As Universidades sabem?
Esta é claramente a primeira pergunta que me ocorre face a esta notícia.
O regime proposto é comum em vários sistemas de ensino superior que, curiosamente, têm muito poucas parecenças com o nosso. Não me interessam, apesar de me fazerem sorrir, os comentários e piadas que sugerem que a vasta maioria dos actuais estudantes do ensino superior já o são apenas a tempo parcial, porque se dá nessa análise demasiada importância a quem se dedica quase a tempo inteiro à bebedeira travestida de “vida académica” e quase nunca se pensa nos exemplos de quem poderia de facto beneficiar (para si e para a sociedade) de um sistema mais flexível. Eu não sou o melhor exemplo disso mesmo (estive vários anos inscrito na FAUP sem concluir licenciatura nenhuma e estou inscrito na UA, apesar de não ter conseguido frequentar nenhuma disciplina nos últimos dois anos), mas sou um exemplo, ainda assim. Um exemplo que conheço. E a minha experiência diz-me que as Universidades enquanto instituições e os seus docentes, particularmente, não estão muito preparados ou disponíveis para estes graus de autonomia e flexibilidade na construção dos currículos e percursos escolares por parte dos alunos. O que vou conhecendo das “transições para Bolonha” e do desenvolvimento de projectos transdisciplinares reforça essa convicção de que as Universidades funcionam como capelas de “autistas”, fechados ao(s) exterior(es) e aos seus parceiros naturais. É óbvio que há exemplos que contradizem esta ideia e, optimisticamente, gostaria de pensar que essas não são as excepções que contrariam a regra. Mas não sei.
O que sei, das Universidades que conheço, é que um regime em que alunos “avulsos”, de outras instituições ou de nenhuma, possam frequentar e concluir disciplinas a gosto, por muito que seja uma ideia que me agrade, é um regime que obriga a pequenas “revoluções”. Se elas se fizerem, óptimo. Mas suspeito que, na maioria dos casos, se proceda apenas a um conjunto de alterações cosméticas para parecermos todos muito “modernos”.