Começou nesta semana, no dia 15 de Abril, um período especial para todos os pais e encarregados de educação de crianças que no próximo ano lectivo irão frequentar o 1º ano de escolaridade: a escolha da escola onde irão passar parte significativa dos seus próximos 4 anos de vida e onde irão adquirir e aprofundar um conjunto alargado e fundamental de competências— o ler, escrever e contar, mas também o brincar e jogar, o experimentar, o partilhar…— e, assim, crescer.
As expectativas que cada um de nós tem para si e para os seus filhos, o contexto onde estamos inseridos, a teia mais ou menos complexa de relações que constitui o processo de educação de uma criança… todos estes factores podem transformar este período num momento de maiores ou menores angústias. Já não vivemos em aldeias, mas sabemos muito bem que a educação de uma criança convoca tanto a participação racional como emocional de quem a rodeia e aos seus pais. E sabemos também que, no que às “escolhas” diz respeito, entre o cardápio e os singulares mecanismos de oferta e procura, nem sempre as primeiras escolhas podem ser satisfeitas, mesmo num período de “escassez” de crianças. Ou podem?
Com informação e alguma ponderação, podemos, em Aveiro, chegar à conclusão de que não há razão para parte das eventuais angústias.
Em Aveiro, dentro da cidade— das suas freguesias ditas urbanas—, há 4 estabelecimentos do 1º ciclo do ensino básico por onde escolher: Barrocas, Glória, Santiago e Vera Cruz (por ordem alfabética). E estes 4 estabelecimentos fazem todos parte do mesmo Agrupamento de Escolas que, desde o ano passado, tem sede na Escola Secundária Homem Christo e do qual fazem parte, também, o Jardim de Infância e a EB1 de S. Jacinto e a única escola do 2º e 3º ciclo do ensino básico destas freguesias: a Escola João Afonso.
Fazerem parte do mesmo agrupamento não significa que sejam iguais, obviamente, mas significa, logo à partida, que partilham um conjunto alargado de recursos técnicos e humanos e que são, quer ao nível técnico, pedagógico e científico, quer ao nível da gestão, enquadradas numa estrutura centralizada que garante uniformidade de processos e níveis de exigência comuns no seu funcionamento. E para aumentar essa relação estreita entre estas escolas, desde o ano passado, as escolas da Glória e Santiago partilham até o seu coordenador.
Os resultados escolares, aferidos por indicadores internos e externos comprovam precisamente esta uniformidade dos processos de ensino-aprendizagem, com médias muito próximas entre todas estas escolas nos exames finais do 1º ciclo, um indicador que terá a sua importância para alguns pais e encarregados de educação.
No extremo oposto desta “uniformização virtuosa”, que apresenta como equivalentes todas estas escolas, temos o estado das instalações de cada um dos estabelecimentos e o historial recente de intervenções a que foram submetidas ou que estão em curso. Essa é uma responsabilidade da autarquia, como sabemos. E, infelizmente, nem todos os processos têm sido geridos com o mesmo nível de sucesso.
Quanto à qualidade das instalações e intervenções recentes na Glória, Santiago e Barrocas podemos e devemos tentar aferir nos locais e com guias informados (pais, professores, funcionários) o que foi feito, como tem funcionado e que tipo de problemas pendentes existem.
(No que à Vera Cruz diz respeito, podemos e devemos consultar o projecto e pedir informações a quem de direito acerca dos prazos de conclusão das obras e dos procedimentos adoptados para minorar estes impactos.)
Neste capítulo, de facto, as escolas são bastante diferentes. A que conhecemos melhor, Santiago, depois de concluídas as obras, é um bom exemplo de um centro escolar com todas as valências fundamentais:
- o novo Jardim de Infância, onde se juntam agora as crianças do Jardim de Infância de Santiago, com as do Jardim de Infância de Aveiro, que funcionou no edifício do Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian até ao ano lectivo passado, tem tido um desempenho notável e reconhecido por todos;
- a Biblioteca adquiriu novo fôlego, por via da renovação das instalações e da nova professora bibliotecária, que organiza actividades para todas as crianças, incluindo as do pré-escolar, e para as famílias, numa demonstração clara de uma das vantagens do Agrupamento— o funcionamento em rede das bibliotecas escolares;
- o novo Refeitório acolhe e serve um maior número de crianças, divididas em grupos (pré-escolar e 1º ciclo), com a mesma qualidade dos restantes equipamentos, assegurada por via da concessão a privados, determinada pela autarquia;
- as salas de aulas recuperadas, assim como as novas salas de aulas estão equipadas e prontas a acolher até 10 turmas do 1º ciclo do ensino básico, com computadores, video-projectores e, em geral, as condições de conforto necessárias a uma escola actual;
- os espaços adicionais, para experiências e reuniões, permitem diversidade de actividades e boas condições de trabalho para os professores;
- o recreio foi expandido de forma significativa, e está equipado com 2 campos de jogos protegidos, um deles partilhado com a comunidade, fora dos tempos lectivos;
- mantêm-se áreas cobertas de recreio e o ginásio/polivalente permite o desenvolvimento de várias actividades, alimentando-se a esperança de que possa ainda vir a ser melhorado.
Evidentemente, não estamos perante uma escola ou um centro escolar perfeito e aqui, como noutros locais, devemos ser exigentes e identificar as áreas onde é necessária intervenção adicional, mas o que não podemos negar é a evidência de que, neste momento, o centro escolar de Santiago é o melhor centro escolar da cidade, do ponto de vista das instalações. E essa visão é partilhada não só pelos responsáveis do Agrupamento e da Autarquia, mas também por representantes dos pais e encarregados de educação das diversas escolas.
Mas, Santiago não é a melhor escola, de facto. Porquê?
Com estas instalações e integrada numa mesma estrutura que as restantes escolas, este facto é de difícil explicação. O problema não são as instalações, como se torna evidente numa visita aos vários complexos. Nem os resultados escolares, como uma consulta aos relatórios do Agrupamento e às estatísticas dos exames nacionais permite confirmar.
Santiago não tem a melhor escola, neste momento, simplesmente porque tem, ainda, salas vazias. Das 10 salas de aula disponíveis, apenas 6 albergam turmas, sendo 2 delas, uma solução provisória para a escola da Glória.
E estas salas vazias são motivo de vários tipos de inquietação e incómodo:
- como gerir eficientemente os recursos do Agrupamento de Escolas de Aveiro, face a esta situação onde algumas das melhores instalações estão vazias, estando outras sobrelotadas?
- não seria um caminho óbvio para aumentar a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem na escola de Santiago, maximizar a sua ocupação, considerando que mais turmas, significam, além de mais alunos, mais professores, mais funcionários, mais recursos, em geral?
- com vantagens económicas para o erário público associadas a vantagens pedagógicas tão evidentes, o que justifica esta situação?
Esta última pergunta, que já se justificava antes das obras de expansão e requalificação, e ganhou nova pertinência, tem, ao longo dos anos, encontrado sempre a mesma resposta: os pais, no momento de inscrever os seus filhos, não escolhem Santiago.
Mas essa resposta deve suscitar uma nova pergunta, imediata: porquê? Que razões objectivas podem justificar que, neste contexto que descrevemos, um pai ou encarregado de educação considere que Santiago não deve ser opção para o seu filho ou educando?
Não são as instalações, não são os processos de organização ou supervisão técnica e pedagógica. Não são sequer os resultados.
Dizem-nos que o problema será o contexto da escola, o ambiente que a rodeia. Ou melhor, a “percepção pública” desse contexto. Fala-se de um “estigma” associado a Santiago que, aparentemente, justificaria que pais e encarregados de educação não a considerassem uma alternativa válida às restantes escolas da cidade.
Quase invariavelmente, quem refere esse “estigma” apressa-se a distanciar-se do preconceito que atribui à “opinião pública”. Como é fácil de perceber, um preconceito tão frágil e pouco informado como este, não resiste a nenhum tipo de confronto com a realidade.
De facto, a Escola de Santiago tem uma localização privilegiada sob vários aspectos:
- paisagisticamente, fica encaixada no Parque de Santiago que se organiza de acordo com a grande mancha verde que atravessa a cidade e inclui o novo Parque da Sustentabilidade;
- urbanisticamente, articula-se com uma zona maioritariamente habitacional, com vantagens óbvias do ponto de vista de usos, quer para a Escola, quer para a envolvente;
- no que aos acessos diz respeito, está simultaneamente protegida de vias de trânsito automóvel rápido e a poucos metros de uma das principais entradas da cidade e das artérias relacionadas, tendo também capacidade para absorver o trânsito específico da escola, com paragens e estacionamentos breves, sem distúrbios de maior para a cidade;
- a localização permite organizar saídas a pé, com toda a segurança e conforto para zonas e equipamentos como o Parque da Sustentabilidade, o Conservatório de Música, a Fábrica da Ciência, o Estaleiro Teatral, o Campus da Universidade, o Mercado de Santiago, etc, em experiências muito ricas para as crianças;
- a prevalência da função habitacional na proximidade, assegura laços com a comunidade que enriquecem a escola e contribuem positivamente para a sua segurança.
E a lista de vantagens prossegue.

Mas esta comunidade territorialmente mais próxima não assegura um saldo demográfico que ocupe todas as salas da escola e, como acontece em toda a cidade, numa das conquistas mais relevantes da escola pública e democrática, a comunidade escolar é enriquecida com crianças das mais diversas proveniências, criando um ambiente diversificado, propício a todas as aprendizagens.
Por isso, todos nós que conhecemos a escola de Santiago e para quem ela é a escolha óbvia, temos dificuldades em lidar com as suas salas vazias. E sabemos bem o prejuízo que estas salas vazias representam para todos os envolvidos mas, especialmente, para os alunos da escola de Santiago.
Porque sabemos que mais crianças, mais turmas e, assim, mais professores e mais funcionários, farão da Escola de Santiago o que ela pode ser: a melhor escola da cidade. Com benefícios para todos.
E porque sabemos também que o único obstáculo a esse crescimento é a informação e educação de quem terá que fazer, agora, a escolha de uma escola para os seus filhos e educandos.
Por isso propomos que, antes de fazerem a escolha da escola, frequentem a escola da escolha: informem-se, visitem as escolas, falem com os responsáveis do Agrupamento e da Autarquia, com professores, funcionários, alunos, pais e encarregados de educação.
Não deixem que lugares comuns, por muito que sejam repetidos e, por vezes, por gente que devia pensar duas vezes antes de os repetir, condicionem indevidamente uma escolha tão importante para os próximos 4 anos da vida das nossa crianças.
Escolham livremente, mas sempre em consciência.
Aveiro, 17 de Abril de 2014
João Martins
membro da direcção da Associação de Pais da EB1 e Jardim de Infância de Santiago
membro do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Aveiro