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Aveiro Jovem Criador 2009

Foi hoje a sessão de entrega de prémios e a inauguração da mostra relativa ao concurso Aveiro Jovem Criador 2009. No ano passado, fui convidado a integrar o júri da área de Artes Digitais e a experiência teve os seus altos e baixos (o workshop de Pure Data proposto na altura não se chegou a realizar por falta de interessados, que acabaram por se reunir em Águeda, na d’Orfeu). Este ano, apesar de manter as minhas reservas quanto a concursos deste tipo que exigem anonimato, decidi experimentar o processo do lado dos concorrentes, por razões várias, que vão da oportunidade ao risco. Submeti ao júri uma instalação interactiva, a que dei o nome de Public Piano #0909, e que resultou da junção dum par de ideias que me interessava testar no contexto da criação das “Criaturas“: trata-se dum patch relativamente simples, em Pure Data + GEM que

  1. recolhe e analisa o som ambiente, convertendo-o em sinal MIDI, usado para tocar um piano sintetizado
  2. capta a imagem do público e espelha-a no monitor, alterando o espaço de cor e a opacidade de acordo com a frequência e amplitude do som ambiente

A instalação apresenta-se de forma simples, como uma mistura de jogo e setup performativo, com uma estante de música virada para o monitor-espelho, montado num plinto, à altura do olhar. O microfone está colocado de forma visível junto à estante e virado para o público e, sobre a estante e o plinto, vários objectos (um metrónomo, uma caixa de música de manivela, um martelo de São João, entre outros) complementam o desafio do jogo, impresso na superfície da estante:

Imagina que isto é um jogo. Ou imagina que é um instrumento musical: um piano para todos, tocado de qualquer maneira. Usa o teu corpo e a tua voz ou os objectos disponíveis. Experimenta novos objectos e, se quiseres e puderes, oferece novos objectos à instalação, depositando-os na estante ou no chão. Aqui não há intérpretes e audiência: todos somos tudo. Limita-te a participar.

O patch está programado de tal forma que a sensibilidade (a amplitude mínima para gerar reacção) e a espontaneidade (o tempo entre a acção no ambiente e a reacção do sistema) variam de forma pendular, algo aleatória entre valores pré-determinados, por forma a que, ao longo do tempo, as condições do jogo se vão alterando. Contribui também para essa ideia de imprevisibilidade o facto do som produzido pelo sistema integrar o próprio som ambiente e, assim, realimentar a cadeia de processamento— problema técnico que resolvi, aplicando uma operação de divisão da frequência e amplitude em cada ciclo, que dá origem a uma espécie de delay com pitch shifter ou arpeggiator e impede loops infinitos. A ideia é que, a cada momento, o som produzido possa ser imediatamente identificado como reacção a estímulos acústicos exteriores ou seja completamente imperceptível essa relação, dada a quantidade de material residual ainda em processo e que, na alternância entre esses dois estados, resulte um objecto orgânico e vivo. A imagem pretende apenas funcionar como espelho-simbólico, reagindo às condições acústicas, mas, acima de tudo, projectando a imagem do público-performer, confrontando-nos com a nossa actual condição de criadores obsessivos.
Ao criar esta peça não conhecia ainda o conceito do RjDj, mas, de certa forma, foi sobre ideias semelhantes e com as mesmas ferramentas que trabalhei. 😉

No processo de submissão da obra, juntamente com um registo vídeo pouco eficaz, em parte devido à limitação do anonimato que me obrigou a um registo muito parcial e limitado da instalação em uso, entreguei a seguinte Explicação de Processos e Argumentação:

Explicação de Processos
Public Piano #0909 é uma instalação intermédia que capta o som e a imagem produzidas no espaço expositivo e devolvem-nos, em forma híbrida de “piano de imitação” e “vídeo-espelho manipulado”. Usando o Pure Data e GEM, os parâmetros do som são analisados em tempo real e convertidos em sinal MIDI para accionar um piano sintético e, simultaneamente, para definir as alterações cromáticas no “vídeo-espelho”.
O público é, simultaneamente, performer.

Argumentação
Numa era de democratização dos meios de criação e produção artísticas e em que todos pretendemos ser mais do que meros espectadores-receptores, Public Piano #0909 apresenta-se como um resultado natural do encontro entre o video-jogo, o instrumento musical virtual e um espelho, símbolo do nosso crescente egoísmo. Se o aparato tecnológico remete para o universo das consolas, os objectos disponíveis convidam à experimentação e fruição acústicas.

O vídeo em causa, era este:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Wlq8rD9yYcw[/youtube]

O júri pediu para ser montada uma demonstração da instalação na Casa da Juventude, de acordo com sugestão da minha parte no momento da candidatura e em total respeito pelo regulamento e pelas normas relativas ao anonimato e teve, assim, acesso à montagem possível, dadas as limitações de espaço, tempo e recursos durante uma das suas reuniões.

A peça foi seleccionada para integrar a mostra, mas o júri decidiu não atribuir quaisquer prémios ou menções honrosas na área de Artes Digitais, na edição deste ano. A experiência de integrar o júri do ano passado ajuda-me a compreender a dificuldade destas decisões e a respeitá-las. Estivesse eu no lugar do júri e, provavelmente, não consideraria a minha peça digna de prémio ou menção honrosa, pela forma como foi apresentada e até por alguns aspectos da sua realização. Mas a experiência de preparar esta candidatura, este ano, mostrou-me de forma bem mais evidente, as fragilidades deste concurso, na área específica de Artes Digitais. Tenho pena que algumas das questões levantadas no ano passado não tenham ainda sido objecto de reflexão para o regulamento deste ano. Entristece-me saber que algumas obras interessantes foram desclassificadas, de novo, pelo problema da sua identificação e compreendi bem algumas dificuldades que se colocam aos concorrentes para apresentar as obras no seu melhor estado, sem as identificar. Espero que a regra do anonimato, que já não existe na área da Pintura, por exemplo, possa cair em todas as áreas. E, acima de tudo, espero que as limitações técnicas das obras a concurso na área de Artes Digitais sejam explicitadas com a clareza que se vê na Escultura, por exemplo (extraordinário o trabalho vencedor nesta categoria, já agora). Com uma descrição dos recursos técnicos disponíveis e das limitações existentes na mostra (projecção, computadores, monitores, sistemas de som, espaço expositivo, isolamento, iluminação) e a possibilidade de montagem prévia das obras, nos casos em que se justifique, para apreciação pelo júri, em local adequado e/ou com imposições claras relacionadas com a natureza da mostra, o trabalho dos concorrentes é facilitado. Eu, pessoalmente, arrependo-me de ter produzido sistematicamente versões e apresentações da proposta a pensar em eventuais limitações técnicas finais e usando apenas material que poderia ceder para a mostra (condição que acabou por se verificar), quando algumas experiências de montagem com mais meios me mostraram um objecto artístico muito mais bem conseguido, completo, compreensível, envolvente e impactante. Reduzi nos meios usados em função do que me parecia ser possível para a mostra e, com isso prejudiquei a “obra”. Mas a verdade é que a montagem final, na mostra, depende de facto do meu material e é uma versão “modesta”, na qual, entre outras coisas, os responsáveis pela organização não podem garantir som contínuo e/ou a alternativa de auscultadores que sugeri: na inauguração de hoje, por exemplo, várias pessoas pararam em frente à instalação, usando os objectos e esperando reacção que não existia, já que o som estava cortado, por causa duma intervenção musical a ocorrer no mesmo espaço.

Há muito caminho a fazer.
Pessoalmente, espero pegar neste objecto e apostar na versão mais ambiciosa, com meios mais capazes, quer em termos de captação de vídeo e áudio, quer em termos de difusão e ocupação de espaço. Espero encontrar o local e os parceiros necessários para, pelo menos, uma montagem e demonstração pública para efeitos de registo.

Entretanto, aconselho a visita à exposição, na Casa Municipal da Cultura Fernando Távora, aqui em Aveiro (em frente aos Paços do Concelho). Se o meu Public Piano #0909 estiver mudo, peçam a alguém para o ligar e avisem-me.

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Criaturas, excertos das projecções

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=AsW60KgdAsg[/youtube]

Porque o registo vídeo anterior não permite perceber minimamente a projecção, decidi fazer esta pequena montagem, com excertos das animações em tempo real geradas por Pure Data + GEM, com alguns elementos áudio da performance de estreia.

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Criaturas @ TA, um registo possível

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=UrdCRECDEMo[/youtube]

Nem o som, nem a imagem estão brilhantes, mas, para já, é o registo possível. Também no Vimeo, no Facebook e no MySpace.

Uma pequena experiência de “cross-posting” para ver qual das plataformas gera mais feedback.

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(ainda que não o diga frequentemente) as tuas criaturas povoam os meus sonhos

Apresenta-se hoje, dia 5 de Novembro, quinta-feira, às 22h00, na Sala Estúdio do Teatro Aveirense, a minha mais recente criação, com o longo título

(ainda que não o diga frequentemente) as tuas criaturas povoam os meus sonhos

Esta obra resulta dum convite dirigido pelo Teatro Aveirense para que apresentasse uma nova criação no âmbito do CANT – Ciclo Arte e Novas Tecnologias e foi desenvolvida, na sua fase final, em residência, o que apresenta claras vantagens para um projecto desta natureza.
Este é um projecto muito mais “pessoal” do que qualquer outro que tenha realizado até agora, pelo que, por agora, falta-me um distanciamento mínimo para saber se resulta. Cabe ao público essa função, como sempre.

Imagem de divulgação das "criaturas"

Sinopse

Alguns dos sonhos mais extraordinários e marcantes são aqueles cuja verosimilhança nos deixa num estado confuso; sonhos que estão de tal forma contaminados de realidade e familiaridade que chegam a integrar as nossas memórias reais, até serem denunciados por um ou outro pormenor.

Nesses sonhos é frequente encontrar solução para problemas que nos afligem, ainda que ou a solução ou o problema pertençam, por vezes, apenas ao universo peculiar dos sonhos, faltando-lhes qualquer aplicação prática.

O poder sugestivo, quase hipnótico, da verosimilhança e da familiaridade cria também alguns dos mais intensos e assustadores pesadelos, mas nestes nota-se, com mais facilidade, que no universo dos sonhos estas sensações podem estar associadas não a elementos ou representações da realidade, mas apenas a sensações ou imagens que integram desde cedo um determinado vocabulário onírico. Elementos com os quais sonhamos frequentemente- sejam sensações, personagens ou imagens…- podem, paradoxalmente, deixar de denunciar a situação-sonho, já que se encontram no seu universo natural e, por isso, são verosímeis no contexto: verdadeiros porque completamente imaginados, como diria Boris Vian.

O que define a fronteira entre o sonho e a realidade e a forma como nos debatemos para a transgredir é o tema central da obra que se estreia no Teatro Aveirense: “(ainda que não o diga frequentemente) as tuas criaturas povoam os meus sonhos“, assim como uma pergunta recorrente: “tens mais medo do escuro ou do silêncio?“.

Som, imagem e palavras, situações e bandas sonoras e visuais recuperadas de fragmentos de sonho, pesadelo e realidade são apresentadas e propostas ao público num convite não à contemplação ou voyeurismo onírico, nem ao devaneio surrealista, mas como exercício colectivo de reconstrução das sensações individuais das viagens de e para o sonho.

Sobre o processo de criação:

A obra a apresentar intitula-se “(ainda que não o diga frequentemente) as tuas criaturas povoam os meus sonhos” e já teve duas apresentações como work-in-progress, em que explorei um trecho da obra que envolve processamento de saxofone baixo em tempo real associado a uma simples experiência de privação sensorial (a obra apresenta-se em escuro absoluto).

A experiência pretende explorar as sensações e os momentos em que o sonho se deixa contaminar pela realidade e nos faz acordar confusos pela aparente estranheza do que nos é(era) familiar. As motivações originais são os instrumentos que toco, uns familiares e outros muito estranhos e a forma como construo grande parte da minha música, por um lado e a relação que estabeleço entre isso e ilustrações que fazem parte do meu imaginário de criança.

O primeiro estudo-apresentação que mereceu esta designação e que iniciou o processo, apresentava-se assim:

Este estudo é a primeira apresentação (identificada como tal) dum work-in-progress, que conta já com alguns anos de existência / insistência: a procura e reprodução de sons sugeridos por criaturas nascidas em ilustrações familiares.
Essas criaturas, através dos novos instrumentos que “geraram” e das novas técnicas que me “ensinaram”, povoam a minha criação musical dos últimos 10 anos, sem exigir nada em troca. Ao preparar um momento de reconhecimento e retribuição, o plano de estudos prevê a apresentação pontual de algumas dessas criaturas, intercaladas com momentos de mais descoberta e diálogo.

Foi no Cinema Passos Manuel, no Porto, no contexto do Projecto Tell que propunha performances no escuro absoluto. Essa experiência foi bastante intensa, quer para mim quer para o público e decidi voltar a repetir esta forma de privação sensorial no AveiroSaxFest, em que fiz uma segunda apresentação, sem escuro absoluto, mas sem que a minha presença fosse visível, também.

Recrutei, entretanto, a colaboração da Cláudia Escaleira, para usar o desenho como instrumento narrativo.

Estes testes serviram para afinar algumas estratégias e, com o feedback de pessoas presentes (músicos e outros criadores, além de público), estou a desenvolver a estratégia global de cruzamento entre os instrumentos convencionais que toco e os que concebo e construo: a MeSA, o Contratear, o Munaciclo, etc.

Alguns destes instrumentos tiveram uma atenção particular em vários projectos e bandas sonoras, mas quero avançar particularmente no campo dos cruzamentos entre instrumentos e na construção duma experiência capaz de submergir completamente o público: som, vídeo, luz, etc.

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Space Ensemble apresenta ALGORÍTMICO

Space Ensemble @ Casa da Música | Sala de Ensaio 1
27 a 30 de Outubro 2009 | 11h00 e 14h30
(sessões reservadas a escolas)
31 de Outubro 2009 | 11h00 e 16h00

ALGORÍTMICO – Música e Matemática
um novo programa do Space Ensemble

[…] Nenhum matemático devia alguma vez esquecer que a matemática, mais do que qualquer outra arte ou ciência, é um jogo juvenil.
G. H. Hardy (1877-1947)

O Space Ensemble encara o desafio de construir um programa de filmes-concerto relacionando Música e Matemática com naturalidade e entusiasmo. Frequentemente referidas como linguagens universais, a relação entre Música e Matemática parece ser uma fonte inesgotável de descoberta e inspiração e o Space Ensemble escolhe uma perspectiva bastante particular:

  • a Música, nosso território “nativo”, é uma linguagem universal por ser, com o movimento, condição prévia de comunicação, socialização e, assim, humanidade— une todos os seres humanos no que há de mais elementar e instintivo;
  • a Matemática, base do conhecimento, como ciência e aprendizagem, é também universal, por operar como uma poderosa ferramenta de modelação e manipulação da realidade (esta e todas as outras) e, assim, se constituir também como mecanismo de tradução e conversão entre virtualmente todos os domínios humanos— congrega e articula todas as formas de conhecimento e criação.

Assim, mais do que relacionar Música e Matemática, procuramos usar a universalidade da expressão musical como forma de ilustrar a extraordinária potência da ciência matemática na construção de relações: construímos música a partir de números, em jogos com o público ou com filmes, musicamos as composições geométricas animadas de Norman McClaren e René Jodoin e invertemos o processo, criando novas animações, que traduzem, em tempo real, a música produzida.

AlgoRítmico é um jogo juvenil, como a própria Matemática, segundo Hardy. Um jogo de sons e imagens, com regras matemáticas, como o mundo.

História de Palavras

Algoritmo e Algarismo têm a mesma origem etimológica: al-Khuwarizmi era um matemático árabe do séc. IX e não é comum que palavras tão importantes e de uso científico tenham origem no nome duma pessoa.

Na origem da palavra algoritmo também participa o grego para número: arithmós (donde vem a Aritmética).

Arithmós é número, em grego, e significa número e quantidade e Rhuthmós é ritmo, em grego, e significa medida, cadência e ritmo.
Portanto, o rhuthmós, a medida, pode ser representada por arithmós, quantidades. Giro, não é?

Daqui, temos a Aritmética, o Algarismo, o Algoritmo, o Ritmo e…

Matemática vem também do grego mathematikê ou mathêmatikós, que junta máthêma ou mathêmatos (estudo, ciência, conhecimento), que vem de manthánô (estudar, aprender), com -ica, um sufixo grego especialmente usado no domínio das artes, ciências, técnicas, doutrinas e afins, fazendo da Matemática a ciência fundamental, por se construir com base etimológica na própria ideia da aprendizagem e construção do conhecimento.

Se pensarmos que a Música (mosoikê) é, etimologicamente, também, a Arte das Musas, ou seja a Arte das Artes… temos uma espécie de “ciclo virtuoso“, em vez de “ciclo vicioso“.

Isto tudo dá o quê? Dá AlgoRítmico.

Space Ensemble: Sérgio Bastos (piano), Henrique Fernandes (contrabaixo), João Tiago Fernandes (percussão), Nuno Ferros (electrónicas), João Martins (saxofones), Eleonor Picas (harpa).

Programação Pure Data [pd~]: João Martins
Ilustrações: João Tiago Fernandes

Filmes de René Jodoin e Norman McClaren cedidos pelo National Film Board (Canadá).
Produção do Serviço Educativo da Casa da Música.

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Aveiro Jovem Criador ’08

Jovem Criador Aveiro, Exposição de 4 de Outubro a 2 de Novembro

A mostra dos trabalhos seleccionados e premiados no Concurso Aveiro Jovem Criador ’08 acontece de 4 de Outubro a 2 de Novembro na Galeria dos Paços do Concelho e no Salão Nobre da Casa Municipal da Cultura, aqui em Aveiro. Colaborei na selecção, avaliação e atribuição do prémio na área de Artes Digitais, na minha primeira experiência como membro de júri e foi uma experiência interessante. Como durante esse processo se levantaram algumas questões pertinentes sobre processos e ferramentas de criação nesta área das “Artes Digitais”— sejam elas o que forem—, fui desafiado a organizar um workshop e aceitei. Assim, no último fim-de-semana da exposição (31 de Outubro e 1 de Novembro), oriento um Workshop de Introdução ao Pure Data. São só 8 horas e os objectivos são, acima de tudo, apresentar o Pure Data e manipular os seus conceitos fundamentais, na expectativa de aumentar a massa crítica de utilizadores a contribuir para a comunidade.

Farei os meus melhores esforços para que quem decidir participar possa passar pelo processo de construir “patches” e fique capaz de:

  • compreender os conceitos básicos de algoritmia e programação por objectos para estruturar, planificar e implementar “patches” personalizados
  • criar osciladores e modular frequência e amplitude (com controladores MIDI externos e outros osciladores)
  • criar um audio player, básico (com controlo MIDI externo)
  • criar um video player, básico (com controlo MIDI externo)
  • interligar dados de áudio, MIDI e vídeo
  • usar matrizes de dados e visualizar gráficos para representação de som

O cumprimento destes objectivos e/ou a sua superação, dependerá de quem se inscrever, mas o Workshop será sempre apenas introdutório. Veremos os resultados.

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Pi Day: DIY celebration | Dia do Pi: celebração Faça-Você-Mesmo

[english version below – please scroll]

Pi Day CountdownO Dia do Pi celebra-se em todo o mundo a 14 de Março (3.14 no formato amerciano de datas) e há imensas razões para celebrar esta entidade matemática extraordinária. E há também muitas formas de o fazer.

No último episódio do podcast mostrei uma experiência musical feita a partir do Pi, recorrendo ao Pure Data e prometi explicações também em português e a disponibilização do patch. Cá está: diadopi-final.zip simplificado e comentado em português.

Mas, primeiro, as explicações que tinha dado só em inglês.

2 professoras de Matemática (a minha mãe e uma colega) pediram-me para conceber alguma forma de representação musical de Pi para ser usada no Dia do Pi em escolas do básico. Usei, obviamente, o Pure Data para fazer várias experiências.

Usei alguns princípios simples.
Como Pi é uma dízima infinita não periódica, a sequência de casas decimais pode ser lida, algarismo a algarismos e mapeada para que cada algarismo corresponda a uma nota musical. Teríamos assim uma escala de 10 notas que o Pure Data pode “tocar” lendo os algarismos como uma partitura.

Se escolhermos uma sequência longa, como 1 milhão de casas decimais de Pi, e a passarmos por qualquer sintetizador ou sampler teremos a representação musical ou sonora dessa sequência infinita e não periódica.

Para assegurar algum interesse musical e não “assustar” o público em geral, escolhi mapear os algarismos de acordo com a escala pentatónica maior (as teclas pretas do piano, que produzem uma espécie de escala chinesa), já que esta escala garante uma coesão harmónica grande e a possibilidade de sobrepôr mais do que uma série, sem criar dissonâncias. Como a escala tem 5 notas, usei-a estendida em 2 oitavas e estabeleci uma pulsação rítmica regular.

Assim, o Pure Data lê o milhão de algarismos de Pi e toca-os, um de cada vez. O mapeamento faz corresponder a cada algarismo uma nota MIDI, que é convertida em frequência (para poder reorganizar a escala em qualquer altura) e torna-se audível através dum sintetizador básico, com modulação de amplitude e de frequência, com um ligeiro ar de percussão metálica. Adiciona-se a isso um envelope ASR e um gerador de ruído para dar alguma cor e a base está feita. Esta é a sequência mais rápida que se ouve na faixa do podcast. Mas houve-se igualmente uma segunda sequência, ou voz, mais lenta. Acrescentei isso para testar alguma variação, por isso uso a mesma sequência e mapeamento, mas a um ritmo 4 vezes mais lento e com uma forma de onda mais simples. A escolha da pentatónica torna tudo mais fácil e o resultado final tem um efeito de “escala/dimensão” que também tem interesse no contexto Matemático: usando diferentes abordagens podemos encontrar “escondidos” na sequência de algarismos, variadíssimos “significados” (nomes, números de telefone e BI) como se demonstra no Atractor.

O resultado em qualquer uma das fases tem o seu interesse e quem quiser experimentar tem todo o meu apoio.

No podcast há umas “suspensões” a cada minuto que resultam de variações introduzidas por outros factores, para mostrar algumas das possibilidades do patch.

E, como tinha anunciado, o meu patch Pi Day Pure Data está disponível para quem quiser usar. Podem descarregá-lo aqui: Dia do Pi: Pure Data patch

É uma versão simplificada, só com a sequência principal e está comentado em Português. É relativamente fácil de usar (fiz o teste com a minha mãe) e permite a representação audível e visível do Pi.

Para usarem, precisam de:

  1. Descarregar e instalar o Pure Data
    É livre, gratuito e existe para todas as plataformas. Os instaladores são simples. Aconselho a última versão estável do pd-extended (0.39.3 por agora). É só descarregar, descomprimir, abrir o instalador e seguir as instruções.
  2. Descarregar e descomprimir o meu ficheiro diadopi-final.zip para um sítio relevante no vosso computador
    Devem ficar com uma pasta chamada diadopi-final com 4 ficheiros lá dentro (diadopi.pd, pi.txt, fftscope.pd e oscscope.pd)
  3. Abrir o patch diadopi.pd (um duplo click e está)
    Vão ficar com 2 janelas do PD abertas: o patch e a consola. Certifiquem-se de que a opção compute audio está seleccionada na consola.
  4. Seguir os passos do patch (as instruções têm números):
    1. Canto superior esquerdo – clicar em table pi
      Cria uma tabela para receber os valores de Pi. A janela que aparece pode ser fechada ou minimizada.
    2. Clicar em pi resize 1e+06…
      Redimensiona a tabela para albergar 1 milhão de entradas e carrega o ficheiro pi.txt. pi.txt é 1 milhão de casas decimais de Pi, separadas por parágrafos.
    3. Clicar no botão para reinicializar os valores base
      Pode usar este botão em qualquer altura para voltar ao primeiro algarismo da sequência, indpendentemente da sequência estar parada ou em andamento.
    4. No canto inferior direito, uma barra vertical – Controlo do Volume
      Pode alterar o volume em qualquer altura. O = MUTE. 1 = MAX.
    5. Acima de 4 – clicar em pd montra
      Vai abrir uma nova janela onde poderá ver uma representação do que irá acontecer. Cada algarismo “acende” uma luz diferente nos quadrados negros e tem um osciloscópio e o gráfico FFT. Mantenha esta janela visível.
    6. No cimo, ao centro – clicar no quadrado acima de metro
      Vai iniciar a sequência à velocidade base de 176.8 milisegundos para cada nota. A sequência de 1 milão de algarismos demora 48 horas. Pode parar e reiniciar a sequência em qualquer altura clicando neste botão.

Se alguma coisa (ou tudo) fallhar, pode entrar em contacto comigo, através dos comentários.

Se quiser editar alguma coisa, vá ao menu Edit > Edit Mode (ctrl+e) e experimente à vontade. A alteração do tempo (metro), da escala base (notas MIDI), da configuração geomátrica da montra, assim como alguns parâmetros dos 3 osciladores usados deve ser relativamente simples. Se quiser usar este exemplo para se iniciar no Pure Data, fico muito contente. Vá experimentando e familiarize-se com o menu Help.

E, se quiser, pergunte coisas. Eu só responderei ao que souber e puder. 😉

Feliz Dia do P!

— english:

As announced, my Pi Day Pure Data patch is available for anyone to use.
You can download it here: Dia do Pi: Pure Data patch

It’s a slightly simpler version (one sequence only) and it’s commented (Portuguese only, sorry). It’s fairly simple to use (as far as I can tell) and it allows a simultaneous audible and a visible representation of Pi.

To use it, you’ll need:

  1. Download and install Pure Data
    It’s freely available for every platform and the installers are straight-forward. I advise the latest stable release of pd-extended (0.39.3 as of this writing). It should be a matter of downloading, uncompressing, double-clicking an installer and following instructions.
  2. Download and uncompress my zipped file diadopi-final.zip to a convenient location on your computer
    You should have a folder named diadopi-final with 4 files inside (diadopi.pd, pi.txt, fftscope.pd and oscscope.pd)
  3. Open my diadopi.pd patch (double-clicking it should do)
    You’ll have 2 PD windows: the patch and the console. Make sure compute audio is enable in the console window.
  4. Follow the patch steps (look for the numbered instructions):
    1. Upper left corner – click table pi
      Generates a table to receive Pi values and you can close the table window that opens at this time.
    2. Below 1 – click pi resize 1e+06…
      Resizes the table to hold one million entries and loads pi.txt into it. pi.txt is one million digits of Pi, separated by paragraphs.
    3. Below 2 (the square button) – Resets initial values
      You can use this button at any time to go back to the first digit of the sequence, either stopped or playing.
    4. Lower right corner (vertical slider) – Sets volume
      You can change the volume at any time. O = MUTE. 1 = MAX.
    5. Above 4 – click pd montra
      This will open a new window where you will be able to see a simple graphical representation of what’s happening. Digits of Pi light up different squares and you have an oscilloscope and an FFT graph. Keep this window visible.
    6. Up center, click the square button above metro
      This starts the sequence at a default speed of 176.8 milliseconds for each note. It will take 48 hours to complete the sequence of one million digits. You can stop and resume at any time pressing the same button.

If anything (or everything) fails, you can reach me through the comments at this post.

If you want to edit something, you’ll have to go to Edit > Edit Mode (ctrl+e) and you’re free to experiment. Changing default time, musical scales (using MIDI values), the geometrical configuration of montra and some parameters of the 3 oscillators should be fairly simple. If you want to use this example to start to learn Pure Data, I’ll be thrilled. Just play around and get to know the Help section.

And feel free to ask questions. I’ll feel free to answer only when possible. 😉

Happy Pi Day!

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Routine Check: RC#20080305 – Pi Day Variation 1

Pi Day CountdownPi Day is celebrated worldwide every March, 14 (3.14 in American date format) and there are a lot of reasons to celebrate such an amazing mathematical entity. And there are also many ways to celebrate it.

I’ve been asked to design some form of musical representation and/or celebration of Pi to be used at local schools by a couple of Math teachers (my mother and one of her colleagues) and I’ve been doing several experiments with Pure Data (the perfect tool for Math and Music relations).
The basic principles I’m using are simple.
Pi is an irrational number, meaning it will continue infinitely without repeating, so you can read it as a non repeating sequence of all 10 digits (0, 1, 2, 3 , 4, 5 ,6, 7, 8, 9). If you map every digit (0, 1, 2, 3 , 4, 5 ,6, 7, 8, 9) to a specific musical note or sound you can have Pure Data “playing” Pi, simply by reading each digit at a time.
You can choose a long sequence, such as one million digits of Pi and feed it to any sort of synth or sample player and you’ll have a musical or sonic representation of that infinite non repeating sequence.

For the sake of musical interest and not to “scare” general public, I’ve chosen to map each digit to a note on the major pentatonic scale (the “Chinese” effect of playing the black keys of the piano), since it guarantees a certain overall harmony and the possibility of overlapping several series without dissonance. I’ve used a 2 octave range to have all 10 digits matching a different pitch and then I’ve established a pulse to have rhythmic regularity. This way Pure Data fetches the million digits of Pi and plays them, one at a a time. The mapping makes every digit send a MIDI note that gets converted to frequency (this way I can rearrange the scale at any time) and made audible through a simple modular synth, with amplitude and frequency modulation, that might resemble some metallic percussion. A discrete envelope filter and a noise generator to give it some color and the basis is done. That’s the faster sequence you hear on this track, but you’ll also notice a second, slower one. That’s because I wanted to add something, so I’ve added a second layer where Pure Data is also reading and playing Pi, also with the same pitch mapping, but 4 times slower and with a simpler sine wave. The pentatonic comes in handy here, and the end result has a “scaling” effect also relevant in the Mathematical context: if you use different approaches to the “meaning” of the sequence, you can find pretty much anything embedded into it— your name, your phone number, your ID number (check this Portuguese site).

The result at any stage can be interesting, in my opinion, and I’ll be making different variations of the original Pure Data patch available to anyone interested. For this Routine Check podcast episode I’ve decided to take a third period (a more structural thing) and add a small “suspension” every minute or so, and then end it with a slight twist (you’ll have to hear it).

If you want to use this sample in your own Pi Day celebration, feel free (feedback and credits are welcomed). But if you want a “broader” experience, I can send you the Pure Data patch with instructions. You’ll be able to study and alter it, and you’ll have a working example, where the digits show up in sequence, and the apparent patterns are not only audible, but visible.

Special thanks to Miguel Cardoso, for his help with Pure Data and my mother Rosa Amélia Martins, for the mathematical input.

Post-Scriptum: have you noticed that Pi Day and Pure Data share the same initials?

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Routine Check: RC#20080226 – Pure Data sketch

I had to make a big effort to keep up with the weekly routine, so this episode is a bit late.

And it’s a completely different thing, since it’s built entirely over experiences made with Pure Data, after the workshop I attended this past weekend.

Pure Data is an amazing tool and it will take me a long time before I can start making really interesting things, musically, but this Routine Check series is about exercises and sketches, so it seemed right to post this “odd” construction.

You can hear a “chaos machine”, that I started building before the workshop and that “looks” like this:

Pure Data - chaos machine by João Martins

And a simple synth module, with Frequency and Amplitude Modulation and MIDI controls:

Synth module with AM and FM and Midi controls

The possibilities are endless and I have some interesting challenges ahead.

A special thank you goes to Miguel Cardoso, responsible for the workshop at Maus Hábitos.

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arte música tecnologia

Que fim de semana!

O que aprendi este fim-de-semana demorará bastante tempo a digerir e passará sem dúvida a fazer parte das minhas rotinas criativas e dos meus hábitos.

Com tempo, tentarei ir escrevendo acerca das possibilidades que ferramentas como o Max/MSP e o Pure Data apresentam, para as mais variadas aplicações: criativas, pedagógicas, lúdicas…

Mas, para terem uma ideia do entusiasmo com que fiquei, saibam apenas que, mesmo cansado, ao chegar a casa, a primeira coisa que fiz foi pedir ajuda aos conhecimentos matemáticos dos meus pais para desmontar uma simples, mas impressionante função: [mtof] – midi to frequency.

mtof - midi to ferquency: a função em Pure Data e Max/MSP e a sua desmontagem matemática

Porquê?
Porque sim, porque tenho algumas ideias sobre a utilidade de aplicar funções avançadas de normalização nestas conversões e porque será assim, espreitando debaixo do “capô”, que hei-de ir avançando nas “minhas” coisas.

Obrigado ao Miguel Cardoso pelo óptimo trabalho a preparar e dirigir o workshop e ao Maus Hábitos por criar as condições para que ele acontecesse.

Agora só preciso de tempo para apresentar resultados.