Categorias
comunicação concertos cultura internet jazz música porto portugal web 2.0

Uma polémica que podia valer a pena

António Curvelo escreveu um artigo muito crítico sobre a forma como a imprensa (não) cobriu o Festival Porta Jazz, que aconteceu no princípio do mês, e apontou alguns dos seus ataques mais violentos à publicação com a qual colaborou em tempos, o Público.

Rodrigo Amado, actual coordenador no Público da escrita sobre jazz, responde em termos igualmente violentos, num artigo na mesma publicação online, acusando Curvelo de ignorância e irresponsabilidade.

Confrontos públicos desta natureza são raros em Portugal e vale a pena ler os dois artigos porque muitas das coisas, num e noutro, são dados importantes para se perceber o estado das coisas no que ao cenário do jazz e da crítica de jazz diz respeito, mas também, no que à construção de ideias sobre legitimidade e/ou ética editorial ou jornalística diz respeito.

Dado o tom violento de ambos os textos, é difícil concordar com qualquer um deles, até porque, em grande parte, se tratam, na minha opinião, de “tiros ao lado”.

Mas esta era uma polémica que podia valer a pena e que nos podia fazer pensar sobre como se pode exercer a crítica (musical, literária, artística, política ou económica), sem se assegurar um contexto informativo mínimo. Não sou a primeira pessoa a dizê-lo, mas é um problema que me ocorre sistematicamente quando escrevo sobre música (goste ou não da mesma), que se traduz no seguinte: a minha opinião subjectiva só é relevante se as pessoas souberem, primeiro, do que eu estou a falar. Ou seja, a crítica ou emissão de opinião, para ser relevante e eficaz, precisa de públicos informados. E em muitas áreas da nossa comunicação, o desequilíbrio é gritante: estamos cheios de opinião, mas não temos informação nenhuma e a que temos, por vezes não é fiável e (quase) sempre passou por um conjunto de filtros editoriais que a tornam, também ela, numa espécie de opinião. E, na área da música improvisada (noutras não sei), há uma tensão clara entre 2 formas de intervenção mediática: a que é assegurada por melómanos (jornalistas, escritores, etc.) e a que é assegurada por músicos. A transformação do músico ou artista em crítico, comissário, curador, editor é um processo que se pôs em marcha já há algum tempo e que colide, umas vezes com mais violência do que outras, com outras revoluções ou reformas na comunicação social, nomeadamente a maior fluidez entre produção e fruição de conteúdos e as lógicas de curadoria de conteúdos colaborativos.

Actualmente é muito difícil distinguir informação de opinião, mas é também muito difícil perceber ou avaliar a legitimidade de quem produz ou escolhe os conteúdos que vão tendo alguma visibilidade.

Uma discussão séria sobre esse fenómeno e o impacto que tem nas áreas especializadas, como a escrita sobre jazz e sobre quais as responsabilidades informativas e opinativas dos órgãos de comunicação social no nosso tempo, que envolvesse gente como o António Curvelo e o Rodrigo Amado, era uma discussão que muito me interessava. Nessa discussão, talvez se pudesse mesmo trazer para cima da mesa o exemplo da Associação Porta Jazz, que nasce também da percepção de que uma parte da música que se faz na cidade do Porto não tem o espaço mediático de que precisa e que merece.

Categorias
arte comunicação concertos cultura design música tv

Projecto Teares na SIC

Aceito sugestões sobre como aceder e partilhar só a peça respeitante ao nosso projecto, em vez de partilhar toda a segunda parte do Primeiro Jornal da SIC.

Da nossa parte, o processo de documentação do projecto está praticamente concluído, pelo que haverá mais informação em breve (áudio, fotos e vídeo).

Um abraço especial ao Albrecht Loops, por ter tornado esta reportagem possível.

Categorias
portugal

Volteface

Volteface no caso Maddie McCannA propósito do caso Maddie e da reacção nacional e internacional à autêntica montanha-russa em que todo o caso se transformou já se disse quase tudo. Desde as intervenções mais esotéricas de pseudo-psicólogos capazes de ler uma culpa específica nas caras que aparecem nas televisões, à indignação de quem investiu horas na justa luta por encontrar a criança e se sente traído pelos acontecimentos, aos episódios trágico-cómicos de luta entre órgãos de imprensa  ou as intervenções acabrunhantes de supostos especialistas (sim, estou a pensar no Barra da Costa)…

Esta imagem, no entanto pareceu-me uma boa síntese do estado de espírito comunitário: no café onde vou diariamente, desde o início do caso que estava afixado um apelo para que ajudássemos a encontrar a Maddie, impresso a partir duma notícia do Diário Digital, com uma fotografia da criança inglesa numa folha rosa, com intenção carinhosa e chamativa.

Após o “volteface” recente, sem retirar o apelo, os donos do café acrescentaram uma tira bem ao jeito “jornalismo-choque” do 24 Horas, com a fotografia da mãe e da filha e a “Suspeita da Morte da Própria Filha” como título…

A sobreposição destes dois documentos conta uma história e é um reflexo do estado de espírito dos donos do café que estão alinhados com o estado de espírito geral. O que é interessante é que, se pensarmos bem, apesar de todas as tentativas maniqueístas de alguma imprensa para reduzir um caso deste dramatismo e complexidade a um sistema dual, facilmente descodificável ou traduzido num sistema de Preto-e-Branco, Bem-e-Mal, Certo-e-Errado, parece que resiste um espaço no interior emocional das pessoas que percebe que não há, neste momento, nenhum desfecho capaz de satisfazer o nosso quintessencial desejo de paz de espírito e tranquilidade. E muito menos capaz de satisfazer a voracidade dos lobos mediáticos, por muito diversificada que seja a sua dieta.