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Revolucionário?

É cada vez mais frequente vermos aplicado o termo “revolucionário” a produtos, serviços ou tecnologias em fase de lançamento e é também muito frequente que isso seja apenas e só sinal crescente da banalização do termo por culpa de marketeers ambiciosos que vêm na “novidade”, por pequena que seja, a brecha para uma revolução que, com fogo de vista se oferece aos consumidores como outra coisa que não uma pequena revolução nos seus bolsos…

Assistimos a isso tantas vezes em tantas áreas que se torna por vezes difícil distinguir entre o hype e a real thing e, dependendo do grau de cinismo, podemos mesmo recorrer ao célebre mote The Revolution Will Not Be Televised para descartarmos todas as promessas de revolução que nos cheguem pela publicidade ou pelas notícias na imprensa…

Mas num mundo globalizado e cada vez mais dependente das tecnologias de informação e cada vez mais “ligado”, não podemos deixar de manter acesa alguma esperança de que sinais de revolução possam surgir nos monitores dos nossos computadores. E não podemos ignorar que algumas revoluções acontecem/acontecerão precisamente na forma como usamos estas tecnologias e que outras tantas se apoiam/apoiarão nestas tecnologias e na força “viral” das redes de informação para atingirem os seus objectivos.

Poderá não ter lugar no horário nobre das televisões e escapar mesmo à maioria da imprensa “convencional”, mas a(s) revolução(ões) do nosso tempo chegarão até nós via web, ou acontecerão à frente dos nosso narizes, nos nossos monitores e encherão páginas de blogs e emissões de podcasts e videocasts.

O problema que se coloca é saber se no meio de todo este ruído digital, de tantas notícias de revolução nos transportes, revolução nas comunicações, revolução no entretenimento, seremos capazes de manter presente a ideia de que só existe verdadeiro potencial revolucionário em ideias capazes de unir as pessoas e transformar efectivamente o mundo e que nada disso depende de gadgets mais ou menos interessantes e inovadores, mas, evidentemente, exclusivistas, efémeros e superficiais.

A Segway, que ia revolucionar os transportes, agora é

Os exemplos que escolhi para os links (Segway, iPhone e AppleTV) são apenas exemplos de revoluções de marketeer que, pela visibilidade obscena que têm, merecem este tratamento de destaque negativo. Acredito que cada um destes produtos inclui características e inovações tecnológicas que constituem passos evolutivos importantes em cada uma das áreas. E acredito até que a integração desses aspectos em novos contextos menos centrados no lucro financeiro imediato possa trazer à sociedade em geral melhorias que poderão desempenhar um qualquer papel em algumas das revoluções reais de que necessitamos.

 

Apple iPhone. Revolutionary Phone !?

Acredito, por exemplo, que partes da engenharia da Segway combinados com outros bocados do génio de Dean Kamen poderão contribuir decisivamente para uma revolução real na mobilidade e nas políticas de transporte nas cidades, mas o verdadeiro motor dessa revolução não será um produto ou um conjunto de soluções técnicas, mas a vontade social de quebrar as barreiras que tornam as nossas cidades inimigas das pessoas.

Acredito até, tentando ver para lá da minha desconfiança relativamente a dispositivos tácteis, que aspectos pontuais do interface do iPhone possam expandir as possibilidades de interacção com dispositivos de várias escalas e que o impulso que ele trará à construção de novos tipos de web apps possa permitir algumas mudanças positivas, mas o verdadeiro motor de uma revolução nas comunicações (como se vê nas sucessivas definições da web 2.0) será a vontade social de estender as possibilidades de intercâmbio e participação a mais e mais pessoas, quebrando barreiras culturais, técnicas e económicas.

Porta Chaves Che GuevaraNenhuma revolução se fará, aliás, nem com gadgets de ricos, nem com memorabilia revolucionária, por mais que os marketeers façam subir os lucros dos seus patrões a vender t-shirts, porta-chaves ou iPods (ainda não se lembraram desta, pois não?) com a já gasta silhueta do Che Guevara (deve andar às voltas na tumba).

Mas se é fácil denunciar as “falsas” revoluções, mais difícil é dar visibilidade a eventos, causas e projectos verdadeiramente revolucionários, principalmente quando parte da revolução assenta em tecnologias. Basta pensarmos na questão óbvia do movimento Open Source, para vermos como facilmente chovem acusações de parcialidade, preconceito ou pura e simples inépcia quando alguém tenta promover uma ferramenta, uma linguagem ou uma plataforma de desenvolvimento que pareça uma verdadeira ferramenta da revolução. Organizado em “seitas” (como tantos movimentos revolucionários), o mundo do Open Source tem dificuldade em lidar com o exterior e consigo próprio e as guerras internas, que o debilitam, servem apenas para alimentar as grandes empresas, que têm razões para recear o potencial verdadeiramente revolucionário do Open Source.

E (essa) revolução vai sendo adiada, avançando passo-a-passo, aos soluços.

Essa era uma revolução em que eu queria participar, mas o ambiente de “clandestinidade” que se vive por ali, faz-me manter este estatuto tipo “esquerda-caviar” que é, de facto, a condição dos Mac Users.

Outra revolução real é a que Nicholas Negroponte pretende com o projecto One Laptop Per Child, que como ele não se cansa de referir, “é um projecto de educação, não um projecto de um computador portátil“.

OLPC Laptop

Uma iniciativa destas reduz todos os planos e choques tecnológicos de marketeers armados em políticos à sua insignificância e devia-nos pôr todos a pensar nas verdadeiras revoluções que faltam fazer.

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Se tiver sido propositado é brilhante

… se não, é só engraçado.

Outdoor no Porto, rapariga com um candeeiro de iluminação pública espetado na testa

Outdoor no Porto, rapariga com um candeeiro de iluminação pública espetado na testa

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Pornografia, ou a arte de ser explícito

Uma visita rápida ao site do Correio da Manhã, para completar o post anterior, mostrou-me o que tenho andado a perder no que diz respeito ao carácter explícito do tipo de informação que por ali se pratica:


Correio da Manhã noticia possibilidade de pais bloquearem sexo na net

Para quem for notícia o facto de se poder bloquear ou controlar informaticamente o acesso a conteúdos online de carácter explícito, talvez interesse perceber qual a utilidade de o fazer. Nada melhor, portanto, do que pôr dois bons exemplos na mesma página (a de entrada no site do jornal): a notícia de um crime sexual numa cavalariça da GNR e um anúncio a uma sex shop de nome irrepetível, ilustrado com imagens “picantes”.  Isto sim, é informação útil para todos os pais e encarregados de educação preocupados com os hábitos de navegação das suas crianças!
Não é claro se os filtros que fazem a notícia do Correio da Manhã bloqueariam ou não a página do próprio jornal, mas parece-me óbvio que a sex shop está a fazer um grande negócio, anunciando a um preço normal (presumo), numa página que responde a pesquisas tão apetecíveis como “sexo na net”+”soldado da Guarda Nacional Republicana”+cavalariças… e isto é só um exemplo, sem entrar em detalhe nos resumos das notícias.

Ou será que o Correio da Manhã online está “tão à frente” que os anúncios são colocados por relevância contextual? 😉

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O Poder da Natureza é Infinito?

Eu sou, por tradição familiar (à falta de melhor argumento), consumidor de Água das Pedras. Bebo água com gás mineral natural de outras marcas, mas sou daqueles que, um bocadinho à antiga, pede “um café e uma água das pedras“, em vez dum mais genérico “um café e uma água com gás“. Não sou completamente antiquado— não peço “um quarto de pedras” como o meu pai—, mas é uma tradição que me dá gosto manter. E a verdade é que a água sabe-me melhor.

Anúncio Pedras Salgadas, O Poder da Natureza é Infinito

Por isso, como tantos outros consumidores convictos de Água das Pedras, encaro sempre com alguma frustração o quase banal “pedras não temos, pode ser…?” e com uma ponta de irritação a, também comum, substituição não anunciada e leviana por outra água qualquer (tenho um ranking pessoal no que diz respeito às alternativas)… mas resigno-me e limito-me a anotar mentalmente os sítios onde há e não há Água das Pedras e quais as práticas substitutivas usadas, sem que isso condicione verdadeiramente as minhas escolhas de “estabelecimentos”, mas como exercício de preparação mental, digamos assim. Mas mesmo nos sítios onde sei que não costuma existir, nunca deixo de pedir a minha água pelo nome, na secreta esperança de vir a ser surpreendido… é raro, mas já aconteceu.

Pedras Salgadas, problemas na distribuição?

As campanhas publicitárias recentes da Água das Pedras, sob o mote “O Poder da Natureza É Infinito” e “Trazida Até Si Pela Natureza” prometiam um novo vigor à marca e, como de costume, fizeram-me ter a esperança de poder beber a minha água em locais que tradicionalmente não a tinham.
São anúncios bonitos e bem feitos, que ficam na cabeça das pessoas, o que faria com que comerciantes que habitualmente devem usar critérios exclusivamente de preço na escolha do stock de águas, pensassem um bocadinho melhor e quisessem ter “aquela de que mais se fala“. Julgava eu.
A verdade é que, em mim, a campanha está a ter um efeito perverso: vejo a água mais na publicidade do que nos sítios que frequento e isso aumenta a minha frustração. E, de repente, a imagem “queridinha” de duas tartarugas a trazerem a água até mim, porque ela é “trazida pela natureza” tem apenas o sentido trágico-cómico de “nunca mais se despacham a chegar aos sítios onde eu estou!“.

O Poder da Natureza é Infinito, de facto, mas parece que não pode muito contra um urso a tratar da distribuição!

Pedras Salgadas, um urso na distribuição?