Anteontem:
Ontem:
Face à possível escassez alimentar resultante da subida de preços, o Governo da Malásia anunciou ontem que vai adiar projectos públicos não essenciais e usar as respectivas verbas para criar reservas de alimentos.
“Não podemos esperar que [a escassez de alimentos] aconteça. Nessa altura será o caos”, justificou o primeiro-ministro malaio, Abdullah Ahmad Badawi.
(…)
Sem especificar ainda o montante da ajuda [planeada pelo Banco Asiático de Desenvolvimento], que “dependerá dos pedidos dos países em causa”, Kuroda [presidente do BAD] exemplificou que o preço do arroz triplicou nos últimos quatro meses, algo que, em sua opinião, “não se pode explicar pela leia da oferta e da procura”.
Já sabemos que as próximas crises não vão estar ligadas ao preço dos combustíveis, mas ao preço dos bens alimentares essenciais. E sabemos que está tudo ligado e que a política económica que eliminou a esmagadora maioria da nossa capacidade de produção alimentar (agropecuária, pescas, …) é uma ameaça real à nossa soberania.
E, nunca é demais frisá-lo: O MERCADO NÃO FUNCIONA!
7 comentários a “Está tudo ligado”
Uma vez mais, uma afirmação do género “O MERCADO NÃO FUNCIONA” é extremamente generalista e inapropriada.
O mercado está em funcionamento, mas não na direcção desejada: o crescente uso do petróleo levou ao proporcional crescimento dos biocombustíveis para colmatar a subida do preço do petróleo. Por sua vez, quando a procura aumenta, os preços aumentam também. Foi o que aconteceu aos alimentos, visto que estes são usados para os biocombustíveis.
A investida que deverá ser feita é garantir uma menor dependência nos combustíveis fósseis e priveligiar o uso de híbridos e outros meios de transporte não poluentes (por exemplo, oferecer bicicletas, reduzir preços dos transportes públicos rodoviários e ferroviários, etc..). Assim, diminuirá a procura de biocombustíveis e os preços baixarão. Se as únicas medidas a tomar forem a produção por excesso poderá acontecer uma situação de deflacção quando o mercado se auto-regular, situação bem pior que a vivida actualmente.
Mário:
Parece-me que o sentido da frase “O mercado não funciona” era precisamente esse: sem intervenção, o mercado leva à destruição da economia. Na verdade, penso que o mercado funciona — abundância faz os preços baixarem, escassez faz com que subam — o problema são os efeitos laterais, como a fome, a guerra e a destruição das economias menos produtivas (mas essenciais, mesmo assim).
Já agora, exceptuando as bicicletas, todos os outros meios de transporte que referiste dependem de combustíveis fósseis.
Não necessariamente: muitos dos comboios são eléctricos logo não precisam (directamente) de combustíveis fosseis e, caso a fonte de electricidade seja nuclear ou solar, não são sequer dependentes deles.
António,
Deixa-me corrigir: o mercado funciona efectivamente, mas em algumas situações necessita de intervenção. O funcionamento do mercado é aliás um dos pilares fundamentais da Economia pós-Revolução Industrial.
Se se constatar a subida dos preços como um problema endémico e se decidir seguir a sugestão de Francisco Louçã, o que acontecerá é que existirão muitos mais produtores e oferta, embora a procura continue precisamente a mesma. Com o crescimento do número de produtores e assim que o mercado estabilizar (se equilibre a produção de biocombustíveis ou baixe o preço do petróleo por aumento da produção) vai ocorrer uma deflacção, pelo que todos esses produtores irão entrar em falência pois não conseguirão vender os seus produtos a um valor rentável.
Por outro lado, a consequência do preço do petróleo é precisamente o mercado ser controlado pela OPEC, que regula os preços e a extracção de petróleo. Se fosse um mercado livre em que cada país decide quanto produzir existiria uma competição entre produtos e os preços baixariam em flecha — mas isso não interessa aos produtores, daí o cartel.
Por fim, não interessa se os transportes públicos usam combustíveis fósseis ou não. A questão é que um autocarro transporta 60 pessoas e um carro transporta no máximo 5, e em média (em Portugal) 1.
Mário: no teu primeiro comentário dizes tudo. “O mercado está em funcionamento, mas não na direcção desejada”. Se juntarmos a isso a ajuda do António, “sem intervenção, o mercado leva à destruição da economia” e “o problema são os efeitos laterais, como a fome, a guerra e a destruição das economias menos produtivas (mas essenciais, mesmo assim)” chegamos à minha síntese, que repito: O MERCADO NÃO FUNCIONA.
Se quiseres, elaboro um pouco mais: o mercado não funciona porque não serve as pessoas, serve-se a si próprio e aos seus intervenientes mais poderosos. Deixar o mercado funcionar, independentemente da “direcção desejada”— ser liberal, portanto—, é assumir os “efeitos (co)laterais” de que fala o António. Eu não dou para esse peditório.
E acredito que a fé no mercado não tem futuro. Quero acreditar. Não me leves a mal.
Eu também não sou liberal, longe disso. Mas isso não significa que não olhe para o mercado como um princípio económico e observe que a sua sustentabilidade depende do seu correcto funcionamento.
Ou seja, o que eu quero dizer é que se existissem medidas milagrosas (como muitos partidos de esquerda tentam fazer passar) que permitissem dar a volta ao mercado, resolver todos os problemas, permitir equidade e igualdade.. bom, viviamos num mundo perfeito. Não sendo assim e sendo impossível de regular determinados mercados, o melhor é mesmo saber jogar com ele.
Qual seria a hipótese ao mercado? Por o país a produzir arroz, como na China? Incentivar privados a começarem a produzir arroz em Portugal e quando existir excedente essas pessoas vão à falência?
É que de suspiros e lamentações estamos todos. Ninguém quer pagar muito pelo gasóleo nem pelo arroz que come. Agora, há depois dois caminhos, o idealista e o realista. Eu prefiro seguir o realista.
O PREÇO ESTA AUTICIMO