Ainda que articular uma explicação fosse (e continue a ser) uma tarefa difícil.