Da próxima vez que alguém aparecer com o discurso dos “sacanas preguiçosos dos subsídio-dependentes das Artes”, façam-me o favor de ir falar com o Tiago Monteiro e com o Laurentino Dias. É que, se é normal que o Estado contribua com 2 milhões de euros para manter uma presença portuguesa na Fórmula 1, quanto é que seria normal que estivesse disposto a gastar para manter um tecido cultural activo?
Haja pachorra!
O pior é que, mesmo dentro da sua área, o próprio Secretário de Estado parece nem se dar conta da enormidade que é comparar a manutenção desta “presença portuguesa” na Fórmula 1, por 2 milhões de euros/ano, e com improváveis benefícios para o país, com as centenas de milhares de euros gastas para garantir um Europeu de Judo, realizado em Portugal, e, por isso, com impactos directos na economia (turismo, hotelaria, restauração…). O episódio é deprimente e vergonhoso no sector específico do Desporto e é (mais) um insulto a todas as áreas que necessitam de apoios e a quem se vai dizendo que têm que ser capazes de apelar ao mercado e aos privados…
E, se pensarmos bem, quando Laurentino Dias, afirma que os 2 milhões que o Estado paga correspondem apenas a “quase a um nome no retrovisor de um automóvel”, e se olharmos para Tiago Monteiro e o seu carro, percebemos que o que isso significa é que o Estado paga o que falta para que algumas marcas nacionais tenham visibilidade no circuito mundial de Fórmula 1. Isso não é uma forma de favorecimento?
E se nós arranjarmos um patrocínio duma adega cooperativa para os concertos da Fanfarra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa, mas não chegar, o Estado paga o resto?