Ando a fazer um alfabeto, por encomenda.
Um alfabeto construído pelo olhar e filtrado por uma máquina fotográfica. Um alfabeto revelado nas formas quotidianas…
Olhar assim para a realidade faz arder os olhos.
Tudo se perde e tudo se ganha: na atenção de olhar de novo para tudo, cumpre-se o sonho lírico de viver de olhos esbugalhados; no esforço de ler na realidade os 26 caracteres dum alfabeto que a realidade desconhece, distorce-se o universo todo para que tenha a forma que procuramos.
Vivo de olhos esbugalhados, à procura de um reflexo particular da realidade… os meus olhos tomam a forma de cada letra e, afinal, todas as fotografias são uma íris deformada.
Cansada do esforço de esquadrinhar a realidade à procura de si própria.
Como num jogo de crianças, em que os cubos afinal também entram nos buracos triangulares… se nos esforçarmos o suficiente.
Ver é cansativo.