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Ainda sobre o filtro de Vuvuzelas

Notícias recentes fazem saber que algumas televisões vão transmitir jogos do Mundial sem Vuvuzelas. O Meo prepara-se para oferecer essa opção e a BBC também a estuda. Obviamente não o farão com uma solução parecida com a que andámos a estudar (houve quem perguntasse).

Um fitro de Vuvuzelas, para os emissores de TV, é uma coisa relativamente elementar. Um filtro simples como o que desenvolvemos, aplicado exclusivamente ao som do estádio chegaria para atenuar a irritação, mas podem e devem usar filtros mais avançados, com análise em tempo real de padrões de ruído, como o Vuvux da Prosoniq, específico para Vuvuzelas (gratuito, mas exclusivo para Mac OS) ou o SoundSoapPro da Bias, por exemplo, que é usado para “limpar” registos sonoros ruidosos— desde vinis antigos e riscados a gravações ao ar livre com ruídos de fundo irritantes (motores, ares condicionados, vuvuzelas…). Estes softwares específicos para “limpeza” e/ou “restauro” incluem algoritmos que visam a protecção da voz e, apesar de não fazerem milagres, no caso das Vuvuzelas, a sua aplicação é relativamente elementar e os benefícios evidentes. Considerando que quem transmite tem a possibilidade de separar o som do estádio do som dos comentários e aplicar os filtros de forma doseada, só não se compreende porque é que tardaram tanto a tomar medidas, mas deram-me indicações que o relato da TSF já era relativamente livre de Vuvuzelas, por exemplo. Não tive oportunidade de confirmar.

Entretanto, para quem não tem acesso a emissões pré-filtradas, o filtro que desenvolvemos está disponível para ser usado e melhorado.

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Contrate um cínico

Ao longo do tempo tenho desempenhado funções de cínico semi-profissional em vários projectos em que estou envolvido ou como consultor de projectos de outros. É um trabalho difícil, mas alguém tem que o fazer.

Infelizmente, graças a muitos discursos bacocos de incentivo empreendedorismo e a uma parte substancial das “literaturas motivacionais” e outras pessegadas do género, o papel dos cínicos no desenvolvimento dos projectos tem sido denegrido e/ou sub-valorizado. O cínico é descrito como um obstáculo, é muitas vezes confundido com um pessimista ou reaccionário e, nos piores casos, procura-se passar a ideia de que “convencer um cínico” pode ser um teste à capacidade do projecto. Não creio que seja nenhuma dessas a função do cínico e não é assim que me vejo.

O cínico necessário em todos os projectos é alguém que, de forma lúcida e com argumentos relevantes, destaca as fragilidades do projecto, aponta as incongruências, alerta para os vícios de raciocínio, para as falhas de planeamento e até para o perigo dos “saltos de fé”. É o tipo que pergunta que competências é que estão disponíveis para fazer isto ou aquilo, quando o projecto assume uma abordagem multidisciplinar ou transversal, mas ainda se encontra nas mãos dum técnico específico. É quem diz “isto é um disparate!” e depois tenta explicar porque é que acha isso. É quem duvida das primeiras opiniões e dos entusiasmos iniciais. É quem não deixa esquecer nem a Lei de Murphy, nem o Princípio de Peter.

É um tipo chato e o objectivo da sua introdução numa equipa ou da sua consulta periódica não deve ser tentar convencê-lo (o cínico mesmo bom nunca será convencido), mas sim testar a resistência de quem dirige o projecto e dos vários colaboradores às objecções.

O trabalho do bom cínico tem 2 resultados possíveis:

  1. “matar” um projecto frágil que não tem condições de sucesso antes dele começar a consumir muitos recursos
  2. fortalecer um bom projecto, quer pela alteração e melhoria de alguns dos aspectos que identifica, quer pelo aumento da resistência e convicção dos diversos envolvidos

Por isso, se está a desenvolver um projecto e reparar que à sua volta toda a gente parece entusiasmada, procure e consulte um cínico. Em Portugal somos muitos e o segredo da nossa eficácia está na forma como lidam connosco. 😉

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Moissac

Moissac, vista externa

Há imagens que tenho vontade de pintar, mais do que fotografar.
Alguma edição digital acalma um bocado desse desejo.

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Panorâmicas

Não sei porquê, mas sempre tive um “fraquinho” por imagens “panorâmicas”. Parece que sou sempre mais atraído por imagens de realidades que não se conseguem captar com um único olhar. Realidades que exigem um movimento associado ao olhar, seja horizontal, na paisagem, seja vertical, em alguma arquitectura. Como esta vista panorâmica do Rempart de La Charité-sur-Loire:

La Charité-sur-Loire, Panorama do Rempart

Esta imagem corresponde à montagem destas 6 fotografias:

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E a ferramenta usada para fazer a operação de “stitching” é open-source, gratuita e multi-plataforma. Chama-se Hugin e, apesar de não ser elementar na utilização, não é preciso ser-se um especialista para criar montagens decentes, com auto-detecção de pontos-chave, várias formas de correcção da perspectiva e projecção e boas capacidades de mistura (blending). A montagem que vêem, aqui, é uma projecção “trans-mercator”, usando auto-detecção dos pontos chave, com o plugin Autopano-SIFT-C (instalação opcional descarregado com o instalador de base em Mac OS, pelo menos) e “blending” normal.
Para utilizadores mais exigentes, o Hugin lê informação EXIF sobre as lentes e o posicionamento e permite introdução manual de dados relativos a cada imagem (posição, rotação, lente, etc.), afinação manual de pontos-chave, criação de imagens HDR, assim como exportação em diversos formatos de imagem e até pode ser usado para apoiar exercícios de levantamento e modelação em arquitectura (ver aqui).

Confesso que no caso desta imagem, depois de criada a montagem panorâmica, passei pelo GIMP para ligeiros ajustes de cor, porque os originais estavam um bocado desmaiados. Clicando nas imagens (panorâmica e fotos originais), podem ver em maiores dimensões, no Flickr. Que tal vos parece a performance do Hugin? Que conselhos ou sugestões me dariam para melhorar este tipo de imagens? Precisam de alguma ajuda para se iniciarem neste processo de criar panorâmicas? A caixa de comentários está aberta para isso mesmo. 😉

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Mudar de vida

É frequente pensar na necessidade de mudar de vida. Nas pequenas rotinas e nas direcções globais. Mas é raro sentir que estou de facto a mudar de vida e hoje senti isso em coisas verdadeiramente elementares e simbólicas. Tive duas boas conversa sobre uma (aparentemente) “nova” forma de promover a criação e o contacto entre criadores, assente na transposição de alguns princípios do movimento Open Source para os processos de criação e debate crítico e participei na instalação de dois sistemas operativos Linux (um Debian e um Xubuntu) em dois iMac G3 (PowerPC) que fazem parte dum parque de máquinas obsoletas que poderão vir, desta forma, a integrar um laboratório de formação e criação. Ao fim do dia, assinei o The Public Domain Manifesto e o dia pareceu alinhar-se perfeitamente.

Mais notícias em breve.

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[divulgação] Oficina “Design para uma Redacção Livre”, no JUP

O Hacklaviva organiza no JUP uma oficina dedicada às ferramentas informáticas (FLOSS) necessárias para construir uma “redacção livre”, projecto em curso no JUP. É no próximo sábado, dia 23 de Janeiro, numa tarde cheia de actividades à volta do info-activismo (e que coincide com inaugurações nas galerias da Rua Miguel Bombarda), cujo programa completo pode ser consultado aqui.

Mas, do programa, destaco, por me interessar particularmente, esta Oficina de Design para uma Redacção Livre.

23 jan 2010 | 14h30 – 17h30
Oficina de Design para uma Redacção Livre

Uma redacção a funcionar apenas com software livre? É o objectivo de uma colaboração entre o JUP e o Hacklaviva. Nesta oficina, vamos falar sobre o que é o software livre e as suas implicações na prática criativa, associativa e editorial. Depois veremos como hoje é possível tratar fotografia, criar gráficos e tipografia, paginar, editar áudio e montar vídeo com ferramentas livres. Traz o teu portátil e vem passar uma tarde connosco a descobrir novas formas de fazer o teu trabalho.

A informação chegou-me por via do Ricardo Lafuente, que é uma das pessoas que vai orientar esta oficina. As ferramentas-base da oficina serão:

  • Imagem: GIMP, Scribus e Inkscape (3 que fazem parte do meu workflow actual)
  • Áudio: Audacity (ferramenta muito útil)
  • Vídeo: Kaltura, OpenShot e (talvez) PiTiVi (esta é a área que é toda nova para mim e tenho que verificar se se conseguem instalar algumas destas ferramentas num Mac)

Segundo o Ricardo, “a ideia é mais um overview do que tutoriais; podemos tocar em partes específicas de acordo com as vontades colectivas, mas seria mais uma cena de esclarecimento, já que boa parte do pessoal que vai aparecer não tem noção do que existe no mundo do FLOSS…

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Handmade Music @ Casa da Música

Ao repto para a internacionalização das festas Handmade Music, a Digitópia responde com uma série de festas regulares que juntam um “mostra&conta” a uma “jam session” com instrumentos únicos. De hardware a software feito em casa até “circuit bending”, kits personalizados ou instrumentos acústicos originais, todos estão convidados a aparecer na Casa da Música pelas 21h30 para montagem de instrumentos. Estarão disponíveis algumas mesas e tomadas, contudo os canais de amplificação serão muito limitados, pelo que será melhor vir prevenido. Pelas 22h abrimos o evento ao público geral– a entrada é livre e recomenda-se-, ocupando a Digitópia e a zona do bar do Foyer Sul. O primeiro evento é já no dia 21 de Julho, uma data especial já que coincide com o final da SMC Summer School e o início do SMC 2009. Contamos convosco!

via http://www.ruipenha.pt

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Imagino que não seja complicado

“Eu não percebo nada disso, mas imagino que não seja complicado. É?”

Com cada vez mais frequência sou confrontado com este paradoxo: com a “democratização” das tecnologias e com a disseminação da ideia (absurda) de que dos computadores se tira o trabalho já feito, são cada vez mais as pessoas que, sem terem a menor ideia das competências necessárias, tarefas envolvidas ou tempo dispendido em alguns dos trabalhos que desenvolvo, requerem, em cima do prazo final de entrega dos trabalhos, actualizações, rectificações, modificações, revisões e outras tarefas que têm o seu tempo próprio no processo. E é comum dizerem mesmo coisas deste tipo: “não faço a mínima ideia como é que isso se faz, mas não deve ser assim tão complicado substituir isto, ou acrescentar aquilo ou…”

Mas não é bem assim, senhores. Se não fazem a menor ideia como se faz, é possível, e até provável, que aquilo que vos parece perfeitamente banal, mas que vos foi dito que teria um tempo próprio, seja de facto bastante complicado fora desse tempo.

Ah! É importante que se esclareça que neste “estabelecimento” o cliente não tem sempre razão. Aliás, é raro isso acontecer.

Desculpem o desabafo, mas são 5 da manhã e estou a acabar um desses projectos fora de tempo. Porquê? Porque, apesar de tudo, o trabalho é mesmo “a porca chantagem da sobrevivência”.

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De pequenino se torce o pepino

Uma das mais eficazes (e desprezíveis) formas de fomentar o uso de aplicações e linguagens proprietárias e viciar o mercado e o contexto de produção informática é apostar no mercado da educação, com campanhas que, efectivamente, perpetuam e reforçam o ciclo vicioso da aparente falta de alternativas. Várias empresas de software usam estas estratégias: empresas como a Microsoft ou a Autodesk (os exemplos que conheço mais de perto) incentivam a utilização das suas ferramentas no contexto académico, apostam fortemente no circuito da formação financiada e tentam manter relações privilegiadas com o sector, promovendo acções de marketing mais ou menos disfarçadas de formação dirigidas a alunos, professores e demais responsáveis pela selecção de ferramentas a utilizar nas salas de aulas.

Já diz o povo, e com razão, que “de pequenino é que se torce o pepino“, e os efeitos destas acções são evidentes: o percurso formativo em variadíssimas áreas que necessitam de apoios tecnológicos são fortemente marcados por uma única aplicação ou suite. E a emergência de “pseudo” standards, a que algumas pessoas chamam os “standards de mercado”, mesmo que o seu crescimento resulte da manipulação do próprio mercado, é um exemplo claro de como esta é uma estratégia ganhadora para as empresas beneficiárias e altamente prejudicial para a sociedade.

Não me interessam lutas quixotescas contra a Microsoft, que é o exemplo mais completo desta forma de actuar, porque me incomoda (quase) tanto a sua hegemonia na área do “escritório e produtividade”, como me incomoda a hegemonia da Autodesk na arquitectura, engenharia e construção, ou da Adobe nas artes gráficas e multimédia ou mesmo da Apple em certas áreas do áudio e vídeo e como plataforma de hardware nas artes gráficas, ainda que quase não se sinta em Portugal.

As hegemonias, todas, incomodam-me porque resultam num encurtar de perspectivas para os utilizadores e, por esse facto, numa limitação da sua liberdade. É um processo no qual cada indivíduo participa, é certo. E, por isso mesmo, o caminho percorrido durante os períodos iniciais de formação, pelo menos esse, deveria ser marcado pela promoção e exploração de alternativas e deveria ser feita a distinção clara entre os tais “standards de mercado”, circunstanciais, e os standards de facto, dando especial atenção a questões como a interoperabilidade das soluções adoptadas. Esquecer a interoperabilidade é, acima de tudo, viciar as “regras do jogo” e prender os utilizadores numa espécie de “jaula invisível”.

Vem esta reflexão a propósito dum concurso que a Microsoft está a promover, em conjunto com a DGIDC (Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação),  dirigido a estudantes do 2º e 3º ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário, que premiará sites sobre Segurança na Internet, mas onde se privilegiará a utilização de ferramentas da Microsoft, numa jogada claramente denunciada pelo Rui Seabra.

O concurso promove não só a utilização de software proprietário, como contribui para a relativização da importância dos web standards e isso deveria ser razão mais do que suficiente para que os responsáveis públicos da DGIDC/eCRIE se manterem ao largo. Até porque os termos do concurso contrariam a estratégia positiva de promoção de soluções baseadas em Software Livre , como o Moodle e o Joomla, que, além de serem open source e gratuitas, estão envolvidos na promoção de standards reais e não levantam problemas de interoperabilidade.

Discutir e denunciar as condições de promoção deste concurso são tarefas que nos cabem a todos e espero que a Associação Ensino Livre possa vir a participar também nesta denúncia.

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OOXML: Corrupção à escala global

O OOXML, da Microsoft, contra todos os argumentos técnicos, foi aprovado como standard ISO. A lista de irregularidades registadas no noooxml.org, apesar de ter um lugar especial para o nosso querido jardim à beira-mar plantado, mostra como a Microsoft generalizou comportamentos inaceitáveis de pressão, favorecimento e corrupção para fazer passar a proposta.

Com corrupção à escala global, só podemos sentir vergonha à escala global.

Quanto ao que ainda nos resta fazer, o Marcos Marado dá uma perspectiva útil.