Apesar do porte muito pouco atlético que ostento, fui atleta federado nos chamados escalões jovens, ou escalões de formação, durante muitos anos e em várias modalidades. Não só por não me distinguir em nenhuma, mas também porque a diversidade de práticas desportivas me era muito útil à saúde física e mental, pelo que uma parte significativa do que sou ou não hoje devo-o à prática desportiva formal, no Desporto Escolar, na Escola do Clube de Ténis de Aveiro, nas Escolas de Natação do São Bernardo e no Sport Clube Beira-Mar, onde pratiquei patinagem, ginástica, basquetebol e andebol. Fora dos clubes, em família, a prática desportiva informal também foi muito importante, por exemplo, para desenvolver o gosto pela corrida, pelo ciclismo e pela natação, as 3 vertentes do triatlo que é, neste momento, o meu projecto desportivo “pessoal”, mas os desportos de equipa, por um lado e a natureza das relações hierárquicas que a prática formal exige, por outro, ajudam-me a olhar para o fenómeno do desporto organizado em clubes e colectividades como algo de absolutamente necessário, ainda que, por estas alturas, extensivamente infectado de péssimos exemplos.
Vem isto tudo a propósito da notícia recente do encerramento do Complexo de Piscinas do SC Beira-Mar e da escandalosa venda do terreno onde elas se encontram a um promotor imobiliário: o clube vendeu o terreno por 2,5 milhões de euros no mesmo dia em que o comprou à Câmara Municipal de Aveiro, por 1,28 milhões de euros, de acordo com esta notícia.
A venda é escandalosa por 2 razões diferentes:
- a quase duplicação do valor indicia que o negócio da dupla transacção lesa claramente os interesses e os cofres públicos, ao favorecer os interesse e cofres do clube desportivo
- a inexistência de garantias, por parte do clube, do cumprimento do Protocolo celebrado com a Câmara, no contexto do qual a transacção se efectuou e que se destinaria a salvaguardar o interesse público e a manutenção de uso do terreno, aprofunda a sensação de que tudo se tratou duma manobra de encaixe de capital, com terrenos de grande valor urbanístico a serem entregues à especulação
Estas questões são levantadas, e bem, pela candidatura do PS à Câmara de Aveiro e, se o primeiro ponto não carece de argumentação (é factual), a verificação do segundo ponto requer apenas a leitura do comunicado do Beira-Mar:
Paralelamente, continuamos a trabalhar com a CMA, no âmbito da implementação do Protocolo no sentido de se concretizar a construção das novas Piscinas.
Ora, a parte da CMA no que concerne às Piscinas, pelo que se percebe do protocolo, está feita:
Transferir para o SCBM, ate ao dia 31 de Dezembro de 2008, a propriedade total do prédio onde se encontra implantado o Complexo Desportivo de Piscinas, sito na Rua das Pombas, em Aveiro, através da competente escritura pública de compra e venda, pelo preço da avaliação patrimonial de 1.283.200,00 € (um milhão duzentos e oitenta e três mil e duzentos euros) constante do inventário municipal e com a capacidade construtiva máxima de doze mil metros quadrados de implantação com 3 pisos acima do solo e cave, para nele ser edificado equipamento comercial-lúdico-desportivo, subordinado à temática da água, que deverá compreender obrigatoriamente a construção de duas piscinas.
É certo que, infelizmente e ao contrário do que acontece com os prazos estipulados para a construção do Centro de Treinos, no caso das Piscinas a Câmara não obriga o Clube a cumprir qualquer prazo, mas a condição da transacção é clara. E só essa condição poderia justificar uma operação de alienação de património público desta natureza.
Em boa verdade, o que aqui está em causa é uma enorme confusão sobre a propriedade das piscinas. Construiu-as o Beira-Mar, em terrenos da Câmara. Nelas nadaram atletas de vários clubes (de todos os clubes, de facto, enquanto as Piscinas do INDESP estavam em obras), nelas se organizaram provas, algumas bem importantes e que justificavam o facto de se ter uma piscina olímpica descoberta em Aveiro. Delas usufruiu toda a população, atletas ou não, desde os bébés nos primeiros contactos com a água, aos mais idosos praticantes de hidroginástica, passando por nadadores de todas as idades, classes, condições e interesses. É por isso que seria bom pensar que as piscinas, de facto, não são nem do Beira-Mar, nem dum Executivo Camarário: são das pessoas. E são as pessoas que estão neste momento a ser “roubadas”, sem qualquer tipo de escrúpulo e por gente que usa um pobre disfarce dum negócio inexplicável, mas que ficará sempre mal atacar porque um dos aparentes beneficiários é a instituição de utilidade pública SC Beira-Mar. Pois para mim, o estatuto de utilidade pública tem que ser merecido dia-a-dia, e o SC Beira-Mar há muito que o perdeu, como todos os pequenos clubes sem visão estratégica de sustentabilidade, que deveriam ter percebido que o seu único papel defensável é a promoção do desporto e da vida saudável junto das populações que servem e não o alimento do circo cruel e insaciável do “desporto profissional”, especialmente o dito “desporto-rei”, que sequestra as energias e as finanças dos clubes em negócios demasiado próximos do tráfico de humanos e nada compatíveis com a referida “utilidade pública”.
QUERO AS MINHAS PISCINAS DE VOLTA!
Um comentário a “De quem são as piscinas?”
quero qe as piscinas voltem a ser o que eram reconstuan-nas