O concerto no Passos Manuel foi, de certa forma, uma afirmação de maturidade do Space e dos músicos que fazem parte deste colectivo diversificado e orgânico. Permanentemente em crescimento e transformação, definitivamente comprometido com a experimentação e com a improvisação enquanto ferramentas de inovação e partilha.
As primeiras impressões do público e uma audição parcial do registo áudio permitem afirmar com alguma segurança que o evento foi um sucesso, e isso levanta uma questão fundamental: quem é que pode fazer essa afirmação?
Podemos não estar todos de acordo acerca da necessidade dessa afirmação, já que o evento se justifica a si mesmo e, pela sua natureza irrepetível, se esgota em si mesmo, mas não se pode ignorar o facto de que determinadas experiências estéticas requerem alguma forma de validação exterior e que, num contexto como o português, em que os hábitos culturais se montam numa teia rarefeita e desequilibrada, pontuada pelas expressões mediáticas que cada evento consegue produzir, só esse processo de validação pode trazer à tona da indiferença fenómenos culturais marginais.
Como é que isso se faz é coisa que nunca percebi, mas compreendo que um elemento fulcral que falta a este “mo(vi)mento” é a existência duma reflexão ou análise escrita, promotora e/ou destruidora, que se poderia consubstanciar na forma de crítica dos concertos e/ou dos registos, ou em simples reflexões acerca das práticas, referências, relações, enquadramentos, etc. Uma experiência estética que se assume como experimentalista e marginal, tem tudo a lucrar com a existência dum património de pensamento que lhe dê visibilidade (positiva e/ou negativa) e que, desse forma, a apresente aos públicos.
Não para limitar a leitura ou pré-formatar a experiência, apenas para lhe conferir estatuto de “acontecimento” no contexto desta sociedade altamente info-dependente.
E dado que somos um colectivo de músicos, como diz o Zorn, “perhaps the artists themselves are not always the best people to do so, since they have chosen a largely non-verbal medium in which to work”.
Por isso, “críticos precisam-se!”.