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É uma revolução? É sim, meu menino.

Confuso com o movimento, o som da «Fanfarra Recreativa Improvisada Colher de Sopa» e os polícias que circulavam no interior e exterior do edifício, uma criança questionou o pai sobre o que se estava a passar.
«É uma revolução?», ouviu-se a pergunta.

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Bolhão: Artistas e populares contra projecto recuperação

Diário Digital/Lusa | 16-02-2008 16:51:00

Artistas, arquitectos, políticos e populares aderiram hoje, no Porto, a mais uma manifestação organizada pelo movimento cívico em defesa do Mercado do Bolhão, que agendou já idêntico protesto para o próximo sábado.

Animados pela notícia da classificação do mercado do Bolhão como imóvel de interesse público, os organizadores do protesto garantem que «não vão parar» e manifestam-se, agora, mais confiantes de que o tribunal, através de uma providência cautelar, lhes dê razão e impeça o avanço do projecto da autarquia de reconversão do edifício.
Em declarações à Lusa, o arquitecto Correia Fernandes lamentou que a Câmara do Porto se tenha «demitido da obrigação de procurar rubricas, programas e outros apoios que existem para a reabilitação física dos espaços, optando pela imediata entrega do imóvel a um grupo privado».
Entregou a concepção do projecto, mas também a construção e a exploração do mercado sem antes ter tentado encontrar uma solução alternativa, nomeadamente através de candidaturas a fundos comunitários que existem», frisou.
O arquitecto, que hoje se juntou às dezenas de manifestantes que se reuniram em frente ao mercado, explicou que «todos os edifícios vão mudando – veja-se o caso da Cadeia da Relação – mas o importante é a manutenção da memória».
No caso do Mercado do Bolhão, «trata-se de um edifício notável e de grande importância a nível mundial».
A mesma opinião foi transmitida pelo mestre José Rodrigues, que faz questão de afirmar que adere a todos os movimentos que visem impedir os atentados contra o património.
Do negócio não sei, mas sei que destruir um património destes é um crime», acrescentou o escultor, considerando que «uma cidade vive de memórias».
José Rodrigues defende que se «façam obras e que se modernize o mercado», mas «mantendo as suas características principais».
O Bolhão faz parte do Porto», frisou.
A azáfama no interior do mercado era a habitual de uma manhã de sábado, não se notando, segundo os comerciantes e clientes, grandes alterações no movimento apesar da «festa» que decorria no exterior.

Isabel Figueira, de 71 anos, todos os dias visita o mercado.

«Só me ajeito a comprar aqui» disse, afirmando à Lusa que concorda que se façam obras «desde que garantam o regresso dos comerciantes».
Os jovens Andreia e Humberto vieram do Algarve para um período de férias no Porto.
«É a primeira vez que aqui estamos e viemos porque é um sítio emblemático da cidade», disseram.
Um outro casal, também jovem, explicou que moram na baixa portuense e que todos os sábados fazem compras no «Bolhão».
Confuso com o movimento, o som da «Fanfarra Recreativa Improvisada Colher de Sopa» e os polícias que circulavam no interior e exterior do edifício, uma criança questionou o pai sobre o que se estava a passar.
«É uma revolução?», ouviu-se a pergunta.

Simultaneamente ao protesto decorreu uma recolha de assinaturas para um abaixo-assinado que será entregue, a meio da próxima semana, na Assembleia da República, onde se defende que o Mercado do Bolhão «deve ser reabilitado e não demolido».
Este abaixo-assinado já recolheu cerca de «20 mil assinaturas», segundo um dos promotores, mas espera-se que o número continue a aumentar até 21 de Fevereiro, dia em que será entregue no parlamento.
A Câmara do Porto assinou a 23 de Janeiro um contrato com a TranCroNe (TCN), onde se prevê que a autarquia ceda o edifício em direito de superfície por 50 anos, recebendo um milhão de euros no momento da emissão da licença de construção e uma percentagem dos resultados de exploração a partir do décimo ano.
As origens do Mercado do Bolhão, um dos edifícios mais emblemáticos da cidade, remontam a 1838, quando a Câmara do Porto decidiu construir uma praça em terrenos adquiridos ao cabido.

Diário Digital/Lusa
16-02-2008 16:51:00

Ainda não assinou a petição? De que é que está à espera?

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Revolucionário?

É cada vez mais frequente vermos aplicado o termo “revolucionário” a produtos, serviços ou tecnologias em fase de lançamento e é também muito frequente que isso seja apenas e só sinal crescente da banalização do termo por culpa de marketeers ambiciosos que vêm na “novidade”, por pequena que seja, a brecha para uma revolução que, com fogo de vista se oferece aos consumidores como outra coisa que não uma pequena revolução nos seus bolsos…

Assistimos a isso tantas vezes em tantas áreas que se torna por vezes difícil distinguir entre o hype e a real thing e, dependendo do grau de cinismo, podemos mesmo recorrer ao célebre mote The Revolution Will Not Be Televised para descartarmos todas as promessas de revolução que nos cheguem pela publicidade ou pelas notícias na imprensa…

Mas num mundo globalizado e cada vez mais dependente das tecnologias de informação e cada vez mais “ligado”, não podemos deixar de manter acesa alguma esperança de que sinais de revolução possam surgir nos monitores dos nossos computadores. E não podemos ignorar que algumas revoluções acontecem/acontecerão precisamente na forma como usamos estas tecnologias e que outras tantas se apoiam/apoiarão nestas tecnologias e na força “viral” das redes de informação para atingirem os seus objectivos.

Poderá não ter lugar no horário nobre das televisões e escapar mesmo à maioria da imprensa “convencional”, mas a(s) revolução(ões) do nosso tempo chegarão até nós via web, ou acontecerão à frente dos nosso narizes, nos nossos monitores e encherão páginas de blogs e emissões de podcasts e videocasts.

O problema que se coloca é saber se no meio de todo este ruído digital, de tantas notícias de revolução nos transportes, revolução nas comunicações, revolução no entretenimento, seremos capazes de manter presente a ideia de que só existe verdadeiro potencial revolucionário em ideias capazes de unir as pessoas e transformar efectivamente o mundo e que nada disso depende de gadgets mais ou menos interessantes e inovadores, mas, evidentemente, exclusivistas, efémeros e superficiais.

A Segway, que ia revolucionar os transportes, agora é

Os exemplos que escolhi para os links (Segway, iPhone e AppleTV) são apenas exemplos de revoluções de marketeer que, pela visibilidade obscena que têm, merecem este tratamento de destaque negativo. Acredito que cada um destes produtos inclui características e inovações tecnológicas que constituem passos evolutivos importantes em cada uma das áreas. E acredito até que a integração desses aspectos em novos contextos menos centrados no lucro financeiro imediato possa trazer à sociedade em geral melhorias que poderão desempenhar um qualquer papel em algumas das revoluções reais de que necessitamos.

 

Apple iPhone. Revolutionary Phone !?

Acredito, por exemplo, que partes da engenharia da Segway combinados com outros bocados do génio de Dean Kamen poderão contribuir decisivamente para uma revolução real na mobilidade e nas políticas de transporte nas cidades, mas o verdadeiro motor dessa revolução não será um produto ou um conjunto de soluções técnicas, mas a vontade social de quebrar as barreiras que tornam as nossas cidades inimigas das pessoas.

Acredito até, tentando ver para lá da minha desconfiança relativamente a dispositivos tácteis, que aspectos pontuais do interface do iPhone possam expandir as possibilidades de interacção com dispositivos de várias escalas e que o impulso que ele trará à construção de novos tipos de web apps possa permitir algumas mudanças positivas, mas o verdadeiro motor de uma revolução nas comunicações (como se vê nas sucessivas definições da web 2.0) será a vontade social de estender as possibilidades de intercâmbio e participação a mais e mais pessoas, quebrando barreiras culturais, técnicas e económicas.

Porta Chaves Che GuevaraNenhuma revolução se fará, aliás, nem com gadgets de ricos, nem com memorabilia revolucionária, por mais que os marketeers façam subir os lucros dos seus patrões a vender t-shirts, porta-chaves ou iPods (ainda não se lembraram desta, pois não?) com a já gasta silhueta do Che Guevara (deve andar às voltas na tumba).

Mas se é fácil denunciar as “falsas” revoluções, mais difícil é dar visibilidade a eventos, causas e projectos verdadeiramente revolucionários, principalmente quando parte da revolução assenta em tecnologias. Basta pensarmos na questão óbvia do movimento Open Source, para vermos como facilmente chovem acusações de parcialidade, preconceito ou pura e simples inépcia quando alguém tenta promover uma ferramenta, uma linguagem ou uma plataforma de desenvolvimento que pareça uma verdadeira ferramenta da revolução. Organizado em “seitas” (como tantos movimentos revolucionários), o mundo do Open Source tem dificuldade em lidar com o exterior e consigo próprio e as guerras internas, que o debilitam, servem apenas para alimentar as grandes empresas, que têm razões para recear o potencial verdadeiramente revolucionário do Open Source.

E (essa) revolução vai sendo adiada, avançando passo-a-passo, aos soluços.

Essa era uma revolução em que eu queria participar, mas o ambiente de “clandestinidade” que se vive por ali, faz-me manter este estatuto tipo “esquerda-caviar” que é, de facto, a condição dos Mac Users.

Outra revolução real é a que Nicholas Negroponte pretende com o projecto One Laptop Per Child, que como ele não se cansa de referir, “é um projecto de educação, não um projecto de um computador portátil“.

OLPC Laptop

Uma iniciativa destas reduz todos os planos e choques tecnológicos de marketeers armados em políticos à sua insignificância e devia-nos pôr todos a pensar nas verdadeiras revoluções que faltam fazer.