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Descentralização cultural

A agenda de concertos do Space Ensemble ilustra bem, na minha singela opinião, o esforço que vamos fazendo para fazer circular as nossas propostas um pouco por todo o país. Há regiões mais favorecidas do que outras, é verdade, mas já estivemos em muitas salas de espectáculos, das melhores às mais… sui generis. 😉

Mas no início de Novembro, o Space Ensemble procede a uma verdadeira proeza no que à descentralização cultural diz respeito:

Space Ensemble no CCB

É verdade, vamos levar os nossos filmes-concerto— AlgoRítmico, Música e Matemática e Filmes da Terra do Pai Natal— ao Centro Cultural de Belém, no âmbito de uma colaboração da Fábrica das Artes, do CCB, com o Festival Temps d’Images 2011.

3, 4 e 5 de Novembro serão portanto as datas à disposição do público de Lisboa para conhecer este nosso trabalho. Como nos dizem que em Lisboa vive bastante gente e que os indicadores relativos aos consumos culturais são um pouco diferentes do resto do país, estamos bastante entusiasmados com mais esta possibilidade de descentralização.

Mais informação nos links que se seguem:

Se, por acaso, conhecerem pessoas em Lisboa que possam estar interessadas nesta informação e que, por uma razão ou por outra, possam não a encontrar facilmente, agradecemos que nos ajudem a divulgar.

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O Hot Clube de Portugal ardeu. Que vamos fazer?

Como muitos de vocês já saberão (aos outros peço desculpa por ser portador de más notícias), o edifício na Praça da Alegria onde se situava o Hot Clube de Portugal sofreu um grave incêndio hoje de madrugada e, segundo fontes oficiais (Junta de Freguesia, citada pelo Público), dificilmente o prédio poderá vir a ter condições para voltar a albergar o HCP.
Depois do seu 60º aniversário, esta era uma das piores coisas que podia acontecer ao HCP e afecta todos os melómanos e músicos portugueses, em particular os que se sentem próximos do Jazz.
Não faço ideia se e como se organizará um movimento cívico capaz de dar o apoio necessário ao HCP para que planifique e concretize um renascimento depois desta tragédia.
Peço a todos que estejam atentos e que partilhem, dentro do possível, todas as iniciativas de que tiverem conhecimento, para que possamos garantir o máximo apoio e solidariedade.

(mensagem que enviei hoje a vários colegas da Jazz.pt, com conhecimento ao Hot Clube de Portugal)

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Passatempo: descubra a entrada do TNDMII

Quem diria que se podia fazer um passatempo com uma actividade tão banal como esta? Mas, para os não Lisboetas (e, se calhar para alguns lisboetas, também), cá fica o desafio:

Por onde se entra no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa?

Passatempo: descubra a entrada do TNDMII, imagem aérea (Google maps)

Será pela escadaria principal, virada para a Praça D. Pedro IV (Rossio)?

TNDMII, vista do Rossio (fotografia de telemóvel)

Será pela entrada poente, virada para a Estação do Rossio?

TNDMII, vista da Estação do Rossio (fotografia de telemóvel)

Ou será pela entrada nascente, virada para o Largo da Ginjinha?

TNDMII, vista do largo da Ginjinha (fotografia de telemóvel)

Já ajuda dizer que não é pelas traseiras (viradas para o Gambrinus) e deixar as fraquíssimas fotografias. Por isso, para dificultar um bocadinho, fiquem sabendo que na escadaria principal há uma esplanada e uma entrada para a Livraria do Teatro e na entrada poente, um Restaurante.

Quem adivinhar ganha reservas* para o resto da temporada do Visões Úteis.

* Este é um concurso gozão e da minha exclusiva responsabilidade pessoal. As reservas não são nem convites nem bilhetes com desconto. 😉

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Lisboa

Estou em Lisboa.

Quem tiver prestado alguma atenção ao blog nos últimos tempos sabe que é por causa da temporada do Muna no TNDMII e já deve ter percebido que o tempo para escrever aqui no blog não abunda. E mesmo que tivesse tempo, não sei se teria grande energia, confesso. E se tivesse, não devia conseguir fazer coincidir isso tudo com um momento em que tivesse acesso à Internet.*

(Além disso, as saudades fazem-me passar mais tempo ao telefone e menos no computador.)

Obviamente que não é a primeira vez que estou em Lisboa, nem sequer é a primeira vez que por aqui estou em trabalho. Mas é a primeira vez que estou de forma mais prolongada e com a sensação de que, temporariamente, é aqui que tenho que “morar”. E é mais estranho do que esperava. O meu instinto natural, relativamente inconfessável, faz-me sentir mais “tripeiro” quando estou em Lisboa, o que tem a sua “graça” quando venho num fim-de-semana ou para dar um concerto, mas, ao fim de vários dias, começa a fazer-me pensar de onde me vem esta reacção “intestina”.
Talvez tenha a ver com o facto de, em Lisboa, me sentir sempre relativamente “estrangeiro”. Não pela estranheza do território ou das pessoas e da sua diversidade, mas pela escala (ter mudado do Porto para Aveiro talvez acentue a minha dificuldade em lidar com cidades maiores) e pela sensação de ter muito pouco em comum com as pessoas à minha volta.

Hoje, depois da estreia do espectáculo para a infância, durante um belo almoço no FrutAlmeidas (os pastéis de massa tenra e os sumos de fruta são tão bons ou melhores do que a minha irmã vinha anunciando), consegui verbalizar melhor esta forma de “estranheza” ou “desconforto”: sinto nitidamente que há muito poucos assuntos da minha “agenda cívica” que sejam comuns à maior parte dos lisboetas. E vice-versa. As questões que mais me preocupam, no meu quotidiano em Aveiro e no Porto, são absoluta e naturalmente estranhas aos lisboetas. E aceito com naturalidade que o contrário é absolutamente real. Mesmo assuntos genéricos e preocupações “nacionais” têm que ser verbalizados e ilustrados de forma diferente. E não é natural que haja acordo acerca do que são as nossas prioridades.

Pode parecer ridículo falar-se de forma tão “radical” acerca de diferenças e assimetrias locais e regionais num rectângulo tão pequeno como este, e só com 10 milhões de pessoas. Mas aqui, à minha volta, se é verdade que estão concentradas quase metade dessas pessoas, também é verdade que está concentrado muito mais de metade do poder político e económico. E é isso que é desconfortável: sentir que a esmagadora maioria das decisões que afectam o meu quotidiano é tomada por gente que lhe é completa e naturalmente alheia. E se me pedirem para eleger um assunto tipicamente “lisboeta” que afecta todo o território nacional, é fácil: a suburbanidade. Eu não conheço território suburbano fora da região de Lisboa e Vale do Tejo. A discussão técnica não é fácil, mas eu partilho da visão de alguns geógrafos e urbanistas que consideram que o espaço urbano contínuo entre Aveiro e Viana do Castelo, constitui um fenómeno de conurbação, onde múltiplos pólos urbanos se intersectam e promovem cruzamentos de pessoas, serviços e mercadorias, sem uma hierarquia clara que permita falar de urbes e subúrbios. Além disso, uma parte significativa das cidades portuguesas não chega a ser propriamente “urbana”, pelo que não faz sentido falar de “suburbanidade”. Ou, numa visão mais distanciada, poder-se-ia dizer que todo o país é sub-urbano, relativamente à região da capital, onde existe uma cultura urbana e suburbana real, que no resto do país ainda se cruza muito com uma raíz profundamente rural. Este problema de desenvolvimento, gestão e planeamento territorial marca de forma profunda a agenda nacional, mas devia reconhecer-se a sua natureza específica. E aceitar com naturalidade que a simples diferença de escala e de modelo de desenvolvimento urbano traça fronteiras no país, que não se podem ignorar.

Devia ser simples, não?

Mas pergunto-me (e a vocês, que me lêem, já agora) se, da mesma forma que me ajudou estar nesta condição de “estrangeiro” para me pôr a pensar nisto (outra vez), não precisaremos todos de conhecer melhor o país todo, partindo, sempre que possível, dessa condição de “estrangeiro” que resulta, necessariamente, duma certa disponibilidade para nos alhearmos do que já julgamos saber. Será esse exercício possível?

* Aceito sugestões de locais agradáveis na vizinhança do D. Maria (Rossio) ou perto da estação de Metro da Av. de Roma (onde estou alojado) com acesso rápido e gratuito (wireless, preferencialmente) e onde se possa trabalhar. Tem mesmo que ser um sítio simpático, porque preciso de uma tomada, já que a bateria do meu velhinho portátil não colabora.

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Visões Úteis: Outubro em Lisboa

Visões Úteis, logotipoComo continua a ser verdade que, neste país provinciano e parolo, muitas decisões estão nas mãos de gente que, sem pensar, sente que “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”, este mês de Outubro, em que o Visões Úteis volta a pisar palcos da capital, é estranhamente importante:

Os espectáculos em Lisboa, envolvem-me “fisicamente”, um pouco para lá dos limites do estritamente necessário para assegurar a bandas sonora e sonoplastia.

Gosto de fazer O Contrabaixo e assumir a condição de “músico em cena”. O texto do Süskind é brutal (e um músico percebe isso um bocadinho melhor) e agrada-me a simplicidade, a portabilidade e a eficácia da encenação, além de não me deixar de surpreender com a interpretação do Pedro. E um espectáculo de teatro que tanto se faz em bares, como em auditórios (como em estações de metro), sem perder a eficácia, é, por definição, um espectáculo “forte”.

O Contrabaixo, imagem de Paulo Pimenta

Já o Muna, é “outro campeonato”: no que exige de cada um de nós, criadores, intérpretes e técnicos; no que exige do espaço; no que exige do(s) público(s)… ficará seguramente na História do Visões Úteis e, havendo alguma justiça, ficaria noutras Histórias, mais globais.

Muna, ilustração de Júlio Vanzeler

Na minha, como músico e sonoplasta, como inventor e construtor de instrumentos, como performer e como pessoa (e pai) fica certamente. E o esforço de adaptar o espectáculo à sala-estúdio do TNDMII está também a revelar-se digno de antologia, mas é sempre preciso sofrer qualquer coisa pela “Arte”. 🙂

Dos nossos amigos e conhecidos na capital, espera-se algum apoio: pela presença e por algum apoio na divulgação. Obrigado.

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F.R.I.C.S. na Fábrica Braço de Prata

A Fanfarra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa, no estrito cumprimento da difícil missão que é a Capitais de Distrito Por Ordem Alfabética Tour, chega finalmente à capital. Será o nosso segundo concerto em Lisboa, de facto, mas o do Remade in Portugal não contava para a “tour”.

Fanfarra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa - F.R.I.C.S.Assim, a missão cumpre-se na Fábrica Braço de Prata, que tanto me interessa conhecer, e contamos com a presença de todos os nossos amigos, conhecidos e cúmplices da capital.

Já agora, se puderem, ajudem a divulgar.

Abraço Vivo!

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F.R.I.C.S. @ Remade in Portugal

Remade in PortugalComeçou a 28 de Setembro e prolonga-se até 5 de Outubro o primeiro grande evento dedicado ao Eco-Design organizado no nosso país: o Remade in Portugal é a primeira Exposição de Internacional de Design Ecológico e está na Estufa Fria em Lisboa.

O evento, pela forma como se apresenta e pelos nomes destacados causa-me enorme desconfiança, devo dizê-lo. Por isso mesmo, vai ser um gosto estar lá a tocar, amanhã às 18h30, com a já quase omnipresente Fanfarra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa.

Sim, será o primeiro concerto do colectivo F.R.I.C.S. na Capital do Império e adensam-se as dúvidas sobre a resistência da sua mítica flexibilidade cosmopolita à nossa pura força psicadélica.

Vejam o que aconteceu ao “Allgarve” depois da nossa passagem e ponderem sobre onde quererão estar amanhã. 😉

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Declaração de voto

Peço desculpa a todos aqueles que estão neste momento a utilizar o seu dia de reflexão, mas não posso deixar de dizer que, se votasse em Lisboa, votava no José Carlos Fernandes. E não porque sou simpatizante do Bloco de Esquerda, mas porque o “Zé” cumpriu corajosamente com os seus compromissos, é frontal e sério, tentou com todas as suas energias fazer desta campanha um momento útil para a cidade, apesar de todos os ataques baixos a que foi sujeito, fala do que sabe e conhece a fundo as coisas que são verdadeiramente importantes.

Cartaz Zé Sá Fernandes

Mas estas eleições têm candidatos para todos os gostos:

  • há o António Costa, para os que sofrem de partidarite crónica (variante PS) e para os que acham que pode haver vantagem numa coligação de interesses entre a Câmara Municipal da capital e o governo do país, acreditando que a cidade pode ter alguma vantagem, nisso, ou seja, sendo suficientemente ingénuo para acreditar no que diz um alto dirigente deste Partido Socialista;
  • há o Fernando Negrão, para os que sofrem de partidarite crónica (variante PSD) e não se importam de ter um presidente que não distingue as empresas municipais e os Institutos do Estado e para os que acham que o voto autárquico nestas condições tem leitura na análise da dinâmica do centrão, ou para os que esqueceram que o Carmona Rodrigues era o candidato do Marques Mendes até cair em desgraça;
  • há o Telmo Correia, para os que sofrem de partidarite crónica (variante CDS-PP) e para os que acham que a segurança é mesmo um assunto quente especialmente na altura das eleições e que com video-vigilância se vai lá e para os que acham que o CDS do Portas (o que ficava) merece tanta ou mais confiança do que o do Ribeiro e Castro, que ainda conseguiu a eleição da Maria José Nogueira Pinto— cobiçada por todos para a reabilitação da Baixa-Chiado não fossem os chatos da esquerda a lembrar os problemas do modelo de financiamento e de gestão de tráfego e estacionamento e os da direita não a poderem reclamar para si…;
  • há o Ruben de Carvalho, para os que sofrem de partidarite crónica (variante PCP / CDU) e para os que ainda sentem conforto com a reputação de trabalho e confiança dos autarcas da CDU e ainda não se aperceberam bem que quem inventou as empresas municipais foi a própria CDU, não exactamente para serem o forróbódó que têm sido, mas para serem um espaço de empregabilidade mais flexível para clientelas partidárias e boas alavancas para o poder dos autarcas minoritários da CDU o que faz deles reféns, volta e meia (remember Rui Sá?);
  • há o Carmona Rodrigues, para quem anda de tal forma desfasado da realidade que não percebeu sequer porque é que vai haver eleições e só sabe é que foi bem simpático receber a visita do senhor presidente lá no Bairro que ainda por cima trouxe o Toi à festa da Associação… o Carmona também é uma boa escolha para os adeptos de teorias de conspiração esquisitas e que tenham um ódio de estimação aos partidos e ao “sistema” e que acreditem piamente que ele foi “tramado pelo sistema partidário”, em particular pelo chato do Zé Sá Fernandes do Berloque que fez tudo e mais alguma coisa para fazer a vida negra ao Executivo com pedidos de transparência e fiscalização (vê-se logo que esse “Zé” não percebe nada da alma dos negócios);
  • há o Manuel Monteiro, para os liberais mais hardcore que acham que é boa ideia acabar com as empresas municipais apenas para conceder a privados a prestação dos serviços essenciais ou confiar no mercado para conduzir a reabilitação urbana;
  • há o Garcia Pereira, para quem ainda compreenda o discurso do PCTP-MRPP e para quem ache razoável que os problemas financeiros da cidade e os investimentos infra-estruturais necessários sejam assegurados pelo Estado, sob a justificação abrangente de que os investimentos necessários para criar uma cidade capital digna em conforto, qualidade de vida, progresso, cultura e dinamismo económico deve ser um esforço nacional;
  • há o Pedro Quartin Graça para quem perceba essa coisa da ecologia humanista e para quem queira investir o seu voto numa visão parcial e especializada da vida política, da qual emanam propostas ingénuas como a transferência de fundos das portagens da Brisa ou o pagamento de indemnizações à cidade pelos atrasos nas obras do Metro e outras, por causa dos estaleiros;
  • há o Gonçalo da Câmara Pereira, para os monárquicos boémios e para outro tipo de anarcas que ache razoável a apresentação de candidaturas de indignação e protest protagonizadas por pessoas que, acerca da reabilitação urbana dizem que “Lisboa é tão bonita como está… não lhe façam nada”;
  • há o José Pinto-Coelho para os fascistas pouco inteligentes e exigentes e para quem acha que é mesmo boa ideia extinguir a PSP e a GNR para, em vez desses dois corpos, constituir um único corpo policial militarizado… e para quem seja capaz de ouvir com gosto a repetição doentia do soundbyte contra o “sistema”, os partidos, os homens do sistema e dos partidos e os tachos, sem que nenhum passo seja dado fora deste círculo confortável, demagógico e populista, com medo de perder a atenção do eleitor que é, certamente, considerado burro que nem uma porta;
  • há a Helena Roseta, para quem acredite na força e na importância dos movimentos de cidadãos, para quem goste de ver mulheres decididas, fortes e inteligentes na política, para quem aprecie a competência técnica e a frontalidade política de assumir a necessidade de fazer compromissos para governar com maiorias reais, construídas de acordo com a vontade dos eleitores (eu podia perfeitamente votar nela se não sentisse mais confiança no projecto global do José Sá Fernandes e espero que ela tenha um óptimo resultado);
  • e há o Zé, que faz mesmo falta.

Acima de tudo, o voto de todos os Lisboetas é importante para percebermos melhor que raio de jogo é este que se vai jogar nos próximos tempos no executivo camarário da maior cidade do país. O futuro de Lisboa dirá muito acerca do futuro do país, nomeadamente no que diz respeito ao tipo de coligações de interesses que surgirem e no papel que a candidatura de Carmona Rodrigues venha a ter na dança de cadeiras.

Muito se vai ficar a saber acerca da seriedade real de cada um dos intervenientes dessa dança.