É recorrente que se assista, nas proximidades do 5 de Outubro a manifestações de movimentos monárquicos, hiper-minoritários na nossa sociedade, mas que têm, vá-se lá perceber porquê, enorme exposição mediática. Este 5 de Outubro não foi excepção e é provável que até ao centenário da República, que se celebra em 2010, este assunto vá ficando em cima da mesa, morno, alimentado pela curiosidade dos media e pela omissão daqueles a quem compete defender a República, nomeadamente o nosso Presidente eleito, Cavaco Silva— saber que podemos eleger um substituto é uma óptima razão para continuar a dizer “Viva a República”, por estes dias.
Uma das exigências recorrentes que os defensores da causa monárquica fazem é a de que a República se sujeite a referendo e, eventualmente retire da Constituição, perguntando-se ao portugueses se preferem a República à Monarquia. A lógica é perversa: vocês que são republicanos e democratas deviam consultar a vontade popular quanto à natureza do regime, dado ele ter sido imposto; seria uma enorme demonstração de espírito democrata dar essa oportunidade ao povo. Mas quantas vezes querem os monárquicos que a República se sujeite a referendo? É que, sem contabilizar os ridículos resultados dos movimentos monárquicos nas nossas eleições (o PPM não chegou aos 15000 votos nestas legislativas, 0,27% das intenções de voto) que, se pode aceitar que não constituam uma forma legítima de referendar o regime, não podemos olhar para a participação nas eleições presidenciais como uma forma de referendo do regime. Alguém que votasse “SIM” à restauração da Monarquia, participaria na eleição do Presidente da República? Acho difícil que se defenda tal ideia. Sendo assim, para poupar dinheiro e a paciência dos eleitores, proque não aceitamos que a participação na eleição do Presidente da República é um indicador da vontade de manter ou alterar o regime?
Olhemos para os dados, disponíveis no site da Comissão Nacional de Eleições:
- 2006 (eleição de Cavaco): 61,53% de participação (ganha a República)
- 2001 (re-eleição de Sampaio): 49,71% de participação (não ganha a República)
- 1996 (eleição de Sampaio): 66,29% de participação (ganha a República)
- 1991 (re-eleição de Soares): 62,16% de participação (ganha a República)
- 1986 2ª volta (eleição de Soares): 77,99% de participação (ganha a República)
- 1986 1ª volta (apuramento de Soares e Freitas): 75,38% de participação (ganha a República)
- 1980 (re-eleição de Ramalho Eanes): 84,39% de participação (ganha a República)
- 1976 (eleição de Ramalho Eanes): 75,47% de participação (ganha a República)
Desde 1976, por 7 vezes se deu oportunidade ao povo para escolher o seu Chefe de Estado, uma das diferenças fundamentais entre República e Monarquia. Nessas 7 vezes, o povo compareceu e pronunciou-se, escolhendo um chefe de estado e, apenas 1 vez, não foi a maioria dos eleitores que participou, por menos de 0,30%. É também evidente que é precisamente quando a escolha do chefe de estado tem maior significado político ou quando a eleição é mais renhida que há maior participação, demonstrando uma vontade clara do povo português em escolher, de facto, o seu chefe de estado pelo voto. Em 2001, quando mais de metade dos portugueses ficaram em casa, ninguém no seu perfeito juízo duvidava da re-eleição de Sampaio, o que se confirmou com os 55,55% dos votos na primeira volta. Mas quando há escolha, o povo pronuncia-se. Com o passar do tempo, a participação tem decrescido, é verdade, mas é desonesto acreditar que há uma vontade de restauração da Monarquia, quando, de forma sistemática, mais de metade dos eleitores (e sem limpeza de cadernos eleitorais) sai de casa para escolher o seu chefe de estado.
Não é um referendo? É claro que não. Mas não servirá como forma de auscultação da vontade popular, no que à forma de regime diz respeito? Por mim, pode servir. E digo mais: se a abstenção nas Presidenciais crescer significativamente, concordo com um referendo à forma de regime, mas não tendo como única alternativa a Monarquia.
E os monárquicos, o que dizem a quem tem repetidamente participado com o seu voto na consolidação da República? Que razões objectivas encontram para justificar a necessidade do referendo?
Um comentário a “Referendar a República?”
Woah this web site is excellent i love examining your posts. Keep up the great get the job done! You comprehend, lots of people are seeking all around due to this information and facts, you can assistance these drastically.