O título é um bocado exagerado, mas confesso que estou completamente rendido à Last.fm e quase “viciado” no conceito de “Internet Radio” que eles oferecem. Já tentei várias vezes explicar a pessoas que conheço como é e como funciona, mas quase nunca consigo transmitir claramente aquilo que me cativa. A verdade é que uma parte das pessoas não percebe e não perceberá, porque está demasiado habituada a formas de partilha e dowload ilegal de música e não encontra ali nada que não possa “sacar” de outros sítios sem peso na consciência.
Eu, não sendo nenhum santo, gosto da sensação de ouvir a música legalmente, não pelo medo ou pelo respeito pela indístria discográfica, mas porque me parece que aumento as possibilidades de não estar a desrespeitar a vontade dos autores, que é a única que me interessa. E na Last.fm, posso ouvir de tudo, como numa rádio, mas não posso descarregar todas as músicas (só as disponibilizadas pelos artistas ou editoras) e, nesse sentido é algo de muito próximo de estar a ouvir rádio real. Mas sem as desvantagens— não tenho anúncios, nem interrupções idiotas nem tenho que estar dependente da vontade dos programadores— e com muitas vantagens: desde a minha capacidade de modelar a programação através de tags, de relações entre artistas ou de gostos/recomendações da comunidade (isto uso pouco) até à possibilidade de ir ver o que estou a ouvir (neste momento ou há bocadinho) e encontrar informação adicional, gerada e gerida pela comunidade num modelo de wiki que funciona extraordinariamente bem.
Mas mais do que ser um valioso “upgrade” do conceito de rádio, a Last.fm surpreende-me pela extraordinária biblioteca disponível, que me oferece horas infindáveis de música de que gosto, alguma da qual desconhecia completamente, e em géneros musicais que não têm (quase) nenhum espaço na rádio tradicional (e não estou só a falar da minha música 😉 ).
Experimentem pedir à Last.fm para vos tocar artistas parecidos com Fred Frith, Derek Bailey, John Zorn… ou Charlie Parker e Ornette Coleman, ou Stravinsky, Ligeti, John Cage, Risset, ou… Black Sabbath… já perceberam a ideia ou terei que sugerir Nelly Furtado para perceberem como se fazem as rádios comerciais que alguns de nós têm que gramar no carro? 😉
Experimentem mesmo e verão que o mais extraordinário é o fluxo das escolhas e das relações entre músicas que se constrói quer por sugestão das editoras e dos artistas, quer pela análise dos hábitos de escuta da comunidade de utilizadores e, quase de certeza, além de música que queriam mesmo ouvir, irá surgir música que não sabiam que queriam ouvir, música da qual já se tinham esquecido, música que nunca pensaram arrumar naquela prateleira, música verdadeiramente nova… Tudo é possível.
Ou serei eu que tenho muita sorte?
Em jeito de graça narcisista, deixo-vos o link de uma “estação” que tenho sincronizado frequentemente. E até aqui surjem agradáveis surpresas. 😉
Nota: o destaque que dou ao serviço da rádio não pretende menorizar todas as outras valências altamente interessantes da Last.fm, da qual se destaca o calendário de eventos, mas a verdade é que é este o maior factor diferenciador da plataforma, na minha opinião.