A crítica ao CD Now Boarding, publicada no nº 24 da jazz.pt, aconteceu depois de ter conduzido uma entrevista ao Quad Quartet, em Dezembro de 2008, para publicação na Viento, uma revista espanhola especializada em instrumentos de sopro e editada pela Mafer Musica, representante ibérica da Selmer e da Vandoren. A edição na revista espanhola acontecerá brevemente, mas, para os leitores portugueses, deixo o conteúdo aqui, em pré-publicação.
Etiqueta: Quad Quartet
Texto escrito por João Martins, a 01/04/2009.
Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.
Quad Quartet: Afirmação de Identidade
É um quarteto de saxofones e tem matriz na música erudita, mas a sua estreia em disco (com edição de autor, o que denuncia a urgência de mostrar o seu trabalho) utiliza temas de Jazz de Carlos Azevedo e Mário Laginha. Uma óptima surpresa!
CLASSIFICAÇÃO: 4/5
Como edição de estreia, “Now Boarding” é um projecto surpreendente. E, se pensarmos que se trata duma edição de autor, mais surpreendente se torna: o rigor e exigência que se sente em cada aspecto desta edição é, francamente, acima da média: desde a escolha do repertório, à sua apresentação no suporte final, passando pela qualidade da gravação e produção, “Now Boarding” é o reflexo duma estrutura profissional e empenhada na concretização dum projecto musical completo.
Se o saxofone é um instrumento peculiar no lugar que ocupa como ponte entre as músicas eruditas e populares (por ser um instrumento recente, a sua adopção no universo da música erudita deve-se, em grande parte, ao seu sucesso como instrumento no jazz ou nas bandas filarmónicas), um quarteto de saxofones é um agrupamento paradoxal, já que se trata da configuração paradigmática da música de câmara erudita, construído à semelhança do quarteto de cordas. Por isso mesmo, é no espaço do quarteto que a maioria dos saxofonistas de formação clássica se formam enquanto músicos, onde a diversidade e profundidade do repertório original e adaptado permite uma formação abrangente a a maturação musical. Mas, também por isso, apesar da quantidade de quartetos existentes, a afirmação de identidades de tipo “autoral”, duma “voz”, se quisermos, torna-se particularmente difícil. No caso do Quad Quartet, essa identidade constrói-se de duas formas: através da escolha criteriosa do repertório e do seu encadeamento consequente e através dum processo de descodificação técnica da obra que assenta acima de tudo em soluções musicais.
“Now Boarding” é um momento claro de afirmação dessa identidade: o repertório escolhido une compositores portugueses e holandeses, numa ponte entre o país de origem destes saxofonistas e o país onde construíram parte da sua formação. Mas o que une os membros deste quarteto a Luís Tinoco, Carlos Guedes e Mário Laginha, os compositores portugueses, ou a Chiel Meijering, o compositor holandês, não são só coincidências geográficas: a este quarteto de saxofonistas de formação clássica interessa uma música que seja contemporânea e “familiar”, uma música feita agora e que, ao reflectir de diferentes formas a realidade quotidiana, se aproxime das pessoas. Para lá de géneros musicais ou convenções e sem preconceitos. Ao intercalar as peças histriónicas de Chiel Meijering, onde o caos das paisagens urbanas contemporâneas se traduz em rápidas colagens e transições de clichés musicais, ou texturas e ambientes fílmicos e efeitos mais ou menos caricaturais, com as peças jazzísticas de Carlos Guedes e Mário Laginha e a escrita mais ambiental de Luís Tinoco, não só o quarteto demonstra uma grande parte do imenso espectro sonoro à disposição da formação, como cria um todo coeso, não monótono, que justifica esta edição em disco.
A viagem que o disco nos propõe, atravessa ambientes familiares, em diversas representações, sempre musicais e sempre actuais. Um testemunho do potencial contido na união de quatro saxofonistas talentosos e da pertinência das práticas musicais escritas que não se deixam espartilhar por fronteiras estilísticas artificiais.
Quad Quartet, Now Boarding
Ed. de Autor, Portugal 2009
João Figueiredo (Sax Soprano), Fernando Ramos (Sax Alto), Henrique Portovedo (Sax Tenor) e Romeu Costa (Sax Barítono)
+ info: http://www.quadquartet.com
Texto escrito por João Martins, a 01/04/2009.
Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 24 da revista jazz.pt.
A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.
Aliás, já está nas bancas há umas semanas, mas ainda não me chegou à caixa de correio, nem houve ainda tempo para actualizar o site, pelo que a capa digital ainda não está disponível.
É mais um bom número da revista. Fica o índice e os meus destaques (egoístas):
jazz.pt #24: Maio/Junho 2009
- BD (Carlos Zíngaro)
- Breves
- Agenda de concertos
- Estante do Miguel (Miguel Martins)
- Ciber Jazz (Daniel Sequeira)
- Jazz Bridges (Rui Miguel Abreu)
- New York is Now (Kurt Gottschalk)
- Blues.pt (António Ferro)
- Perfil: José Pedro Coelho (António Branco)
- Às Escuras: José Lencastre (Abdul Moimême)
- Preview: Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra (António Branco)
- Portugal Jazz
- Reports:
- Portalegre Jazzfest (António Branco)
com referência ao concerto do Spy Quintet:
«Para o final, noite dentro, o Spy Quintet recuperou o projecto inspirado no álbum “Spy vs Spy”, de John Zorn e Tim Berne, e foi uma agradável surpresa. Do denso muro rítmico erguido pelos dois bateristas (Gustavo Costa e João Tiago Fernandes) e pelo contrabaixista Henrique Fernandes, soltaram-se os dois saxofonistas (João Martins e Rui Teixeira), que sopraram vigorosamente e com alma, dando muito boa conta de si.
Terminava em alta um festival que continua a crescer a olhos (e ouvidos) vistos.» - Braga Jazz (Nuno Catarino)
- Dose Dupla (António Rubio, Rui Duarte)
- Wayne Shorter (João Martins)
o texto virá parar aqui ao blog dentro de dias - Off-Road (Alberto Mourão)
- André Fernandes Imaginário (Nuno Catarino)
- Portalegre Jazzfest (António Branco)
- Entrevistas:
- Zé Eduardo (Abdul Moimême)
o Zé Eduardo, “grande timoneiro”, é o tema da capa e é mesmo uma figura central do Jazz e da sua promoção e ensino, em Portugal; eu tive o prazer de verificar isso directamente, frequentando 2 workshops que ele dirigiu em Aveiro, há uns anos - Fred Frith (Charity Chan)
o Fred Frith é uma figura seminal e nesta entrevista fala sobre o seu papel no ensino da improvisação, no Mills College; vale a pena uma leitura atenta
- Zé Eduardo (Abdul Moimême)
- Forward:
- Bay Area (Rui Eduardo Paes)
- Jazz ao Norte (João Martins)
o texto virá parar aqui ao blog dentro de dias
- 33 RPM: New Phonic Art (Abdul Moimême)
- Ponto de Escuta (Gonçalo Falcão, Paulo Barbosa, Rui Duarte, Rui Eduardo Paes, João Aleluia, Paulo Gonçalves, José Pessoa, João Pedro Viegas, Alberto Mourão, Nuno Catarino, Abdul Moimême, João Martins)
foi a primeira vez que participei no “Ponto de Escuta” e tive o prazer de, além de me debruçar sobre discos que a revista me propôs— Udentity de Denman Maroney, Prelude de Ambrose Akinmusire e Shakti de David S. Ware (os textos virão cá parar)—, pude divulgar, através da crítica, uma edição de autor que merece atenção: Now Boarding, do Quad Quartet (também virá cá parar o texto) - Discos da Minha Vida: Pedro Costa