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ESSL.BURGER live!
ESSL.BURGER live!, por Essl.Burger

CLASSIFICAÇÃO: 3.5/5

“ESSL.BURGER live!” é uma edição da netlabel portuguesa XS-Records que regista 2 sessões de improvisação da dupla austro-germânica Essl.Burger, ocorridas em 2007. Esta colaboração entre Karlheinz Essl e Klaus Burger começou em 2004 e a combinação entre os sopros de Burger e a electrónica de Essl realiza-se em contexto de improvisação livre com um nível de fluidez e diversidade discursiva invulgar para um duo desta natureza. As 2 sessões, apesar de pouco separadas no tempo, dão-nos a conhecer uma grande diversidade de universos sonoros, nem sempre coesos, mas geralmente interessantes e, apesar da menor qualidade da gravação realizada no Museu Essl (faixas 3 e 4), o disco na sua totalidade propõe-nos uma experiência bastante completa.
Mas convém apresentar estes protagonistas: Klaus Burger é um notável e reconhecido tubista alemão, músico de vanguarda que Mauricio Kagel disse ser “uma honra para a classe dos tubistas; explora(ndo) incasavelmente o futura da tuba e (…) soprando por todas as suas possibilidades” e que, além da tuba, toca didgeridoo, conchas e cimbasso– um instrumento semelhante ao trombone contrabaixo– expandindo o seu vocabulário sempre em volta de instrumentos de sopro, com grandes extensões e fundamentais sub-graves; Karlheinz Essl é um compositor experimentalista austríaco e figura proeminente ma cena europeia na improvisação com recurso à electrónica em tempo real, devido a ferramentas computacionais que desenvolveu especificamente para processamento em tempo real em contexto de improvisação e interacção. O trabalho de Essl nesta área, centrado à volta do ambiente m@zeº2, apresenta preocupações não só com o desenvolvimento de interfaces que permitam uma reacção e manipulação rápida das realidades sonoras, mas também uma capacidade de interagir com outros músicos em tempo real e improvisar de facto com as ferramentas computacionais. Dois músicos de vanguarda, fortemente implicados com a improvisação e o experimentalismo que demonstram nestas gravações um conjunto vasto de possibilidades quer nos universos sonoros criados, quer nas formas de interacção e reacção escolhidas.
Klaus Burger demonstra um domínio notável dos instrumentos e uma capacidade aparentemente inesgotável de explorar todos os seus parâmetros musicais, transformando o seu discurso numa extensão natural do seu organismo e a música que produz num “ensaio” sobre a relação entre o som e o sopro, ou mesmo a respiração. Karlheinz Essl age e reage de forma fluída, produzindo som e trabalhando sobre o som produzido por Burger (em tempo real e previamente) e a capacidade expressiva, mas mais do que isso, interactiva ou de “interplay” das suas ferramentas, asseguram que este duo apresenta, de facto, uma improvisação em tempo real e são um inidcador das potencialidades muitas vezes ignoradas das ferramentas computacionais como instrumentos de improvisação.
O disco inicia-se, de resto, com uma faixa exemplar pela coesão, pela pertinência musical e sonora das intervenções, pela sua riqueza e complementaridade, pelo diálogo que se estabelece entre os dois músicos e até por um certo sentido estrutural, prometendo, estes primeiros 17 minutos, um disco genial. Infelizmente, a altíssima qualidade destes primeiros 17 minutos– absolutamente a não perder– não se mantém por todo o disco, havendo mesmo alguns momentos francamente fracos, ainda durante a sessão no artact, na faixa 2, quando Essl quebra uma certa lógica instrumental centrada na ideia de sopro, mantida até aí, procurando introduzir novos instrumentos e padrões rítmicos duma forma que soa, no contexto, algo desastrada. A 2ª parte do disco, o concerto no Museu Essl, retoma algumas das boas práticas dos 17 minutos iniciais, sem que se sintam repetições excessivas de materiais, e mantém o interesse, apesar da menor qualidade técnica da gravação, adivinhando-se, especialmente na parte final do disco, o elevado nível performativo e musical que se ouve claramente no início do disco.
Em geral, trata-se de um disco exigente, mas não asséptico nem aborrecido, e a qualidade dos seus melhores momentos não poderá deixar indiferente nenhum apreciador de música, especialmente se se interessar por instrumentos de sopro e por práticas de improvisação.
E está disponível online, para quem o quiser ouvir!

ESSL.BURGER live!, por Essl.Burger

Editora: XS-Records
Data de edição: Junho de 2009

Data das gravações:
1º set: 4 de Março de 2007 | artacts ’07, Festival de Jazz e Música Improvisada em St. Anton (Tirol, Áustria)
2º set: 3 de Junho de 2007 | Museu Essl, em Klosterneuburg, Viena (Áustria)

  • Klaus Burger tuba, cimbasso, didgeridoo, conchas
  • Karlheinz Essl m@ze°2 (laptop & live-electronics)
Texto escrito por João Martins. Depois de revisto e editado por Rui Eduardo Paes, foi publicado no nº 27 da revista jazz.pt. A publicação do texto neste blog tem como principal objectivo promover a revista: compre ou assine a jazz.pt.
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Hoje e amanhã, nas FNAC do Porto, Gaia e Matosinhos

O showcase é do Tiago Morgado, da XS-Records, com quem colaborei no seu Uncle Bart Comes to Have Breakfast. Eu e o Henrique Fernandes (contrabaixo) somos convidados para estas apresentações experimentais.

  • 03/09/2008, quarta-feira, 18h00 – FNAC S.ta Catarina, Porto
  • 03/09/2008, quarta-feira, 22h00 – FNAC GaiaShopping, Gaia
  • 04/09/2008, quinta-feira, 22h00 – FNAC NorteShopping, Matosinhos

Como podem ter reparado, fui extremamente atencioso na forma de divulgação, dando a todos a desculpa perfeita para não irem: “só soube muito em cima da hora”.