CASA DA MÚSICA
Domingo | 30 Outubro 2005
workshop (10h00) e concerto (22h00), Sala 1
Projecto Cobra | John Zorn
John Zorn, instrumentista, compositor e autor de uma discografia invejável, é uma das figuras incontornáveis da música moderna. Tocou com grandes nomes da actualidade musical, sendo conhecido no meio artístico internacional pela sua irreverência, fertilidade criativa e, principalmente, pelo modo como estrutura a improvisação na sua obra musical. A sua idiossincrasia musical levou-o a criar a sua própria sala de espectáculos dedicada à apresentação de música experimental e de avant-garde. Jonh Zorn é o autor do Projecto Cobra, uma das peças de improvisação dirigida mais célebres dos chamados Game Pieces.
É este Projecto Cobra que Jonh Zorn pretende desenvolver ao longo do seu workshop na Casa da Música. No âmbito deste workshop, músicos oriundos de diversas linguagens musicais (música popular, rock, jazz ou música erudita), têm a possibilidade de integrar um amplo ensemble musical e experimentar os desafios da improvisação coordenada. As improvisações trabalhadas de forma estruturante serão apresentadas num concerto final dirigido por John Zorn. Este género de trabalho musical procura o desenvolvimento de uma sonoridade construída de forma colectiva em detrimento dos percursos sonoros individuais e a assimilação das potencialidades e paisagens sonoras geradas pelo acaso no acto da improvisação. O resultado que se pretende obter é, antes de mais, uma odisseia musical deliciosa, onde fragmentos musicais, que colidem e se desintegram, criam novos ambientes musicais.
Integrado no ciclo Novas Músicas, John Zorn vem à Casa da Música apresentar “Cobra”, a «game piece» mais conhecida do seu reportório e a que mais vezes foi objecto de revisão. Um registo duplo – com uma versão de estúdio e outra ao vivo – onde se recordam as actuações colectivas com músicos como Arto Lindsay, Zeena Parkins, Elliott Sharp, Wayne Horvitz e Christian Marclay realizadas em 1985 e 86.
Tendo por base o improviso de John Cage e a intuição de Stockhausen, o saxofonista e compositor nova-iorquino desenvolveu os seus próprios conceitos que descreve, nos seus álbuns, como “um jogo com regras fixas e muito específicas, mas pensadas para proporcionar situações musicais democráticas, em que os participantes encontram lugar para concretizarem as suas perspectivas pessoais”. Apesar de recorrer ao conceito de democracia, a difícil personalidade do ex-líder dos Naked City, incoerência e autoritarismo valeram-lhe algumas inimizades no meio.
E porque o proeminente é o improviso, não se espere que John Zorn oriente os ouvintes e lhes diga quais são as regras para o acompanhar. Trata-se de uma música muito confusa. Ouvir uma «game piece» de Zorn é como escutar um caos controlado. Tal como a obra de Fela Kuti, Sun Ra, Neil Young ou Frank Zappa, John Zorn é um artista cuja extensão e importância da obra só é compatível à de cada um dos discos, e não são poucos. Através da sua editora, Tzadik, o saxofonista conseguiu editar com toda a liberdade que a sua obra sempre lhe exigiu. No final dos anos 90, Zorn estava a publicar seis álbuns por ano.
Inspirado por outros artistas e estilos de música, o norte-americano interessou-se por cartoons, compondo para filmes de animação, bandas-sonoras e espectáculos de televisão. Descrevê-lo como um músico de jazz é limitar a sua abrangência e complexidade. A rebeldia, imprevisibilidade, distância e sentido de humor de John Zorn fazem do músico norte-americano uma referência no mundo da música avant-garde.
“Cobra” – que estará no centro das atenções nesta visita do músico ao Porto – é um documento essencial para todos aqueles que se interessem pela cena nova-iorquina e pelo improviso em geral.
“My musical world is like a little prism. You look through it and it goes off in a million different directions. Since every genre is the same, all musicians should be equally respected. It doesn’t matter if it’s jazz, blues, or classical. They’re all the same”
John Zorn