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Declaração de voto

Peço desculpa a todos aqueles que estão neste momento a utilizar o seu dia de reflexão, mas não posso deixar de dizer que, se votasse em Lisboa, votava no José Carlos Fernandes. E não porque sou simpatizante do Bloco de Esquerda, mas porque o “Zé” cumpriu corajosamente com os seus compromissos, é frontal e sério, tentou com todas as suas energias fazer desta campanha um momento útil para a cidade, apesar de todos os ataques baixos a que foi sujeito, fala do que sabe e conhece a fundo as coisas que são verdadeiramente importantes.

Cartaz Zé Sá Fernandes

Mas estas eleições têm candidatos para todos os gostos:

  • há o António Costa, para os que sofrem de partidarite crónica (variante PS) e para os que acham que pode haver vantagem numa coligação de interesses entre a Câmara Municipal da capital e o governo do país, acreditando que a cidade pode ter alguma vantagem, nisso, ou seja, sendo suficientemente ingénuo para acreditar no que diz um alto dirigente deste Partido Socialista;
  • há o Fernando Negrão, para os que sofrem de partidarite crónica (variante PSD) e não se importam de ter um presidente que não distingue as empresas municipais e os Institutos do Estado e para os que acham que o voto autárquico nestas condições tem leitura na análise da dinâmica do centrão, ou para os que esqueceram que o Carmona Rodrigues era o candidato do Marques Mendes até cair em desgraça;
  • há o Telmo Correia, para os que sofrem de partidarite crónica (variante CDS-PP) e para os que acham que a segurança é mesmo um assunto quente especialmente na altura das eleições e que com video-vigilância se vai lá e para os que acham que o CDS do Portas (o que ficava) merece tanta ou mais confiança do que o do Ribeiro e Castro, que ainda conseguiu a eleição da Maria José Nogueira Pinto— cobiçada por todos para a reabilitação da Baixa-Chiado não fossem os chatos da esquerda a lembrar os problemas do modelo de financiamento e de gestão de tráfego e estacionamento e os da direita não a poderem reclamar para si…;
  • há o Ruben de Carvalho, para os que sofrem de partidarite crónica (variante PCP / CDU) e para os que ainda sentem conforto com a reputação de trabalho e confiança dos autarcas da CDU e ainda não se aperceberam bem que quem inventou as empresas municipais foi a própria CDU, não exactamente para serem o forróbódó que têm sido, mas para serem um espaço de empregabilidade mais flexível para clientelas partidárias e boas alavancas para o poder dos autarcas minoritários da CDU o que faz deles reféns, volta e meia (remember Rui Sá?);
  • há o Carmona Rodrigues, para quem anda de tal forma desfasado da realidade que não percebeu sequer porque é que vai haver eleições e só sabe é que foi bem simpático receber a visita do senhor presidente lá no Bairro que ainda por cima trouxe o Toi à festa da Associação… o Carmona também é uma boa escolha para os adeptos de teorias de conspiração esquisitas e que tenham um ódio de estimação aos partidos e ao “sistema” e que acreditem piamente que ele foi “tramado pelo sistema partidário”, em particular pelo chato do Zé Sá Fernandes do Berloque que fez tudo e mais alguma coisa para fazer a vida negra ao Executivo com pedidos de transparência e fiscalização (vê-se logo que esse “Zé” não percebe nada da alma dos negócios);
  • há o Manuel Monteiro, para os liberais mais hardcore que acham que é boa ideia acabar com as empresas municipais apenas para conceder a privados a prestação dos serviços essenciais ou confiar no mercado para conduzir a reabilitação urbana;
  • há o Garcia Pereira, para quem ainda compreenda o discurso do PCTP-MRPP e para quem ache razoável que os problemas financeiros da cidade e os investimentos infra-estruturais necessários sejam assegurados pelo Estado, sob a justificação abrangente de que os investimentos necessários para criar uma cidade capital digna em conforto, qualidade de vida, progresso, cultura e dinamismo económico deve ser um esforço nacional;
  • há o Pedro Quartin Graça para quem perceba essa coisa da ecologia humanista e para quem queira investir o seu voto numa visão parcial e especializada da vida política, da qual emanam propostas ingénuas como a transferência de fundos das portagens da Brisa ou o pagamento de indemnizações à cidade pelos atrasos nas obras do Metro e outras, por causa dos estaleiros;
  • há o Gonçalo da Câmara Pereira, para os monárquicos boémios e para outro tipo de anarcas que ache razoável a apresentação de candidaturas de indignação e protest protagonizadas por pessoas que, acerca da reabilitação urbana dizem que “Lisboa é tão bonita como está… não lhe façam nada”;
  • há o José Pinto-Coelho para os fascistas pouco inteligentes e exigentes e para quem acha que é mesmo boa ideia extinguir a PSP e a GNR para, em vez desses dois corpos, constituir um único corpo policial militarizado… e para quem seja capaz de ouvir com gosto a repetição doentia do soundbyte contra o “sistema”, os partidos, os homens do sistema e dos partidos e os tachos, sem que nenhum passo seja dado fora deste círculo confortável, demagógico e populista, com medo de perder a atenção do eleitor que é, certamente, considerado burro que nem uma porta;
  • há a Helena Roseta, para quem acredite na força e na importância dos movimentos de cidadãos, para quem goste de ver mulheres decididas, fortes e inteligentes na política, para quem aprecie a competência técnica e a frontalidade política de assumir a necessidade de fazer compromissos para governar com maiorias reais, construídas de acordo com a vontade dos eleitores (eu podia perfeitamente votar nela se não sentisse mais confiança no projecto global do José Sá Fernandes e espero que ela tenha um óptimo resultado);
  • e há o Zé, que faz mesmo falta.

Acima de tudo, o voto de todos os Lisboetas é importante para percebermos melhor que raio de jogo é este que se vai jogar nos próximos tempos no executivo camarário da maior cidade do país. O futuro de Lisboa dirá muito acerca do futuro do país, nomeadamente no que diz respeito ao tipo de coligações de interesses que surgirem e no papel que a candidatura de Carmona Rodrigues venha a ter na dança de cadeiras.

Muito se vai ficar a saber acerca da seriedade real de cada um dos intervenientes dessa dança.

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