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Requisitos para trabalhar com ferramentas Open Source

Quando se apresentam as vantagens teóricas e práticas das ferramentas informáticas Open Source é raro falar-se em profundidade dos requisitos que estas apresentam, ao contrário do que acontece na maior parte das vezes que se discutem ferramentas proprietárias. É natural que assim seja: como estas ferramentas são abertas e livres, não existe, de facto, uma lista de “exigências” e (in)compatibilidades, como acontece muitas vezes com as ferramentas proprietárias, que as apresentam, muitas vezes, apenas por interesses comerciais e sem nenhum fundamento técnico. A diversidade de distribuições de algumas destas ferramentas, disponíveis para variadíssimos “sabores” de Linux, mas também para Windows e Mac OS X, com bastante frequência, tornam ainda mais complicado falar de “requisitos” e promovem a ideia de que todas elas funcionam igualmente bem em qualquer ambiente. Numa primeira abordagem e para uma utilização pacata, suspeito que isso corresponda à verdade e essa é mais uma das razões para que não se levante frequentemente este problema dos “requisitos”, mas se nos debruçarmos mais a sério sobre estas ferramentas e se fizermos uma utilização intensiva, comparando-as com as concorrentes comerciais, começamo-nos a deparar com dificuldades estranhas e muitas vezes pouco documentadas. Especialmente se, como eu, adoptarmos várias ferramentas open source, mas não formos rigorosos militantes do modelo FLOSS— ou seja, não só mantenho como sistema operativo o Mac OS X, como preciso de ver a vantagem técnica das soluções open source, já que as morais, que não menosprezo, em momentos de crise podem não ser suficientes para não me impedir de fazer o meu trabalho.

O dia de hoje— como todos os momentos cruciais de finalização e entrega de trabalhos de design de alguma dimensão desde que comecei a usar intensivamente o GIMP, o Inkscape e o Scribus— voltou a fazer-me pensar, dolorosamente, nesta questão. Sendo, teoricamente, ferramentas muitíssimo potentes e perfeitamente capazes de realizar as mesmas tarefas que as mais avançadas soluções comerciais e tendo eu a experiência de assistir à demonstração disso mesmo ou fazer essas demonstrações eu próprio, a verdade é que, em velocidade de cruzeiro, na configuração que eu tenho neste momento, a performance é dolorosa.

Os problemas maiores que me afligem dividem-se em 3 grandes áreas:

  • Gestão de memória: quando trabalho com ficheiros grandes (imagens raster de grandes dimensões no GIMP, ficheiros com muitos objectos ou geometrias complexas no Inkscape, documentos de grande dimensão no Scribus…) operações relativamente simples demoram imenso tempo, recordando os processos de edição digital de há 10 anos atrás. Em determinados períodos isso não é mau; dá-nos tempo para pensar, ajuda a gerir as pausa, etc. Mas numa fase final de produção de elementos para impressão, em contra-relógio, é exasperante. E se fosse para ter a performance de há 10 anos atrás, não se justificava ter máquinas recentes, com processadores recentes e memória adequada.
  • Instabilidade: na altura da verdade, tenho sido presenteado com freezes e crashes como nunca tinha visto (eu nunca usei Windows para trabalho). E, se no GIMP a instabilidade parece estar directamente relacionada com o problema da gestão de memória, já que só se nota com ficheiros de grandes dimensões (apesar de haver um ou outro filtro ou extensão pouco recomendável, também pelos imensos ficheiros que gera, mesmo que temporariamente), quer no Inkscape, quer no Scribus, chego a pensar que a condição necessária e suficiente para ter um freeze ou um crash é estar a trabalhar em algo de que precise durante algum tempo. Bem sei que tem que haver um padrão e já identifiquei algumas operações “sensíveis” nas duas aplicações, como agrupar e desagrupar grandes quantidades de objectos, aplicar máscaras e clipping paths no Inkscape, tentar abrir a janela de impressão no Inkscape, manipular elementos vectoriais importados no Scribus, obrigar o Scribus a muitos redraws, através de zooms e pans… Mas a instabilidade das aplicações, para quem vem dum universo Macintosh, é um pesadelo kafkiano e em momentos críticos, crashes a cada 5 minutos, como tenho tido quando estou a finalizar a composição de MUPIs, por exemplo, faz perder qualquer esperança no benefício kármico de usar software livre.
  • Compatibilidade: este problema não é tão grave como os outros do ponto de vista de performance, uma vez que é algo a que já estamos habituados nas soluções comerciais, mas é estranho que os SVGs do Inkscape, por exemplo, tenham alguma dificuldade de importação no Scribus se usarem algumas funcionalidades, como máscaras, clipping paths ou transparências e que, mesmo que não tenham essas características, percam referências de dimensão e cheguem fora de formato ao Scribus. Via EPS ou PDF damos a volta a esta questão, mas é estranho. Como é estranho que o Scribus importe ficheiros .PSD, formato proprietário do Photoshop, mas não .XCF, formato nativo do GIMP. Ou que seja preciso recorrer ao Scribus para ter uma imagem em quadricromia feita no GIMP. Ou…

O facto destas questões (algumas delas, pelo menos) não serem abordadas como assuntos sérios nas comunidades de utilizadores e dada a diversidade e exigências de uso a que elas têm sido submetidas, levam-me a depreender que, apesar de “funcionarem” em muitos ambientes, não “correm” em todos. Diz-me um colega de profissão que no seu MacBook, nota uma considerável diferença de performance nestas aplicações entre as versões em Mac OS X e versões a correr em Linux (Ubuntu):

É que não há comparação. Eu agora instalei o Ubuntu no meu MacBook Pro e, comparando com o OSX, as apps gráficas livres correm que é um doce. Compensa o incómodo de ter um dual-boot.

Além de que estás sempre com as versões mais actuais — as ports para OSX demoram sempre um pouco a sair. E têm sempre bugs específicos, que é o que te deve estar a afligir (e que eu também testemunhei).

Diz quem sabe.

Eu vou fazer o teste possível, mas fico a pensar até que ponto este é um problema real da comunidade open source:

  • Será que a difusão da ideia de que as ferramentas livres e abertas funcionam em todos os ambientes e o voluntarismo com que alguns programadores “martelam” o código necessário para que tudo funcione em todo o lado não criam experiências negativas (ou menos positivas) em quem está a ponderar a mudança?
  • Não seria útil gerir melhor as expectativas dos utilizadores (especialmente dos utilizadores mais exigentes, que estejam num percurso de migração, vindo de ambientes proprietários / comerciais), clarificando os requisitos técnicos de cada aplicação e dando exemplos de setups testados para performance e estabilidade?
  • Será assim tão perigoso para a difusão do software livre a declaração de exigências mínimas para aplicações específicas e a constatação de que existem diferenças entre “funcionar” e ser útil e produtivo num ambiente real?
  • Que impacto teria no ecossistema fragmentado dos sabores Linux a declaração, por parte dos principais programadores de cada aplicação, das combinações de hardware e sistema operativo ideais e/ou realmente testados?
  • Como se poderia implementar um sistema de testes das diversas distribuições de cada aplicação em cada ambiente que fosse verdadeiramente fiável? A sensação que se tem é que, em muitos casos, as distribuições Mac OS X foram testadas com uma instalação e um par de cliques por parte de quem 1) não usaria a aplicação profissionalmente e/ou 2) não tem grande experiência de utilização de computadores Macintosh.

Vamos lá a alguns testes, então…

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[divulgação] Oficina “Design para uma Redacção Livre”, no JUP

O Hacklaviva organiza no JUP uma oficina dedicada às ferramentas informáticas (FLOSS) necessárias para construir uma “redacção livre”, projecto em curso no JUP. É no próximo sábado, dia 23 de Janeiro, numa tarde cheia de actividades à volta do info-activismo (e que coincide com inaugurações nas galerias da Rua Miguel Bombarda), cujo programa completo pode ser consultado aqui.

Mas, do programa, destaco, por me interessar particularmente, esta Oficina de Design para uma Redacção Livre.

23 jan 2010 | 14h30 – 17h30
Oficina de Design para uma Redacção Livre

Uma redacção a funcionar apenas com software livre? É o objectivo de uma colaboração entre o JUP e o Hacklaviva. Nesta oficina, vamos falar sobre o que é o software livre e as suas implicações na prática criativa, associativa e editorial. Depois veremos como hoje é possível tratar fotografia, criar gráficos e tipografia, paginar, editar áudio e montar vídeo com ferramentas livres. Traz o teu portátil e vem passar uma tarde connosco a descobrir novas formas de fazer o teu trabalho.

A informação chegou-me por via do Ricardo Lafuente, que é uma das pessoas que vai orientar esta oficina. As ferramentas-base da oficina serão:

  • Imagem: GIMP, Scribus e Inkscape (3 que fazem parte do meu workflow actual)
  • Áudio: Audacity (ferramenta muito útil)
  • Vídeo: Kaltura, OpenShot e (talvez) PiTiVi (esta é a área que é toda nova para mim e tenho que verificar se se conseguem instalar algumas destas ferramentas num Mac)

Segundo o Ricardo, “a ideia é mais um overview do que tutoriais; podemos tocar em partes específicas de acordo com as vontades colectivas, mas seria mais uma cena de esclarecimento, já que boa parte do pessoal que vai aparecer não tem noção do que existe no mundo do FLOSS…

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De pequenino se torce o pepino

Uma das mais eficazes (e desprezíveis) formas de fomentar o uso de aplicações e linguagens proprietárias e viciar o mercado e o contexto de produção informática é apostar no mercado da educação, com campanhas que, efectivamente, perpetuam e reforçam o ciclo vicioso da aparente falta de alternativas. Várias empresas de software usam estas estratégias: empresas como a Microsoft ou a Autodesk (os exemplos que conheço mais de perto) incentivam a utilização das suas ferramentas no contexto académico, apostam fortemente no circuito da formação financiada e tentam manter relações privilegiadas com o sector, promovendo acções de marketing mais ou menos disfarçadas de formação dirigidas a alunos, professores e demais responsáveis pela selecção de ferramentas a utilizar nas salas de aulas.

Já diz o povo, e com razão, que “de pequenino é que se torce o pepino“, e os efeitos destas acções são evidentes: o percurso formativo em variadíssimas áreas que necessitam de apoios tecnológicos são fortemente marcados por uma única aplicação ou suite. E a emergência de “pseudo” standards, a que algumas pessoas chamam os “standards de mercado”, mesmo que o seu crescimento resulte da manipulação do próprio mercado, é um exemplo claro de como esta é uma estratégia ganhadora para as empresas beneficiárias e altamente prejudicial para a sociedade.

Não me interessam lutas quixotescas contra a Microsoft, que é o exemplo mais completo desta forma de actuar, porque me incomoda (quase) tanto a sua hegemonia na área do “escritório e produtividade”, como me incomoda a hegemonia da Autodesk na arquitectura, engenharia e construção, ou da Adobe nas artes gráficas e multimédia ou mesmo da Apple em certas áreas do áudio e vídeo e como plataforma de hardware nas artes gráficas, ainda que quase não se sinta em Portugal.

As hegemonias, todas, incomodam-me porque resultam num encurtar de perspectivas para os utilizadores e, por esse facto, numa limitação da sua liberdade. É um processo no qual cada indivíduo participa, é certo. E, por isso mesmo, o caminho percorrido durante os períodos iniciais de formação, pelo menos esse, deveria ser marcado pela promoção e exploração de alternativas e deveria ser feita a distinção clara entre os tais “standards de mercado”, circunstanciais, e os standards de facto, dando especial atenção a questões como a interoperabilidade das soluções adoptadas. Esquecer a interoperabilidade é, acima de tudo, viciar as “regras do jogo” e prender os utilizadores numa espécie de “jaula invisível”.

Vem esta reflexão a propósito dum concurso que a Microsoft está a promover, em conjunto com a DGIDC (Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação),  dirigido a estudantes do 2º e 3º ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário, que premiará sites sobre Segurança na Internet, mas onde se privilegiará a utilização de ferramentas da Microsoft, numa jogada claramente denunciada pelo Rui Seabra.

O concurso promove não só a utilização de software proprietário, como contribui para a relativização da importância dos web standards e isso deveria ser razão mais do que suficiente para que os responsáveis públicos da DGIDC/eCRIE se manterem ao largo. Até porque os termos do concurso contrariam a estratégia positiva de promoção de soluções baseadas em Software Livre , como o Moodle e o Joomla, que, além de serem open source e gratuitas, estão envolvidos na promoção de standards reais e não levantam problemas de interoperabilidade.

Discutir e denunciar as condições de promoção deste concurso são tarefas que nos cabem a todos e espero que a Associação Ensino Livre possa vir a participar também nesta denúncia.

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Not so bright

Um Director de Marketing decide ver como vai a imagem da sua empresa online e faz uma simples pesquisa no Google:

Resultados da pesquisa no Google por Bright Partners

Os resultados são interessantes pela quantidade e o lugar do site da própria empresa no ranking de relevância (1º e 2º lugares) atestam da eficácia dos mecanismos de indexação utilizados.

Nota também que um feito recente da empresa gera alguns resultados destacados, mas depara-se com uma entrada num blog desconhecido logo em 5º lugar, bem à vista de todos, num tom que não é propriamente elogioso.

O que fazer?

Eduardo Empis, o Director de Marketing da Bright Partners passou por isso hoje mesmo e, numa atitude que se poderia considerar corajosa e, por isso, louvável, decidiu, em nome próprio, comentar o artigo em causa.

Eu, que não sou especialista de Marketing (longe disso), não sou capaz de prever os efeitos que isso possa ter na imagem e na visibilidade geral online desta organização, mas estou tão curioso que não resisto a chamar este comentário à ribalta do blog e responder, aqui mesmo.

Eduardo Empis gostaria de “perceber as razões que [me] levam a pôr em causa a competência e/ou a seriedade da BRIGHT PARTNERS.” Eu não me lembro de ter questionado qualquer uma dessas virtudes. Mas percebo o que Eduardo Empis quer dizer. E esclareço: o que está em causa não é o comportamento da Bright Partners. Presumo que serão tão competentes e sérios quanto pode ser uma empresa de consultoria na área da gestão de projectos, com forte componente tecnológica e sólidos laços à Microsoft. Parabéns por isso.

E são tão sérios que não escondem que uma das suas principais áreas de intervenção é a Administração Pública, com responsabilidades no planeamento e execução de vários programas famosos: “SIMPLEX, PRACE, Plano Tecnológico, Procedimentos Públicos, Restrições Contratuais, Mobilidade…”.

Ora, não é segredo nenhum para quem me conhece, que eu não sou adepto da Microsoft, mas, acima de tudo, não sou adepto da adopção de soluções proprietárias em termos de Software. Isso é um problema meu, obviamente, mas na qualidade de cidadão preocupado isso traduz-se no apoio político a opções por Software Livre nos vários sectores da Administração Pública.

Se juntarmos isto tudo, não é difícil perceber que a minha “irritação” relativa à Bright Partners se deve ao facto de ver nela um instrumento da Microsoft na adopção pouco transparente por parte do Estado de soluções que, a mim, me parecem desadequadas. É legítimo, sério e/ou competente da parte da Bright Partners? Não tenho razões para duvidar disso. Mas o contexto global que gere a adopção destas soluções não é transparente e, na minha opinião, não favorece a “coisa pública”. E é ao Estado que se destina toda a minha verdadeira irritação.

Empresas oportunistas não me aquecem nem arrefecem. Mas a gestão danosa de dinheiros públicos com que essas empresas lucram tira-me do sério.

O episódio dos Óscares da Microsoft, na minha opinião, é apenas prova de que a actividade da Bright Partners beneficia a multinacional de Redmond. A adopção de soluções proprietárias, baseadas em tecnologias e ferramentas MS na Administração Pública é, na minha opinião, uma forma de prejudicar o Estado. Mesmo quando é ele que pede.

Preciso de ser mais claro?

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Até onde pode ir o Software Livre no Estado Português?

É uma óptima pergunta, não é?

O site Software Livre na AP procura ser parte da resposta:

Este local é um repositório de conhecimento em software livre (Open Source Software – OSS) das entidades do Estado Português e destina-se a ser um ponto de encontro e troca de experiências entre todos aqueles que, ao serviço do Estado, o utilizam. Deste contributo resulta uma mais-valia incalculável para quem pretende vir a utilizá-lo.

Associação Ensino LivreMas a navegação pelos incipientes exemplos de boas práticas dá-nos uma visão deprimente, ainda que realista, do panorama. Uma das áreas fulcrais (porque tem grandes impactos a prazo) é a Educação, e é por isso que a recém-criada Associação Ensino Livre pode vir a ter uma grande importância na definição duma dinâmica diferente.

É que a resposta à pergunta que serve de título a este artigo está na educação. É nas escolas, em todos os graus de ensino, que se podem inverter práticas perversas, criar novos hábitos, difundir novas posturas éticas.

Pessoalmente (e localmente), não posso deixar de lamentar o afastamento que a Universidade de Aveiro, que tanto se orgulha do seu papel pioneiro em tantas áreas, mantém, relativamente ao Software Livre. E não posso deixar de me interrogar, por causa do peso que a UA tem na dinâmica “local”, como seriam as coisas na autarquia, por exemplo, se o “contexto” fosse mais favorável à adopção destas soluções.

Mas quais serão os factores que determinam o grau de penetração do Software Livre nas diferentes áreas da Administração Pública portuguesa (nas autarquias, por exemplo)?

  • Opções políticas?
  • Dimensão e complexidade dos sistemas implementados?
  • Grau e antiguidade da informatização dos serviços?
  • Dependências económicas?
  • Competência do apoio técnico disponível?
  • Proximidade de prestadores de serviços/soluções diversificados?

A resposta será sempre multifacetada e há algumas partes da resposta mais defensáveis (e confessáveis) do que outras, como é óbvio. Mas era importante que se reflectisse publicamente sobre isto, porque esta é uma questão pública, por mais que se tente disfarçar.

Para esta reflexão, todas as contribuições são bem vindas.

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Desambiguação: Software Livre / Open Source

Presumo que para muitas pessoas que tentaram acompanhar os comentários a este artigo recente sobre Open Source terão ficado baralhadas pela utilização dos termos Software Livre e Open Source. Eu próprio sou parte dessa confusão porque tenho ainda alguma dificuldade em compreender os contextos em que uma e outra designação se aplicam.

Para ajudar à definição de Software Livre / Free Software e a sua relação com o Movimento Open Source, este artigo do Georg C. F. Greve, traduzido pelo Rui Miguel Seabra no site da ANSOL pode ser útil.

Mas para se perceber que a confusão não é só minha e como forma de perguntar ao “vasto auditório” se estão de acordo com esta visão da FSF e da ANSOL de que

O movimento “Open Source” tem por objectivo ser um programa de marketing do Software Livre. Esse objectivo deliberadamente ignora todos os aspectos filosóficos ou políticos; estes aspectos são considerados prejudiciais à comercialização.

Por outro lado, o movimento Software Livre considera o ambiente filosófico/ético e político como uma parte essencial do movimento e um dos seus pilares fundamentais.

pergunto se as possibilidade de extrapolação do conceito e do termo Open Source, para outras áreas disciplinares, não terão algum interesse.

Não podemos falar da aplicação dos princípios defendidos pelo movimento Open Source em várias áreas vitais? Não será possível agrupar vários esforços “libertários” no que à informação e tecnologia diz respeito debaixo destes princípios, depois duma qualquer generalização? Isso fere os princípios do Software Livre? Ou expande-os?

Estou, muito sinceramente, a pensar alto e a tentar esclarecer-me com a vossa ajuda (possivelmente), sobre as implicações de se confundir processos e procedimentos de desenvolvimento e distribuição de código informático, com princípios éticos e filosóficos. Os últimos são a base dos primeiros e são generalizáveis. Mas esses, como os vou encontrando por aí, ora me iludem, ora simplemsente me confundem e baralham.

A desambiguação da responsabilidade da ANSOL vale como esclarecimento para a futura utilização dos termos neste blog, no contexto do software.

Mas, sinceramente, não estou completamente esclarecido.

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Open Source: ideia ou doutrina?

É-me difícil deixar de pensar na questão do Open Source, principalmente depois de episódios como este, em termos globais ou conceptuais, tentando perceber as diferentes abordagens possíveis ao fenómeno e tentando compreender ou descobrir a minha real relação com o fenómeno. De certa forma, dou por mim  a pensar que os puritanos de que falava, se calhar, têm razão e, na verdade, eu não apoio o Software Livre.

De facto, pensando nisso com algum cuidado e profundidade, do ponto de vista filosófico, quase, não me seria possível apoiar o Software Livre da mesma forma que um programador o faz, porque o significado desse apoio é fundamentalmente diferente. Basicamente, tudo se resume a uma ideia de liberdade e aos processos e ferramentas necessárias ao exercício dessa liberdade. Para um programador, de facto, o acesso ao código é condição de liberdade, mas, por muita retórica que se use, esse acesso não se traduz num exercício de liberdade para os restante utilizadores do código. Para os utilizadores, poderá ser útil e conceptualmente positivo, como eu acho que é, estar dependente duma comunidade activa e eticamente saudável de programadores, em vez de estar nas mãos duma corporação centrada no lucro, mas o acesso ao código não é condição de liberdade desses utilizadores. Esse “exercício de liberdade” é restrito e, no fundo, estabelece uma outra forma de tecnocracia.

É por isso que a mim me parece que defender e apoiar um ideia de Open Source, consiste em compreender quais as fontes de conteúdo que permitem o exercício real de liberdade a todos. E isso, nem sempre resulta da adopção ou na adopção de soluções de Software Livre. A liberdade no acesso e manipulação de conteúdos como música, imagem, vídeo ou texto é um problema igualmente importante quando se fala de liberdade. Mas é um problema que diz respeito a questões de direitos de autor, propriedade intelectual, formatos de distribuição, etc… Filosoficamente falando, as ligações entre o Software Livre e a luta contra os DRM são evidentes não são? Mas haveria música em formatos digitais (com ou sem DRM) se os músicos e os estúdios estivessem dependentes de Software Livre? Não.

Por isso, e para esclarecer eventuais dúvidas, assumo: não sou apoiante do Software Livre como tal, de forma absoluta, já que a liberdade contida no código aberto é, para mim, uma abstracção de liberdade que, na esmagadora maioria dos casos, não posso exercer. Sou favorável à dependência de comunidades de programadores empenhados, em vez de corporações gananciosas, mas não presumo que essas comunidades, por mais bem-intencionadas que sejam percebam todas as minhas necessidades. Não sinto por isso, na adopção de ferramentas com código proprietário, uma  limitação da minha liberdade. A minha liberdade passa por outras lutas, muito mais centradas na forma de distribuição de conteúdos e nos modelos de propriedade intelectual, com protecção dos autores, mas liberdade para a utilização e derivação.

Sinto muito.

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Puritanos

Tenho seguido com um misto de incredulidade, espanto e nojo uma conversa colectiva via mail, que começou com uma simples questão que envolvia o uso de Linux em portáteis e descambou numa discussão interminável à volta de tudo e mais alguma coisa que se relacione (ou não) com a utilização e o apoio ao Software Livre. A incredulidade, o espanto e o nojo não têm nada a ver com o tema da conversa, que me é caro, mas com o estranho rumo a que este tipo de conversas parece condenado. Mas, desta vez, alguns argumentos e opiniões são rocambolescos na forma e ofensivos no conteúdo.

Nada de novo, para quem tem experiência nestas lides, mas, ainda assim é preocupante ficar com a sensação de que não é possível ter conversas racionais sobre estes assuntos em determinados círculos. Desta vez, chegou-se ao cúmulo de pretender determinar se apoiar o Software Livre implicaria ou não usá-lo exclusivamente e/ou recusar a utilização de software proprietário. Para mim, que me considerava apoiante— não-incondicional, mas, ainda assim, apoiante— do Software Livre, pela simpatia filosófica e pela experiência positiva que tenho com várias ferramentas e processos fortemente melhorados pela implementação dessas soluções, uma postura de “tudo ou nada” parece-me completamente ridícula. E, mais do que isso, diz muito acerca da (falta de) mundividência e da ignorante arrogância de quem produz afirmações deste tipo. Basicamente, medir a realidade por um padrão que guardamos no umbigo, não será muito mais do que uma forma idiota de Puritanismo, completamente contrária à promoção duma ideia justa, como a do Software Livre.

Claro que esta é apenas a minha opinião, que acredito que, se do lado de quem desenvolve software, opções exclusivistas por Software Livre poderão ser possíveis (acredito no que me dizem) e, se no meu trabalho modesto de programação para a web e implementação de soluções de apoio em sistemas de informação, normalmente consigo implementar soluções desse tipo, não posso ignorar que há áreas importantes da minha própria actividade e de outros utilizadores (não programadores) em que não há soluções fiáveis, equiparáveis a software proprietário ou sequer produtivas. Não reconhecer essa realidade é “enfiar” a cabeça na areia e confundir utilizadores com programadores no contexto destas conversas é prestar um péssimo serviço ao movimento do Software Livre, na minha humilde opinião.

Claro que como eu uso software proprietário para criar e editar áudio, vídeo e animações e como eu reconheço que na área gráfica, por exemplo, não é fácil usar só Software Livre porque uma parte do “aparelho produtivo” não está preparada para isso e como eu reconheço ainda que a implementação de novas soluções deve ser adaptada também ao nível de familiaridade dos utilizadores… e, ofensa das ofensas, as minhas opções sucessivas e as áreas de especialização fizeram-me escolher um Sistema Operativo “maléfico”… tudo isso junto deve fazer com que a minha opinião seja completamente irrelevante para alguns “puritanos”.

Azar…

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Campanha para formação da Associação Escolas Livres

Em http://escolaslivres.org/?q=node/32 (via Mind Booster Boori / PrintScreen):

Colaboração, Trabalho de Equipa

O projecto Escolas Livres pretende dar um passo em frente e formar uma associação sem fins lucrativos dedicada à promoção do software livre nas Escolas portuguesas. Ao formar uma Associação poderemos finalmente levar a cabo iniciativas que de outra forma seriam muito difíceis de concretizar sem uma estrutura jurídica, nomeadamente, receber apoios, organizar acções de formação, fazer candidaturas.

Para a formação da Associação pretendemos reunir um fundo inicial que servirá sobretudo para o processo de legalização. Consideramos que o projecto tem uma importância vital para a promoção do software livre em Portugal e que o passo que pretendemos dar é um passo lógico e necessário, por essa razão acreditamos que podemos contar com o apoio da comunidade de software livre portuguesa. Além do apoio monetário será igualmente necessário o envolvimento activo da comunidade na Associação para que esta funcione em pleno, nomeadamente no que diz respeito à participação nas actividades e nos órgãos sociais.

Para isso, temos como objectivo inicial reunir 75 associados fundadores até Janeiro de 2008, que contribuirão com uma quota anual de 10 euros. O primeiro pagamento só será realizado em Janeiro e apenas se a meta for atingida. Se o referido objectivo não for alcançado a criação da Associação será adiada.

A quota anual de associado garante, obviamente, o direito de participar nas decisões da associação, eleger e ser eleito para os órgãos sociais, e ter um papel activo na promoção do software livre nas Escolas.

O fundo angariado nesta campanha será inicialmente gerido através da Associação Cultural Audiência Zero, até à constituição da Associação Escolas Livres, a partir da qual o fundo será transferido para a nova associação. A Audiência Zero ficará igualmente responsável pelo processo de legalização.

Página para inscrição como associado fundador: http://www.escolaslivres.org/?q=node/29

Sim, eu já me inscrevi. E vocês, do que é que estão à espera?

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Software Livre em Dossier

Software LivreSe eu tivesse tempo, gostava de pôr aqui um artigo em jeito de balanço de algumas das questões relativas ao Software Livre de que já falei aqui no blog: a luta contra o falso standard OOXML da Microsoft, a iniciativa legislativa do PCP para a adopção de software livre na Assembleia da República (que o PS fez o favor de abastardar e aconselho este artigo da Paula Simões para que percebam melhor como), o I Forum de Software Livre em Lisboa… todas estas coisas que mereceram referências passageiras aqui foram tendo desenvolvimentos que, apesar de seguir com atenção, não coincidiram com buracos na agenda em que pudesse escrever aqui mais qualquer coisa.

Recebi hoje a notícia de que o Portal Esquerda passa a ter um dossier dedicado às questões do Software Livre. É óbvio que não será uma fonte de informação técnica tão útil ou actualizada como outras (exemplo), mas terá a vantagem de cruzar as questões técnicas com as questões éticas, políticas e de cidadania. Não é preciso estar de acordo em tudo, nem sequer partilhar valores ideológicos para encontrar informação útil e visões esclarecidas.

Aconselho vivamente.